Luciano Moura nasceu em São Paulo, mas vive no Rio de Janeiro. Ainda jovem, começou a trabalhar como fotógrafo still, foi assistente de direção e estreou como cineasta com o curta-metragem Os Moradores da Rua Humboldt, premiado nos festivais de Havana, Cartagena e Upsala, entre outros. Depois participou do filme coletivo Todos os Corações do Mundo, filme oficial da FIFA sobre a Copa do Mundo de 1994, e há anos faz parte do time criativo da O2 Filmes, produtora de Fernando Meirelles. Com longa carreira na publicidade, dirigiu na televisão episódios dos seriados Filhos do Carnaval (HBO) e Antônia (Globo), e agora chega aos cinemas com o drama A Busca, que estreou mundialmente no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, em 2012, e foi premiado no Festival do Rio do mesmo ano. O Papo de Cinema conversou com o diretor por telefone sobre esse seu primeiro longa-metragem e sobre as escolhas que precisou fazer o sucesso deste trabalho. Confira!
Luciano, como foi a elaboração do roteiro de A Busca e o trabalho com a roteirista Elena Soarez?
Quando decidi fazer meu primeiro filme, estava atrás de algo que me sentisse próximo, que me fosse caro, com o qual eu me identificasse. Não quis fazer um projeto qualquer, apenas por fazer – tinha que me dizer algo. E A Busca nasceu disse, de uma vontade de falar sobre algo que se comunicasse primeiro comigo, pois assim penso que falará com o mundo. São temas como a paternidade, o fato de eu ter tido meus filhos, a própria questão que envolve a decisão de ter ou não um filho, de não poder proteger o tempo todo. É preciso soltar, mas também tem que estar por perto. É esta a relação que a gente tentou resumir no papel do Theo (Wagner Moura). Por isso colocarmos ele na estrada, para lidar com essas questões e interagir com outros personagens – ele está em constante mudança. Foi muito trabalhoso, mas satisfatório. Trabalhamos juntos, eu e a Elena, com bastante foco nos fundamentos, criando os personagens, depois entendendo o arco da história, construindo a estrutura da trama. Não tínhamos no que nos apoiar, pois se trata de um filme original, não é baseado em nada. Mas depois que essa parte inicial ficou definida, a Elena é que teve a maior mão de obra, que escreveu os diálogos, as situações. Eu sou apenas o co-roteirista, ela que é a roteirista responsável, a principal. Mas foi um trabalho de equipe, do início ao fim.
O Wagner Moura já havia interpretado um pai que precisava lidar com problemas familiares em Tropa de Elite 2, mas naquele filme ele aparecia envelhecido. Como foi a escolha dele para ser o protagonista de A Busca?
O Wagner, no cenário nacional, é um dos atores mais completos que temos. Tinha ele na cabeça desde que o vi em O Caminho das Nuvens (2003), do Vicente Amorim. Ele era mais novo, mas já aparecia como pai e com uma presença muito forte. Quando começamos a escrever o roteiro, não via muita gente dessa idade capaz disso. E tem outra coisa muito boa, é que o Wagner é muito o cara comum, que encara estas angústias, tem um olhar para classe media, o que facilita ainda mais a identificação com o espectador. É alguém que entende destas relações pelas quais os personagens estão passando. Foi logo no começo do processo que pensei no nome dele, e escrevemos o roteiro inteiro pensando nele. Quando ficou pronto, enviamos para ele na torcida para que aceitasse nosso convite. No dia seguinte já havia lido tudo, curtiu de imediato e topou fazer parte.
O Lima Duarte tem uma participação muito curta, porém de bastante impacto. Foi preciso um cuidado diferenciado com ele para compor este personagem?
O Lima é um monstro! O personagem dele tinha uma aura toda especial, e é claro que precisamos ter um cuidado especial. Trata-se de uma participação pequena, mas se fala dele o filme inteiro, então quando finalmente aparece já há muita expectativa. Precisávamos de alguém à altura do personagem. Quando o Lima entra em cena, eu fazia questão de um ator do peso, da importância que ele tem. O nome dele surgiu quando começamos a entender isso, o que significava ter alguém que conseguisse segurar essa onda. E ele é o cara! E tem mais, o Lima Duarte tem bem essa visão meio arredia da vida, ele se assemelha com o personagem, vive sozinho e tal, afastado, num sítio, bem como alguém que optou por uma coisa e perdeu outra, mas que mesmo assim não se arrepende. Tem o seu mundo interior e particular. Ele adorou o papel desde a primeira vez que conversamos. Segundo ele, velho não é um estado, é só um tempo, uma condição. A essência é a mesma. E isso resume bem o que queríamos.
E o resto do elenco? Como chegaram a nomes como Mariana Lima e o jovem Brás Antunes?
A Mari é uma atriz que amo, ela vem do teatro, é uma amiga que acompanho há tempos e foi um grande acerto chamá-la, pois o casal que forma com o Wagner Moura funciona muito bem. Já o Brás foi uma ótima surpresa, resultado de uma baita pesquisa. Testamos mais de 1,5 mil garotos nessa faixa etária, até que ele surgiu exatamente como a gente procurava. Essa preocupação em encontrar a pessoa certa esteve presente por todo o filme. Todos os coadjuvantes – gente de teatro, de cinema – são caras que pesquisamos muitos, trabalhamos bastante com eles. Tivemos muita atenção na escolha e no preparo de todo o elenco.
Queria que comentasse um pouco sobre os trabalhos do Lucas Gonzaga, na edição, e do Adrian Teijido, na fotografia, que são dois pontos que me chamaram muita atenção no filme.
O Adrian e o Lucas são parceiros de trabalho e da vida. Já trabalhei com eles em publicidade, na televisão. O Lucas, por exemplo, que é gaúcho, quando chegou em São Paulo nosso entrosamento foi imediato. Tiveram temporadas em que ele chegou a morar na minha casa, períodos de quase seis meses em que ele só saía no final do dia para ir dormir. A gente ficava trabalhando direto, foi muito bacana. É um baita parceiro. O processo dele como editor é muito doido, pois persegue uma perfeição quase inalcançável, sem desistir. É um excelente profissional. Foi por isso também que demoramos bastante para ter o primeiro corte do longa, mas quando veio estava quase pronto, mudamos muito pouco. Tivemos um total de quatro cortes no total. Foi por causa dessa demora, por exemplo, que enviamos o primeiro corte para Sundance, quando fomos selecionados. O Lucas é muito musical, é através dela que ele dá o tom da cena, marcando o ritmo, e isso foi algo que percebemos quando ele nos entregou o filme, já tinha uma cara, não era algo duro, seco. E o Adrian e também o Marcelo Escañuela, o Diretor de Arte, formaram comigo o trio que definiu que tipo de filme a gente teria. Nós três desenhamos todas as cenas, desde o início, na casa, que é mais simétrica, com os personagens mais enjaulados, até a busca por esse filho perdido, no campo, em céu aberto. Filmamos em 16mm, como um dos últimos dos moicanos (risos). Foi tudo muito planejado, e intencional. A direção de arte e a fotografia são muito orgânicas e integradas.
Como está sendo estrear no cinema com um time tão forte quanto o apresentado em A Busca e como o público tem recebido o filme?
As primeiras exibições tem sido muito boas, desde Sundance a gente tem percebido isso. Já passamos por 27 festivais desde então, ganhamos como Júri Popular no Festival do Rio, e isso é muito bom. Queremos de fato dialogar com o público. É um filme que tem uma semelhança com o cinema argentino, mas intimista, pessoal. Estamos apostando muito, e estou muito feliz com toda essa galera ao meu lado.
(Entrevista feita por telefone desde o Rio de Janeiro no dia 06 de março de 2013)
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