Crítica

Como é bom encontrar um exemplar do cinema clássico de Hollywood que entretenha de forma menos séria, sisuda, e ainda assim de forma inteligente. Não que toda a filmografia que abrange as décadas de 1930 e 1960 seja, em outras palavras, chata. Porém, sempre há um ar de glamour que parece em excesso muitas vezes, com exageros melodramáticos em muitos casos. Uma Aventura na África (1951), de John Huston, é um bom exemplar do gênero que remete ao título, com muita ação, comédia e bons personagens.

Durante a Primeira Guerra Mundial, na África, a missionária Rose (Katharine Hepburn) precisa fugir de soldados alemães após ver seu irmão pastor ser morto. Para isso ela precisa compartilhar o African Queen, barco que pertence ao humilde Charlie (Humphrey Bogart). Mas para chegar à civilização, os dois vão precisar enfrentar vários obstáculos, como correntezas, tiroteios e o principal: as diferenças entre os dois.

Baseado no romance de C. S Forrester, o longa de Huston foi sucesso de público e crítica, concorreu ao Oscar nas categorias de Melhor Direção, Atriz, Roteiro e Ator (este último Bogart venceu) além de ter sido recentemente lembrado pelo American Film Institute como um dos melhores filmes de todos os tempos. Méritos realmente não faltam. Apesar de seguir a cartilha do romance (da implicância inicial à empatia que surge após passarem por dificuldades juntos), Huston dirige Bogart e Hepburn, já mestres da atuação por si, conferindo-lhes camadas que vão além dos estereótipos do homem simples e humilde e da mulher fina e cheia de frescuras. Tanto que a transformação que ambos têm durante a viagem deixa-os de igual para igual.

Mas é claro que um filme como Uma Aventura na África não seria metade do que é sem as locações nas florestas do Congo, onde foram realizadas as filmagens. Huston não foca sua câmera nos locais apenas beleza, mas também porque sabe a função que a mata desempenha perante seus protagonistas: um lugar mais perigoso do que os próprios alemães. E quando Rose convence Charlie a atacar um barco inimigo... bom, aí o nível do filme sobe mais ainda, se é que é possível. E equilíbrio é a palavra-chave para constatar que o diretor conseguiu unir cenas de romance e diálogos íntimos com aventura em alta, sem um se sobrepor ao outro.

Não fosse o carisma e a atuação de seus protagonistas, aliados a um diretor mais do que competente, Uma Aventura na África poderia ter sido apenas mais um filme de ação sem alma. Felizmente, a história é outra. Apesar de ser visível o uso de chroma key em certas cenas, as sequências de perigo e perseguição devem muito pouco ao que é feito em filmes de hoje em dia. Definitivamente, um dos melhores do gênero.

 

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *