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Principal atração internacional da 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2023, a atriz e cineasta Jasmine Trinca veio ao Brasil apresentar o seu primeiro longa-metragem como realizadora, Marcel! (2022), um dos destaques da programação do evento que leva a 18 cidades do nosso país o melhor do cinema italiano atual. A trama mostra a difícil conexão entre um menina criada pelos avós e a sua mãe que mora próximo, a artista que parece demonstrar mais afeto por seu cãozinho Marcel do que pela menina que tem um olhar suplicante por um pouco de atenção e amor. Aproveitando a presença da artista no país, o evento também promoveu sessões do curta-metragem Being My Mom (2020), primeira direção de Trinca, e que serve como uma espécie de prelúdio do longa-metragem. Para falar um pouco mais sobre essas produções, a visita ao Brasil e ainda a respeito da atuação em Profetas (2022), conversamos remotamente com Jasmine Trinca. O resultado desse Papo de Cinema você confere logo abaixo:

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A julgar por seus dois filmes como realizadora, você tem um estilo de direção muito econômico nas palavras e eloquente nas imagens. Ao que você atribui isso?
Digamos que a inspiração para o curta e depois para o longa era um pouco o cinema mudo. A ideia era realmente utilizar poucas palavras e ter imagens cinematograficamente eloquentes. Uma referência para o meu primeiro filme era o cinema de Charles Chaplin, especialmente O Garoto (1921) e também um pouco de Buster Keaton. Sobretudo no curta, essas foram as principais inspirações para o movimento das personagens. Depois, sobretudo dentro dessa relação nem sempre fácil entre mãe e filha, pensava que o mais difícil de dizer precisava/poderia ser mostrado.

No curta temos uma trajetória convergente. No longa você foca mais nas solidões dessas mulheres. Por que a mudança, além daquilo que a duração impõe?
A resposta é complicada (risos). O longa tem um tempo dilatado. Para mim, no curta vemos quase a mesma coisa do longa, mas num tempo reduzido. O curta inspirou o longa, isso com certeza. Nele você vê duas personagens, uma mãe e uma filha, carregando uma mala. No longa, que foi escrito depois que o processo do primeiro filme acabou, pensei em revelar o que tinha dentro daquela mala, objeto que era um símbolo da distância entre essas personagens. No entanto, para mim o tema do confronto, da rivalidade, que elas compartilham nesses percursos é o mesmo.

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Como anda a presença feminina na direção cinematográfica na Itália? A disparidade entre homens e mulheres em cargos decisórios no cinema italiano ainda é uma barreira enorme?
Isso é sempre uma questão na Itália, como em outros países. A proporção de mulheres cineastas é escandalosamente desigual em relação à presença masculina no mesmo cargo. Isso é um problema maior, um problema do sistema educacional italiano. Curiosamente, nas escolas de cinema atualmente temos algo como 50% de homens e 50% de mulheres. Então, uma coisa a se pensar é: por que depois, no mercado, é mantida essa disparidade enorme? E essa desigualdade de gênero é prejudicial, pois nos priva de diversidade de abordagens que certamente faz bem.

Falando um pouco de outro filme seu em cartaz no evento, mas como atriz, o que te levou a fazer o Profetas, cuja premissa toca numa questão tão importante e controversa da atualidade?
Primeiro, é muito raro que um cineasta homem queira contar uma história a partir do ponto de vista de duas mulheres, explorando assim o mundo feminino. Depois, o que sempre achei interessante no cinema de Alessio Cremonini é que ele não é feito de teses, possui diversos pontos de vista para colocar em xeque a própria certeza.

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E como você recebeu o convite para vir ao Brasil na 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2023? O pessoal da organização nos disse que sua filha queria muito vir ao Brasil…
Digo sinceramente: é uma grande emoção dividir com um público brasileiro, aparentemente tão distante do cinema que sonhei e que fiz. É uma grande surpresa me deparar com tanta presença e acolhimento. Na Itália está muito difícil levar as pessoas ao cinema, então sessões como as de abertura da 8 ½ Festa do Cinema Italiano são muito reconfortantes. Me lembrava muito desse entusiasmo dos brasileiros e desse encontro humano, do calor e do acolhimento. E tudo isso é muito apropriado para o universo do cinema.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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