Sinopse
Um homem conta às crianças da região a linda história de amizade entre um menino e uma pequena girafa órfã.
Crítica
Estamos tão acostumados, nós, espectadores brasileiros, com as – em sua maioria – competentes animações hollywoodianas, todas tão computadorizadas e profissionais, que praticamente esquecemos da magia do desenho animado mais tradicional, aquele feito à mão e com um cuidado muito mais artístico do que empresarial. O domínio do 3D, das tecnologias digitais e da modernização dos processos praticamente eliminou a possibilidade de projetos como o fantástico Branca de Neve e os Sete Anões (1937), pioneiro neste formato, surgirem nos dias de hoje. E é por isso também – além de sua emocionante história – que assistir a Zarafa é uma surpresa muito mais do que bem vinda!
Zarafa é o nome da protagonista dessa trama, que como a sonoridade da palavra em português já adianta, trata-se de uma girafa. Mas ela é somente uma das duas metades dos personagens principais, pois divide a cena quase que todo o tempo com o pequeno Maki, um garoto que é sequestrado de sua aldeia no interior da África por um mercador de escravos. Quando consegue escapar, o menino se dá de cara com Zarafa e a mãe dessa, e a amizade entre eles é imediata. No entanto, quando o mercenário o encontra, o que acontece é uma das cenas mais tristes da história da animação desde a morte da mãe cervo em Bambi (1942). Ajudado pelo beduíno Hassan, o garoto consegue escapar mais uma vez, porém logo se depara com uma outra notícia não muito feliz: o viajando do deserto está ali para capturar Zarafa, pois ela será oferecida pelo paxá do Egito ao Rei da França, como pedido de ajuda na Guerra contra os turcos.
Do Sudão até Alexandria, e dali até Paris, muitas aventuras envolverão estes personagens, além de perigos e outras surpresas. Além de garantir a segurança de Zarafa, Maki tem outra missão: reencontrar Soula, sua companheira de cativeiro que seguiu nas mãos do escravagista após sua fuga. O destino dos dois estará na França, envolvendo deste membros da corte até o célebre naturalista Saint-Hilaire – aquele mesmo que chegou a passar anos no Brasil durante o século XIX. É neste ponto com a realidade que encontramos as inspirações verídicas de Zarafa, partindo de um fato que realmente aconteceu – a girafa dada de presente ao rei francês pelo seu colega egípcio – para criar um conto emocionante e envolvente, perfeito para as crianças de todas as idades que existem dentro de cada um de nós.
Com direção de Rémi Bezançon (Um Evento Feliz, 2011), aqui estreando no gênero, e Jean-Christophe Lie, que durante anos trabalhou no departamento de animação da Disney, tendo se envolvido em sucessos como O Corcunda de Notre Dame (1996) e Tarzan (1999), Zarafa ensina e educa ao mesmo tempo em que diverte e comove. Maki lembra diretamente o heroico Kirikou de Michel Ocelot, e o estilo do traço aqui em empregado em muito lembra também o deste mestre da animação francesa. Sem medo de ser adulto quando necessário – temos violência, tensão sexual, barbárie e trapaças – porém sem exageros, o filme é dono de uma sensibilidade que permite tais abordagens sem ofender ninguém. Este é uma obra que realmente provoca encantamento, como há muito não se via nesta seara cinematográfica.
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