Me envolvi com o mundo dos musicais quase sem querer. Certa vez visitei um amigo em Portugal e programamos também um final de semana prolongado em Londres. Topei na hora – Londres! – queria muito conhecer.
Uma noite antes de viajarmos, uma turma de conhecidos fazia uma brincadeira, a qual este meu amigo era craque e sempre ganhava. Pense em uma pessoa famosa, dizia ele. Agora eu adivinho. Então ele fazia meia dúzia de perguntas óbvias e acabava acertando mesmo. Mulher famosa brasileira? Xuxa. Personalidade mundial? Gandhi. E assim por diante. Até que resolvemos fazer uma sacanagem com ele: os mais conhecidos sopraram no meu ouvido: ele adora musicais e já assistiu alguns mais de vinte vezes. Então pensa em Andrew Lloyd Webber, que é o mago dos musicais! Ele nunca vai achar que tu sabe quem é esta figura. Assim o fiz, e depois de milhares de perguntas tentando desvendar minha mente, ele desistiu.
Quando disse o nome de quem estava pensando, ele se espantou: tu entende de musicais? Não, na verdade não, e contamos a sacanagem. Graças a esta brincadeira ele me desafiou a assistir, em Londres, a Os Miseráveis, de Victor Hugo, que está em cartaz há quase 30 anos. De canja assisti ainda a O Senhor dos Anéis, e Hairspray só não entrou na lista porque os ingressos estavam esgotados para aquele período. Assisti a Os Miseráveis, li sobre o musical, sobre o livro de Victor Hugo – que, por sinal, é um clássico – e fiquei por dentro de tudo o que pude a respeito desta obra.
Então, este ano, quando o filme Os Miseráveis (2012) estava entre os concorrentes ao Oscar e estreou nas salas de cinema da capital, logo me preparei para assistir. É diferente, um musical no cinema, é bem diferente de assistir ao vivo. Mas o filme me encantou.
Já sabia da história da mãe – Fantine – que luta, em plena França do século XIX, para sustentar e salvar sua filha Cosette sem ter ao seu lado família, marido ou emprego. Também sabia da luta antiga entre a polícia, no cinema representada por Russell Crowe, e o mocinho, prisioneiro por 25 anos pelo roubo de um pedaço de pão, aqui representado por Huck Jackman, que em nada lembrada o valente Wolverine.
Mesmo familiarizada com o enredo, tendo assistido ao musical nos palcos e também acompanhado a trajetória deste clássico de outras diversas formas, estava eu na fila do cinema logo nos primeiros dias de estreia. Curiosa, fiquei prestando atenção nos comentários na grande fila que se formava em frente à sala de projeção. Alguns sussurravam: é um musical? Outros se perguntavam como era um musical? E outros, ainda mais desavisados, saiam da fila quando alguém dizia: não é filme, não há diálogo, eles cantam o tempo todo.
Eu entrei no cinema segura do que ia encontrar e me surpreendi ouvindo Anne Hathaway interpretando I Dreamed a Dream como se tivesse nascido para cantar esta música. Para muitos, assistir a este filme no cinema foi um saco. Para mim, no entanto, foi o mesmo que passar pelo Tapete Vermelho do Festival de Cinema de Gramado.
Há! Por que o título deste texto? Porque é o número que o prisioneiro Jean Valjean carrega, mesmo depois de se tornar um nobre.
É um clássico. Vale a pena assistir.
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