Ela começou no teatro nos anos 1950. Na TV, estreou em 1967 com a novela Águias de Fogo. Já na tela grande, debutou no ano seguinte, com Sandra Sandra (1968). Além de ser reconhecida como a estrela das populares telenovelas Beto Rockfeller (1968-1969) e O Rebu (1974-1975), e do clássico do cinema nacional Eles Não Usam Black-Tie (1981), Bete Mendes também consolidou uma relevante atuação na política desde os anos 1970, quando lutou contra a ditadura militar. Nos anos seguintes, paralelamente à carreira artística, chegou a ocupar cargos públicos, sempre em defesa da cultura e dos trabalhadores da cultura no país. Em 2022, a artista é a grande homenageada do 29º Festival de Vitória. Para falar sobre a honraria, sua trajetória e a política nacional, Bete conversou com o Papo de Cinema. Confira este bate-papo exclusivo abaixo.
Qual foi o sentimento ao descobrir que seria homenageada no 29º Festival de Vitória?
Eu fiquei muitíssimo emocionada e sem entender (risos). Eu e a Lucia Caus (diretora do festival) somos amigas há muito tempo e quando ela me falou, fiquei sem reação e não sabia o que dizer. Estou muito grata. Aliás, quando vi o catálogo em homenagem à minha carreira, me derrubei em lágrimas. Estou chorando desde que cheguei em Vitória. (risos)
Após tantas décadas dedicadas à interpretação, como foi transitar entre teatro, cinema e teledramaturgia?
Amo tanto trabalhar como atriz, que adoro estar fazendo uma novela, minissérie ou especial na televisão, filme, curta ou longa, ou uma peça de teatro. É claro que o melhor desafio e, infelizmente, não podemos fazer em termos de vida mesmo, por causa de dinheiro, é o teatro. Mas me agrada muito trabalhar nas três áreas, sem distinção. É, basicamente, um enorme prazer, sempre. Até pode não ser bom a personagem, não acertar direito o cachê (risos), mas a minha ideia principal é sempre “ô, meu deus, que bom, me convidaram“. Atuar nas três linguagens possui diferenças, mas amo todas.
Você tem essa questão de envolvimento com a política. Como isso surgiu em sua vida?
Na adolescência lia muito. Devorei Karl Marx, é claro, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, além de grandes filósofos. O grupo da revolução francesa… a partir daí fui meditando, refletindo e tinha amigos no Rio de Janeiro que eram mais velhos do que eu. Foram me mostrando mais coisas das relações políticas. Me interessei demais e, coincidentemente, participei de peças que debatiam a relação de empregados e patrões. Uma compreensão política foi aflorando em mim após esses acontecimentos.
Como foi enfrentar esse período de conservadorismo do governo brasileiro nos últimos anos?
Terrível e lamentável. Tudo que vem acontecendo desde 2018 me provoca uma reflexão séria e triste. Não tínhamos ideia de que existissem, na sociedade brasileira, tamanho número de nazistas, neofascistas, homofóbicos, machistas, racistas… essa gente, parece que estava toda escondida. Foi duro e precisamos ter cuidado. Espero que a próxima eleição nos traga de volta a democracia e um governo que se preocupe verdadeiramente coma população e a cultura. Espero, quero e vou lutar pra ter. Quero Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) presidente e os companheiros nos Estados e no congresso nacional. Agora, não podemos esquecer que será uma reconstrução dificílima dos direitos humanos, que foram deixados de lado nos últimos tempos. Trabalho, lazer, cultura, saúde… tudo isso está na constituição, que assinei enquanto deputada nos anos 1980, e que foi rasgada e jogada no lixo por esse fascista que está no poder (Jair Bolsonaro, presidente da república).
(Entrevista feita durante o 29º Festival de Cinema de Vitória, em setembro de 2022. O Papo de Cinema está na capital capixaba, a convite da organização do evento).