“Eu prefiro dizer que estive à luz de Bergman”
Tão ou mais raro que encontrar filmes que carregam a mesma assinatura na direção, no roteiro e na fotografia, é conhecer Jan Troell. Nascido em Malmö, em 1931, o sueco se manteve constantemente ligado à fotografia. Em 1962, ensaiou seus primeiros passos no cinema ao fotografar o trabalho do estreante Bo Winderberg, o curta Pojken och draken (algo como O Menino e o Dragão, em uma tradução direta). A parceria parece ter dado certo e rendido bons frutos, tanto que se repetiria um ano depois no longa The Baby Carriage (Barnvagnen, 1963). A partir de então, Winderberg e Troell seguiram caminhos distintos. Enquanto o primeiro deu seguimento à carreira de produtor para cinema e televisão, o segundo assumiu o controle absoluto dos seus trabalhos. Em 1966, aos 35 anos, lançou Here’s your life (Här har du ditt liv), inspirado em um romance dos anos 1930, Här har du ditt liv!, do sueco Eyvind Johnson.
Não demorou muito e o reconhecimento de Troell chegou juntamente com o segundo filme, Who saw him die? (Ole dole doff, 1968), agraciado com cinco prêmios no Festival de Berlim, incluindo o Urso de Ouro. Entre as premiações de relevância, o festival alemão não foi uma exceção, mas foi, de longe, aquele que melhor acolheu o pensamento do diretor. Em Veneza e em Cannes, o sueco não obteve grande repercussão, passando em branco pelo primeiro e recebendo apenas uma indicação, por Bang! (1977), no segundo. O Oscar, por sua vez, reconheceu em Os Emigrantes (Utvandrama, 1971) qualidades suficientes para que concorresse à filme estrangeiro, em 1972, mas as premiações vieram apenas no ano seguinte. Em 1973, recebeu o Globo de Ouro por filme estrangeiro e atriz coadjuvante, para Liv Ullmann. Hollywood esforçou-se e o indicou nas categorias de melhor atriz coadjuvante, melhor roteiro, melhor diretor e melhor filme. Esta última indicação, aliás, lhe proporcionou a honra e a desfortuna de concorrer ao lado de O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), vencedor da noite.
Ainda que discreta, Os Emigrantes conseguiu uma marca histórica! Foi um dos oito títulos em toda a história do Oscar a concorrer consecutivamente na categoria de melhor filme em língua não-inglesa e, posteriormente, na categoria principal de melhor filme.
Posteriormente, Momentos Eternos de Maria Larssons (Maria Larssons eviga ögonblick, 2008) foi escolhido como o representante da Suécia ao Oscar de 2009, mas acabou não sendo selecionado pela Academia. Mike Hale publicou no jornal The New York Times uma interessante matéria a respeito do diretor. Na oportunidade, levantou hipóteses que dessem conta do motivo de Troell, dono de uma carreira que ultrapassa quatro décadas, seguir praticamente desconhecido. Seria a sombra de Bergman? É uma questão. A resposta do diretor, no entanto, é leve e surpreendente, como a de quem não está – e provavelmente nunca esteve – vislumbrando os holofotes. Até porque se assim fosse, Troell teria fracassado.
Confira o curta Reflexion 2001 (2002), de Jan Troell
http://www.youtube.com/watch?v=FDPYa05PcKs
Últimos artigos deWillian Silveira (Ver Tudo)
- Banco Imobiliário - 4 de agosto de 2020
- Tropykaos - 30 de março de 2018
- Os Golfinhos Vão Para o Leste - 24 de novembro de 2017
Deixe um comentário