Crítica
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Sinopse
Artista performático japonês de renome, Yximalloo mora na Irlanda e tem sentido falta de sua terra natal. Ele não consegue se adaptar plenamente ao exterior e vagueia por lembranças e pelos conflitos que seu país sofre.
Crítica
De roupas berrantes e música dissonante, o artista japonês Yximalloo chama atenção por onde passa, com sua performance muito longe do convencional, casando completamente com o som que ele realiza no computador. Chances existem que você nunca tenha ouvido falar deste músico. Mas depois de assistir ao filme Yximalloo, dirigido pela dupla Tadhg OSullivan e Feargal Ward, você ao menos terá ideia de quem é este sujeito inquieto, contraditório, honesto e muito, muito original.
Yximalloo é, na verdade, Naofumi Ishimaru. Nascido no Japão, mas morando em Dublin há mais de década ao lado do companheiro Ger, Nao está descontente com sua vida por lá. Ele sonha voltar a Tóquio, onde reencontrará a felicidade que tanto almeja. E também um emprego, visto que é difícil se manter apenas com suas apresentações musicais. Os diretores permanecem na casa daquele casal registrando o cotidiano dos dois e acabam viajando junto do retratado até o Japão e os Estados Unidos. Muito mais do que um documentário sobre um músico, o filme nos coloca em contato com o ser humano Nao.
E este ser humano é cheio de contradições e muito honesto a respeito de sua situação. Ele acabou de casar com Ger, mas não se furta em criticar a vida do casal. Ger tem Esclerose Múltipla, o que o deixa bastante debilitado, com dificuldades de movimento. Nao revela que se mantém em Dublin por causa do companheiro e, não fosse por ele, já teria voltado ao Japão. Depois de muito ponderar, ele acaba indo mesmo para o seu país natal, sozinho, tentando juntar dinheiro. A contradição desta experiência é que o Japão não o deixa mais feliz. Quando ele volta, parece apenas mais um na multidão. Suas cores se esvaem. Em uma frase solta por ele e que resume bem a personalidade de Nao: “Quando estou na Irlanda, sonho com o Japão. Quando estou no Japão, sonho com a Irlanda”. Esta eterna insatisfação o fará retornar para os braços de Ger.
Yximalloo é mais voltado ao cotidiano do artista, mas também dá espaço para apresentações musicais – incluindo uma realizada em Nova York, em uma breve passagem dele por lá. No decorrer do filme também ouvimos várias das canções gravadas por ele, a maioria lançadas em fitas K7 de forma bastante artesanal. Existe uma áurea cult no trabalho de Yximalloo e algumas músicas não são muito diferentes do que estamos acostumados a ouvir de artistas avant garde como Yoko Ono ou Björk.
Realizando um trabalho emotivo, mas nunca piegas, e mostrando um personagem singular e desconhecido do grande público, os diretores Ward e OSullivan conquistam o espectador em Yximalloo não caindo na armadilha de dourar a pílula ou fazer um falso final feliz. Seria muito fácil encerrar o documentário com a apresentação do artista nos Estados Unidos, em um tom mais animado. Diferente disto, eles retornam a Dublin e dão voz aos pensamentos de Nao a respeito de sua vida, de forma bastante honesta e reflexiva. Vemos nele e em Ger um casal com relacionamento muito amoroso, com seus problemas e neuroses, mas acima de tudo, com muito afeto.
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