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Crítica


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Sinopse

Após migrar para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, Xico Stockinger deseja se tornar piloto de avião, mas sua origem austríaca o proíbe de ingressar no curso quando o Brasil entra no conflito. Então, ele conhece a arte.

Crítica

Escrito, dirigido e produzido pelo estreante Frederico Mendina, o documentário Xico Stockinger busca, como o próprio nome já alerta, resgatar a obra e a vida do austríaco naturalizado brasileiro Franz Alexander Stockinger. Nascido em 1919 na cidade de Traun, Alta Áustria, e falecido em 2009 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, filho de pai austríaco e de mãe inglesa, Xico tinha apenas três anos quando chegou ao Brasil, indo morar primeiro no Mato Grosso, depois São Paulo, Rio de Janeiro e, por fim, na capital gaúcha. Essa trajetória, suas ligações artísticas, culturais e políticas, amigos e família, são os elementos que compõem a espinha dorsal do roteiro, estruturado de forma bastante abrangente e, talvez por isso mesmo, pouco profunda. Trata-se, portanto, de um filme que se justifica de imediato pela validade do retratado, mas que encontra dificuldades de se sustentar enquanto retrato cinematográfico independente.

Essa constatação, no entanto, de forma alguma pretende indicar que Xico Stockinger, o filme, não mereça uma visibilidade maior. Muito pelo contrário. Temos aqui um registro importante de um homem que ajudou a formar a configuração artística nacional, indo além dos meros limites geográficos onde se estabeleceu enquanto vivo para se tornar presente, com seu trabalho, ao redor do mundo. É um talento dignamente nacional, desenvolvido e aperfeiçoado em nosso território, com as nossas influências e relações. E se esta proximidade gera um significado especial aos brasileiros que a este longa tiverem acesso, não chega a atrapalhar de forma constrangedora a percepção daqueles que não compartilhem da mesma origem. O que importa é o artista e suas criações, e estas são dispostas em pouco mais de 80 minutos de projeção através de um belo trabalho gráfico e visual, revelando um cuidado de finalização acima da média. Outro ponto de destaque são as animações, conduzidas pela equipe do animador Rodrigo John, que servem para ilustrar passagens com pouca documentação. Este ganho confere ao todo um dinamismo interessante.

Trabalho de estreia também da produtora Pironauta Filmes, do próprio Frederico, Xico Stockinger chega aos cinemas gaúchos em 2012 com previsão de lançamento no resto do país para 2013. A produção, no entanto, começou em 2006, quando o diretor – então vizinho do escultor – passou a registrar as primeiras conversas com o seu biografado. Durante três anos – até 2009, processo que foi interrompido pela morte de Stockinger – muito material foi coletado, e se isso ofereceu um acréscimo precioso, por outro limitou a estrutura narrativa do longa. Há tanto a ser dito por Xico, que muito pouco sobra para outras vozes, sejam elas dissonantes ou não. A impressão, portanto, é de um relato chapa branca, em que deve-se aceitar o que é dito sem questionamento – afinal, é o homem de fato que está falando! Em poucos momentos – como quando é levantada a questão da função da crítica, entre lamentos do artista e contrapontos de estudiosos renomados – essa linha simples e direta é alterada. Mas estes são tão escassos que pouco chegam acrescentar ao todo.

O documentário Xico Stockinger é mais do que recomendado: trata-se de um filme necessário, que faz justiça a um dos principais escultores modernos brasileiros, oferecendo-lhe uma justa e devida luz. No entanto, é inegável perceber que o filme teria tido muito a ganhar com um distanciamento maior entre criador e criatura, ou seja, entre o cineasta e o artista. A paixão pela aviação, as relações familiares, as amizades com Josué Guimarães e Mário Quintana, as obras de protesto durante a ditadura, as influências artísticas, as dificuldades financeiras, a carreira dentro do movimento das artes plásticas, os problemas de saúde: tudo isso está presente, mas a maioria em meras pinceladas. Falta de um foco que elegesse prioridades e determinasse o que merecia uma pesquisa maior, ou não. Um deslize evidente, mas não comprometedor. Mendina se posiciona com esse trabalho como um realizador de olhar apurado e acima de tudo apaixonado pelo discurso que escolheu tornar realidade. E isso já é muito mais do que pode ser dito de muitos cineastas atuais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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