A atriz carioca Adriana Moraes Rego Reis, mais conhecida simplesmente por Drica Moraes, está completando em 2012 vinte anos de carreira no cinema. A primeira experiência em longa-metragem foi na comédia fantástica Manôushe, uma produção internacional estrelada também por Telma Reston e Lélia Abramo. Quase ninguém o viu, mas serviu para despertar o gosto pela sétima arte na atriz que é bastante experiente também na televisão e no teatro. E é por causa dessa última expressão que ela irá circular por todo o país, em turnê nacional ao lado da atriz Mariana Lima com a peça À Primeira Vista. A primeira parada está marcada para os dias 23 e 24 de junho, em Porto Alegre, quando irá se apresentar no Theatro São Pedro. Foi sobre esse trabalho, e sobre algumas de suas principais incursões pela tela grande, que conversamos por telefone nesse bate papo exclusivo para o Papo de Cinema. Confira!
Vamos começar pelo óbvio: fale um pouquinho sobre a peça À Primeira Vista e sobre o teu personagem.
Ok. À Primeira Vista é sobre amor, sobre nossos amigos, sobre amizade, as diferenças que existem entre todos nós e sobre o que resulta da mistura entre nós e aqueles que estão ao nosso redor. É um texto muito bonito, muito emocionante, e que me empolgou bastante. Eu e a Mariana interpretamos duas amigas, e o recorte de tempo da peça é dos 19 aos 29 anos, ou seja, essa faixa dos 20, o começo da vida dessas duas meninas. É um momento muito importante, pois é quando começamos a definir quem somos, nossa sexualidade, nossos interesses, nossa profissão. É também quando pensamos mais nas origens, de onde viemos e para onde vamos, aquele papo que nunca tem fim. Tem muita emoção, mas também muito humor.
Pelo jeito é algo bem mais leve do que o teu trabalho anterior no teatro, o impactante A Ordem do Mundo?
Ah, com certeza. O A Ordem do Mundo foi um tour de force, foi um choque, precisei de entregar por completo. Era um texto muito forte, que gostei muito de fazer, mas também que exigiu muito de mim. Com À Primeira Vista é outra pegada, tá sendo uma verdadeira delícia. Fui super bem recebida, está sendo um prazer trabalhar nela. Eu saí daquela visão pessimista, ou se poderia dizer realista, do A Ordem do Mundo, e agora estou envolvida por algo muito mais alegre, positivo. E também tem toda a estrutura, essa é uma peça muito mais minimalista, o cenário é apenas um telão vislumbrando o infinito. É tudo muito mais suave, mais doce. E com uma temática mais emocionante, acolhedora.
Há quanto tempo À Primeira Vista está em cartaz?
A peça estreou há apenas três meses no Rio de Janeiro, no Teatro Poeira. Agora é que vamos sair em turnê pelo Brasil pela primeira vez, e Porto Alegre será a cidade de estreia. É bacana também porque Porto Alegre foi uma das últimas cidades a conferirem A Ordem do Mundo, ou seja, é uma cidade super importante pra mim como fim de um momento muito difícil, que foi a doença, e agora como começo de outro, em que tudo está melhor.
Como está sendo essa retomada após tua recuperação?
O ano de 2010 foi muito complicado. Foi quando tive o diagnóstico da leucemia, quando tive que me internar, tudo parou. O Bruna Surfistinha, que foi meu último filme até agora, fiz enquanto estava doente. Foi uma barra, tinha muitas dores, tem cenas que foram muito complicadas de serem feitas. Pra fazer À Primeira Vista também, no início, foi um desafio, porque nos exigiu muito ensaio, de seis a sete horas por dia. Eu não tinha certeza se iria conseguir. Então, estar aqui, agora, nas vésperas da peça viajar pelo Brasil, é uma emoção muito forte, porque significa que consegui, que superei e deixei pra trás uma fase complicada e que tudo só tende a melhorar daqui pra frente.
E quais são os seus próximos projetos no cinema?
Em cinema se fala muito e se decide pouco, né? Então, tem algumas coisas bacanas, mas nada muito certo ainda. Tem um projeto muito bacana com o João Jardim (Amor?), que se rolar será ótimo. É um super roteiro, de um thriller sobre os últimos dias do Getúlio Vargas. O meu papel será o da Alzira, filha dele. Mas o meu envolvimento ainda é muito embrionário, estou lendo e estudando a respeito, mas nada certo. Se sair, será para o ano que vem.
Você chegou a ver Bruna Surfistinha? É uma das tuas atuações mais fortes no cinema.
Sim, vi o filme. Mas é muito difícil separar. O meu personagem era ótimo, e adorei o convite e o resultado. O processo de fazê-lo é que foi difícil, e por um problema pessoal meu, não pelo filme em si. A preparação foi intensa, nós todas fomos conviver com meninas de programa numa casa de auxílio em São Paulo, então se aprendeu muito. Nem 10% do que coletamos está na tela. Era muito material, e o meu personagem tinha muita amargura, aridez, e isso combinado ao meu estado físico de limitações, foi bastante complicado. Eu não conseguia decorar os textos, não conseguia me concentrar. Foi muito difícil. Fui ver o filme tempos depois, quando tudo já havia passado. E gostei bastante, apesar das minhas memórias dele não serem as melhores.
Combinou o fato de ser um drama, e você sendo uma atriz bastante ligada com a comédia?
A comédia é uma via de mão dupla, né? É muito bacana, é muito difícil, mas se você só faz isso acaba estereotipado. Fiz filmes muito engraçados, como Os Normais 2 (2009), ou O Bem Amado (2010)… sem falar do teatro e, principalmente, da televisão. Mas o bom é experimentar mais, ousar mais. Não ficar preso somente a um gênero. Foi um dos motivos de ter aceitado fazer Bruna Surfistinha, queria fazer algo diferente, com essa pegada polêmica, mas nada gratuito, tudo foi muito cuidado, estudado. E a comédia pode estar em tudo, o bom humor sempre tem espaço. Basta saber lidar com ele.
De todas as suas experiências no cinema, qual mais te marcou?
É difícil não pensar em Bruna Surfistinha, por tudo que esse filme representou nessa etapa da minha vida. Mas tem um filme que gosto muito, que é o As Meninas, baseado no romance da Lygia Fagundes Telles, com a Adriana Esteves e a Cláudia Liz. É um filme muito brejeiro, simpático, aquela coisa querida que ficou na memória. Tem um visual antigo, mas aconchegante, acolhedor. Teve também o Bossa Nova, com o Bruno Barreto, o Antonio Fagundes, a Amy Irving… esse foi bem bacana também, até porque tinha aquele tom de romance, mas muito humor, muito leve. Gostaria de ter feito mais cinema, sou uma atriz muito bissexta. Acho sempre que sou a última opção, que os diretores só me chamam quando não conseguiram mais ninguém (risos).
Entrevista feita por telefone no dia 06 de junho de 2012.
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