Izabella Faya é formada em Jornalismo, com especialização em Produção Executiva em Cinema e TV pela Fundação Getúlio Vargas. Iniciou sua carreira produzindo séries de cunho educativo e cultural, além de inúmeros vídeos institucionais. Trabalhou com música e com esporte, além da iniciativa privada. Toda essa experiência acabou lhe levando ao cinema. No começo foram alguns curtas – inclusive A Maldita (2007), de Tetê Mattos, premiado no Festival do Rio – até chegar aos longas, como Sudoeste (2012), de Eduardo Nunes. Sempre atuando como produtora de trabalhos de terceiro, teve a iniciativa de elaborar o projeto de 5 Vezes Chico: O Velho e sua Gente, que acabou premiado no edital da Petrobras. Agora que o filme está pronto e já em cartaz nos cinemas, nós conversamos com a responsável por esta ideia, que explicou um pouco melhor como tudo começou. Confira!
Olá, Izabella. Para começarmos, por que 5 Vezes Chico? Esse nome estava previsto desde o início?
Sim, desde o início pensei em cinco visões, cada uma de um dos estados banhados pelo São Francisco. A bacia deste rio é muito diferente geograficamente em cada um destes estados e isso determinou a forma de vida dessas comunidades, a forma de pescar, as embarcações, os mitos. Então achei que valeria ter cinco diretores.
Como foi feita a seleção destes cinco realizadores?
Foi uma seleção em cima da cinematografia de cada um. Para Minas, eu queria falar sobre as lendas, causos, então pensei no Gustavo Spolidoro, que tinha feito um filme chamado Morro do Céu (2009), no qual ele brinca com a ficção dentro do documentário; para Bahia, era importante falar sobre as paixões, a fé, então tinha visto o Vou Rifar meu Coração (2011), da Ana Rieper, e achei que ela teria esta pegada de criar uma intimidade com os personagens, para que se abrissem para o filme; era um desejo antigo trabalhar com o pernambucano Camilo Cavalcante, sou fã da obra dele, dos filmes “soco no estômago”; sempre falei para ele que o episódio do sertão de Pernambuco seria como se fosse as vísceras do filme, teria que mostrar a aridez, a falta de perspectiva, a falta de tudo mesmo com o rio passando na porta daquelas casas. Em Sergipe, a ideia era relembrar o cangaço, e convidei o Eduardo Goldenstein, que fez o Corda Bamba (2012), um belo filme com temática pesada, mas feito para crianças. A premissa era encontrar um personagem que tivesse uma relação com o tema e tentar fazer um filme mais lúdico. Na Foz, em Alagoas, sempre pensei no Eduardo Nunes. Ele fez o Sudoeste (2012), que é um filme que fala sobre o tempo e que tem uma fotografia horizontal que privilegia as paisagens. Este episódio leva o filme para o fim, para o encontro do rio com o mar, é como se levasse todas aquelas histórias para o fim.
Haviam diretrizes iniciais pelas quais os cineastas deveriam se guiar ou eles eram livres em suas ideias?
Tinha um roteiro e os personagens foram escolhidos numa pesquisa que durou 5 meses. Eles foram selecionados justamente pelas premissas de cada episódio. Mas cada um dos diretores foi em busca dos seus personagens e criou em cima da premissa original do seu segmento.
Algum dos realizadores chegou a interferir no trabalho do outro? Houve parcerias entre eles? Ou cada um desenvolveu sua parte isolado dos demais?
Como já tínhamos este pré-roteiro, cada um desenvolveu seu episódio isoladamente. Tivemos reuniões para falar sobre a escolha da direção de fotografia e sobre o desenho de som. Como a equipe fixa era a mesma – produção, som e fotografia – acho que conseguimos dar uma unidade ao longa. Tinha uma imagem que tentamos seguir para cada episódio: Minas Gerais era o nascimento, o rio ainda menino, os causos quase infantis que os pescadores contam; Bahia era o coração, ali bate forte a emoção e as paixões; Pernambuco, o estômago, as vísceras, a proximidade com a fome e a falta de esperança; Sergipe, com o cangaço, as pernas, a correria dos esconderijos mata adentro; e Alagoas, com a Foz, os pés, a grande viagem para o mar, o caminho sem volta para o fim.
O Rio São Francisco já esteve nas telas antes. O primeiro que me vem à cabeça é Espelho d’Água (2004), com Fábio Assunção. O que você acha dessas incursões cinematográficas prévias e o que 5 Vezes Chico propõe de diferente?
Quando pensei no filme pela primeira vez, descobri que ele estava presente mais na literatura, como em Grande Sertão Veredas, do que no cinema. Fora Espelho d’Agua, só vi dois curtas durante a pesquisa. Diferente de outros grandes rios, como o Velho Nilo ou o Ganges, não tivemos muitas produções sobre o Velho Chico. Tem uma frase do chileno Patricio Guzman que gosto muito: “um país sem cinema é como uma família sem álbum de fotografias“. Isso me leva a pensar que este rio que propicia vida para cerca de 16 milhões de brasileiros merecia vários olhares dedicados a ele.
5 Vezes Chico nasceu do desejo de preservar a memória sobre este importante rio e sua gente através de diferentes, e por que não dizer, complementares, olhares sobre este verdadeiro fato cultural que é o Velho Chico. Não buscamos na produção dados demográficos, enciclopédicos, estatísticos, ou fizemos um retrato objetivo e científico da região. A jornada pelo Velho Chico foi, sobretudo, um jornada afetiva. O olhar de cada um dos diretores, com suas peculiaridades é a grande riqueza do projeto. Nos interessou ver, ouvir e sentir o Velho Chico de formas tão diversas como são suas paisagens e suas influências, suas afluências e suas gentes. Cada diretor teve seu olhar daquela região. Da nascente à foz.
5 Vezes Chico foi exibido no Festival de Brasília e na Mostra de São Paulo antes de chegar às telas. Qual a importância de participar de um circuito de mostras e festivais antes de chegar até o grande público?
É fundamental para um filme como o 5 Vezes Chico ter um circuito de festivais antes da estreia nos cinemas. O público, de alguma forma, segue o olhar destas curadorias que selecionam os trabalhos mais representativos de um mesmo período.
(Entrevista feita por email em 02 de dezembro de 2015)
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