Crítica
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Crítica
Mais que um documentário sobre o processo de fazer filmes, Viva o Cinema! promove uma interseção capital entre a Sétima Arte e a educação. O diretor Paulo Pastorelo registra as etapas do desenvolvimento de um projeto pedagógico apadrinhado pela Cinemateca Francesa, chamado Le Cinéma, cent ans de jeunesse, que visa, desde 1994, proporcionar vivências nos ambientes da produção cinematográfica a pessoas de 7 a 18 anos. No Brasil, isso ocorreu com alunos da 5º série da Escola Carlitos, de São Paulo. Então, acompanhamos desde os primeiros estágios do contato dos infantes com as ferramentas e a linguagem específicas à realização de filmes. Orientados pelo professor de educação artística e próprio Pastorelo, ele na condição de profissional do ramo, oferecendo suportes técnicos/artísticos, os pequenos diretores, atores, roteiristas, cenógrafos, e por aí vai, experimentam as possibilidades que a telona oferece.
Viva o Cinema! Começa um tanto trôpego, com a alternância nem sempre eficiente entre a aprendizagem e a explanação de um consultor da Cinemateca Francesa que discorre repetidas vezes acerca de planos e sequências de obras emblemáticas. Assim, o realizador parece disposto a sustentar inicialmente a experiência, no sentido mais amplo, nas falas do especialista que disseca fragmentos fílmicos para expor o modus operandi de grandes cineastas, explicando seus métodos, por exemplo. Quando relativamente distante das crianças, foco essencial e o motivo de ser da produção, há uma perda considerável de pujança, pois o andamento ganha contornos de aula, instigante, por certo, mas que desvia da beleza das constantes descobertas de quem nunca havia transformado a câmera num objeto concreto de criação. Quando efetivamente voltado aos jovens, o filme ganha substância.
Realmente, o importante em Viva o Cinema! é a pureza infantil entrecortando o cinema e vice-versa. Paulo Pastorelo é particularmente feliz ao deixar a voz dos principiantes conduzir o longa-metragem, flagrando episódios em que a criatividade toma forma, se transformando em imagens, embora evidentemente amadoras, que possuem intenções muito bem definidas e até sensíveis. Mas, outra recorrência contraproducente é a centralidade excessiva do cineasta enquanto tutor. Pastorelo se coloca abertamente como protagonista, isso deflagrado pela quantidade de sequências nas quais se localiza deliberadamente no núcleo das atenções por sua posição de mentor. O documentário ganha representatividade justamente nos instantes de investigação do processo dos alunos, ou seja, quando consegue realizar o exercício de observar, sem ater-se demasiadamente aos tecnicismos do ensinamento ou algo que o valha.
Ainda que marcado por falhas estruturais responsáveis por diminuir sua reverberação e expressividade, Viva o Cinema! é um filme bonito, sobretudo por mostrar o interesse flagrante das novas gerações por uma arte centenária que luta constantemente contra os prognósticos de obsolescência trazidos à tona pelas cambiantes demandas da modernidades. Assim que Pastorelo resolve deixar as imagens e as elucubrações de seus pupilos falarem por si, sem lançar tanta luz sobre si mesmo ou à estrutura institucional do projeto levado a cabo pela Cinemateca Francesa, sua realização ganha densidade. Ele acessa a ludicidade das frequentes descobertas permitidas pelo cinema e suas especificidades, algumas delas residentes no plano prático, da aliança entre teoria e técnica, outras oriundas da espontaneidade de quem ainda tateia o mundo para descobri-lo através do cinema, a mais fascinante das janelas ao novo.
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