Fui ao cinema em Porto Alegre com a programação do final de semana em punho. Amo cinema e ter que escolher um único filme me deixa nervosa. Queria assistir pelo menos quatro dos que estavam em cartaz. Mas, poderia, se muito, assistir somente a dois deles.
Fiquei em frente à tela com a programação contando os minutos nos dedos para tentar encaixar uma sessão dupla, um seguido do outro.
Começaria com Somos Tão Jovens (2013) que conta a história de Renato Manfredini Júnior, que viria a ser então Renato Russo. Depois deste engataria direto Faroeste Caboclo (2013), que também tem a ver com o Legião Urbana, mas com foco em uma música da banda.
A atendente que estava me vendendo os bilhetes disse que daria tempo para assistir aos dois filmes e que eu teria 4 minutos de intervalo entre uma sala e outra. Não sei bem por que acabei desistindo e decidi assistir a um filme de cada vez. Então decidido: Somos Tão Jovens foi o escolhido.
Sabia que ia me emocionar, afinal de contas quem viveu a década de 1980 não pode deixar de considerar o rock neste cenário. Plebe Rude, Capital Inicial, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana embalaram não apenas meus sábados à noite, mas a minha juventude inteira.
Foi ao som das músicas do Legião que comecei a namorar. Foi ouvindo a voz rouca e marcante de Renato Russo que me apaixonei pela primeira vez. Foi com ele que chorei meus medos e desencontros e foi abraçada ao travesseiro ouvindo “uma menina me ensinou quase tudo que eu sei, era quase escravidão, mas ela me tratava como um rei. Ela fazia muitos planos e eu só queria estar ali, sempre ao lado dela, porque eu não tinha onde ir….” que decidi: esta música foi feita pra mim.
Não conhecia as melhores amigas de Renato Russo e não sei se a Aninha existiu de verdade ou se nela foram sintetizadas todas as mulheres da vida dele. Mas a cena do cantor entoando este poema com uma rosa branca nas mãos foi pra lá de emocionante.
Em muitas partes do filme eu olhava para os lados e via “jovens” como eu cantando baixinho as músicas daquela época, músicas atuais e eternas.
O ator Thiago Mendonça quase me fez esquecer que eu estava no cinema. Por vezes me pegava quase aplaudindo ao final de uma canção, parecia estar novamente no Ginásio do Gigantinho, em 1994. Quase levantei e pulei em frente ao palco, como fiz há muito tempo ouvindo a voz do poeta, bem de perto.
Curti o filme como se fosse um show, como se eu mesma estivesse fazendo parte deste momento. E fiquei aliviada em ter escolhido apenas um filme para esta noite. Não aguentaria dois deles.
Tive saudade dos shows, das músicas, da vida e da forma como na juventude a gente vê tudo diferente.
Tive saudades mesmo de mim.
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