Neste domingo, 08, a recentemente empossada secretária especial da Cultura, Regina Duarte, deu sua primeira entrevista após assumir o cargo no governo Jair Bolsonaro. Ao contrário da sorridente pessoa que se manifestou na solenidade de posse – com direito a performance histriônica e afirmações um tanto controversas sobre as naturezas da Cultura –, ela exibiu um semblante pesado e austero durante a conversa com o jornalista Ernesto Paglia para o Fantástico, da Rede Globo. Quando questionada sobre a onda conservadora que emana de seus pares, responsável por coibir determinadas formas de expressão artística, foi taxativa: “Acho que o dinheiro público deve ser usado de acordo com algumas diretrizes importantes, porque é o que população que elegeu esse governo espera dele”. Questionada especificamente sobre o fato de não haver, então, um “governo para todos”, disse: “Governa pra todos. E todos estão livres pra se expressar. Contanto que busquem seus patrocínios na sociedade civil. Você não vai fazer filme pra agradar a minoria com dinheiro público”. Sobre sua atenção às minorias, arrematou: “Todas têm espaço. Devem buscar seus patrocínios”, apontando para uma lavagem de mãos estatal.
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Antes de seguirmos comentando os impropérios proferidos por Regina Duarte, é bom que se diga que as “minorias” às quais ela se refere não assim o são demograficamente, mas no que diz respeito à visibilidade, ao poder e ao acesso às formas de produzir discurso sobre si próprias. Regina, que assumiu em meio à afirmação de querer dialogar e acabar com as polarizações, logo abraçou outro discurso, este amplamente alinhado com as diretrizes castradoras do governo Jair Bolsonaro. Alegando o mesmo privilégio “à maioria”, o presidente da república já vinha inviabilizando instrumentos que poderiam ampliar a participação de mulheres, negros, LGBTQI, para citar apenas três enormes grupos afetados por tais orientações ideológicas. Peças, filmes, livros e outras formas de manifestação ou perderam fomentos importantes ou tiveram sua existência impedida pelo clima de censura prévia reinante no país.
Dessa forma, é preocupante sobremaneira esse alinhamento aparentemente irrestrito de Regina com a verdadeira política de terra arrasada que o governo Bolsonaro implanta com relação à Cultura, centralizando-a novamente no Sudeste, reforçando sua branquitude e fazendo-a instrumento de uns poucos privilegiados. A maioria, dona Regina, é aquela que luta diariamente para conseguir se expressar, para ter validada a sua voz e vez. Uma pena que essa artista com uma carreira brilhante se contente em ser um cavalo de troia e atuar em função do desmantelamento da Cultura, inclusive jogando levianamente com conceitos tais como minoria/maioria para criar cortinas de fumaça para a realidade que concerne à manutenção do status quo excludente. Triste. Confira aqui a entrevista na íntegra.
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