Sinopse
Após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera, a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O plano era que o retiro durasse alguns poucos anos, com robôs sendo deixados para limpar o planeta. Wall-E é o último, que se mantém em funcionamento graças ao auto-conserto de suas peças. Até que um dia surge uma nave que traz um novo e moderno robô: Eva. Wall-E logo se apaixona pela recém-chegada.
Crítica
Afirmar que Wall-E é simplesmente o melhor filme lançado em 2008 é pouco. Este clássico instantâneo merece muito mais. De cara, podemos afirmar que é a melhor produção assinada pela Pixar Animation, desde o início de sua parceria com os Estúdios Disney. E olha que o páreo é duro, batendo títulos impressionantes como Monstros S.A. (2001) e Os Incríveis (2004), entre tantos outros. É também a animação mais inteligente em muitos anos, superando obras que falam diretamente com o público adulto, como Persépolis (2007), Happy Feet (2006) e A Viagem de Chihiro (2001). E, por fim, é perfeito do início até sua conclusão, merecedor de todas as honrarias possíveis e absolutamente apto a ser analisado ao lado de qualquer outra produção dos mais diversos gêneros, extrapolando limites e barreiras convencionais. É o melhor do ano, independente de qualquer qualificação. Se A Bela e a Fera (1991) era, ao menos até então, o único desenho animado a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme, Wall-E merecia mais: levar a cobiçada estatueta dourada para casa.
A expressão ‘wall-e’ signfica “waste allocation load lifter – earth class”, que poderia ser livremente traduzido como “robô responsável pela reorganização de lixo – classe terrestre”. Ou seja, é um empilhador de entulho. E o protagonista desta aventura é o último de uma geração de máquinas responsáveis em “limpar a Terra”. Isso tudo está acontecendo há mais de 800 anos no futuro, quando o planeta deixou de ser habitável e toda a Humanidade vive numa gigantesca nave espacial há séculos. Wall-E leva uma vida solitária, tendo como companhia apenas uma barata (elas sobrevivem à tudo), encaixotando pilhas de lixo, até o dia em que encontra algo fora do seu cotidiano: uma pequena plantinha, um ser orgânico diferente de tudo que tenha visto até então. Ao mesmo tempo se depara com a visita de Eva, uma robozinha enviada pra cá em busca justamente de uma prova de que a Terra teria superado o maltrato humano e que estaria pronta a receber o homem mais uma vez.
A paixão entre Wall-E e Eva é imediata – principalmente da parte dele. Mas ela tem uma ‘diretriz’ – levar a comprovação de que é possível retornar para casa – e essa missão irá conduzi-los ao espaço, até a espaçonave que abriga o que restou da espécie humana. Porém, depois de dezenas de décadas levando uma vida artificial, esses sobreviventes já esqueceram até de ações básicas como caminhar, conversar uns com os outros ou até mesmo olharem nos olhos dos vizinhos. Essa redescoberta da vida para a ser uma obrigação, nem que isso tenha como conseqüência o enfrentamento final entre homem e máquina – a referência aqui, como não poderia deixar de ser, é outro clássico: 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), com direito a motim e tudo.
Você consegue imaginar uma história capaz de provocar no espectador a mais variada gama de reações possíveis? Pois então, assim é Wall-E. No início o cenário provoca melancolia, em seguida desperta a curiosidade, depois vem o interesse, a graça, o riso, a tristeza, a tensão, a magia, o suspense, o medo, o perigo, o pesar, a surpresa, o humor, a paixão, as lágrimas, a satisfação, a culpa, o remorso, o entusiasmo, a empolgação, o amor. Está tudo ali, misturado e disposto de acordo com o a precisão do olhar de quem aqui observa, sabendo que aquela segunda chance pode ser algo que nós próprios não tenhamos direito se assim continuarmos, ignorando o universo ao nosso redor. Mais eficiente do que Uma Verdade Inconveniente (2006) ou mesmo o recente Fim dos Tempos (2008), este filme é sim um alerta ecológico e social, mas também uma obra que supera qualquer expectativa, por mais positiva que esta seja. É cinema com letra maiúscula, e ponto final.
Desde o início de suas operações a Pixar vem revelando uma ambição superior ao que se tinha convencionado posicionar os longas de animação até aquele momento. Suas produções falam, sim, com as crianças – é só ver o sucesso dos brinquedos inspirados em filmes como Carros (2006) ou Toy Story (1995), por exemplo – mas possuem o mérito de estabelecer comunicação com qualquer espectador, independente de sua idade. E é neste sentido a mais perceptível das suas melhoras. O estabelecimento definitivo com a Disney começou com o filme anterior, Ratatouille (2007), mas é aqui que vemos claramente o melhor destes dois mundos: a técnica, o enredo bem amarrado e o detalhamento dos criadores do genial Procurando Nemo (2003) – que, aliás, também é dirigido por Andrew Stanton – com a experiência e a fantasia de um time de criadores com décadas de história e responsáveis por obras como o poético Fantasia (1940), entre tantas outras.
Wall-E é impecável sob todos os aspectos. Há uma mensagem forte e relevante a ser transmitida, aliada a um visual de grande impacto e com personagens absurdamente cativantes – Wall-E e Eva são, desde já, o melhor casal do cinema moderno! Não importa a leitura que você faça, esta é uma história que sempre irá provocar uma nova reflexão. Entretenimento de primeira, respeito a nossa inteligência e um produto que consegue ir além do óbvio, ao tratar temas simples com sabedoria e competência. Há filmes que provocam mudanças na sociedade, levantam questões e provocam polêmicas. Este, por outro lado, posiciona-se um passo adiante. Deixe Wall-E conquistar você, e assuma desde já uma nova atitude na sua vida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 10 |
Diego Benevides | 9 |
Daniel Oliveira | 9 |
Edu Fernandes | 9 |
Chico Fireman | 10 |
Yuri Correa | 10 |
Thomas Boeira | 10 |
Roberto Cunha | 10 |
Francisco Carbone | 10 |
MÉDIA | 9.7 |
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