Ir ao cinema me encanta. Adoro me perder no escuro de tela e deixar este novo universo me capturar. Mas, como moro na Serra Gaúcha, e aqui as coisas demoram mais para acontecer, não raro vejo os filmes indicados ao Oscar pra lá da metade do ano. Quando estes filmes vêm para o cinema de Gramado corro para assistir, mas nem todos passam por aqui. Então a saída é mesmo a locadora. Por sorte tenho um grande amigo dono de uma e lá posso passear e degustar bons filmes.
Outro dia me deparei com Django Livre (2012) e fiquei com ele nas mãos durante alguns minutos. Sei que é um excelente filme, e considerando que é do Quentin Tarantino, sabia que seria intenso. Mas naquela sexta-feira fria de inverno estava mais para um romance água com açúcar do que deixar minha noite nas mãos de um western Tarantino.
Então me bandeei para outros lados e me deparei com um filme com o Clint Eastwood, Curvas da Vida (2012). É um longa que não concorreu a nenhum prêmio importante. Uma história comum e real, mas que nos dá mais uma chance de assistir ao Eastwood em cena. Suas rugas, sua voz rouca e toda sua experiência em frente às câmeras faz lembrar de clássicos estrelados e dirigidos por este talentoso ator.
Curvas da Vida é um filme bom, leve e mostra a relação de um homem com a sua vida e suas perdas. Perdeu sua mulher e se viu cuidando de uma filha de 6 anos sozinho. Perdeu a credibilidade em si como pai, perdeu a fé e a esperança em buscar outro caminho e se agarrou a sua carreira. Ele era olheiro de talentos de beisebol e também se viu perdendo o jogo da vida para a tecnologia. Computadores velozes e smartphones poderiam fazer em segundos o que Eastwood, no papel de Gus, levaria muito tempo observando, analisando e se certificando que o feeling humano não pode ser substituído pelas máquinas.
Mas, o mais interessante foi o momento de verdade entre pai e filha. Ele a deixou aos cuidados de tios e mais tarde a cargo de um reformatório. Ela, seguiu em diante e tornou-se uma competente advogada. Porém ambos ficavam sem o que dizer quando tinham que encenar o papel de pai e filha.
A relação com ela era distante e apenas nos encontros semanais tentavam fazer de conta que esta ligação existia. Eram momentos frios e durante o pouco tempo que ficavam juntos falavam apenas o necessário. O foco sempre eram amenidades.
A verdade só apareceu depois da filha criar coragem e desfiar em frente ao pai todas as suas angústias e medos. Aquele momento que muitos de nós gostaríamos de ter coragem de enfrentar e parece que só é possível nas telas do cinema. Depois dessa conversa, troca de culpas e farpas aparadas, eles conseguiram conversar e, cada um do seu jeito, encontrou um no outro a forma de suprir as suas deficiências.
Depois de encontros e desencontros, lágrimas e decepções, saudade e conflito, eles acabaram formando uma dupla. Como na verdade deveriam sempre ser os pais e os filhos.
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