O ator argentino Ricardo Merkin é uma das estrelas de A Voz do Silêncio (2018), novo longa-metragem do cineasta André Ristum, coprodução Brasil/Argentina que saiu do Festival de Gramado 2018 com os kikitos de Melhor Direção e Melhor Montagem. Nas palavras do nosso editor-chefe Robledo Milani, escritas na crítica sobre o filme, “Ricardo Merkin (está) excelente ao oferecer brilho ao indivíduo que aos poucos está se apagando…”. Veterano das telas, telonas e dos palcos argentinos, Ricardo já havia trabalhado no Brasil, no filme Histórias Que Só Existem Quando Lembradas (2011), ou seja, tem uma relação estreita com o nosso país. Neste Papo de Cinema que tivemos com ele durante o evento na serra gaúcha, conversamos sobre o intercâmbio cultural propiciado pelas coproduções, a relação do ator com seus colegas de elenco, bem como acerca das particularidades de A Voz do Silêncio. Confira mais essa entrevista exclusiva (e internacional) no Papo de Cinema.
Ricardo, qual a sua relação com o cinema brasileiro?
É bem forte. Sou cinéfilo há muito tempo. Vi grandes filmes brasileiros na época em que eles chegaram à Argentina. Em Buenos Aires havia uma sala que programava semanas dedicadas à cinematografia de algum país. Vi nela os filmes de Glauber Rocha, como Deus e Diabo na Terra do Sol (1964), e assisti à O Pagador de Promessas (1962). Possuo uma história forte com Brasil, entre outras coisas, também porque tenho um grande amigo brasileiro, talvez o maior de todos os meus amigos. Então, dessa soma de fatores surge a minha estreita relação com Brasil.
Atores e atrizes argentinos têm aparecido em filmes brasileiros. Você acha possível o contrário acontecer, atores brasileiros em filmes argentinos ou a barreira da língua ainda é muito forte?
Acho a barreira da língua muito forte, realmente. Ademais, hoje em dia, com os problemas políticos e econômicos daqui se torna ainda mais difícil, bem mais difícil, na verdade, esse intercâmbio com brasileiros trabalhando em filmes argentinos.
Você já havia colaborado com Julia Murat. Como compararia os processos dela e de André Ristum?
Tanto Julia quanto André são diretores sensíveis, além de obsessivos graves (risos). Ambos agem em benefício dos atores e do filme. Com Júlia estive no interior do Rio de Janeiro, passei um tempo muito lindo por lá. Houve também algumas brigas (risos). Com André tive uma química imediata. Quando o ator tem confiança no diretor, gerando essa química, ele baixa as suas defesas e se entrega. Acredito que foi um lindo matrimônio entre nós (risos).
Quais foram as suas primeiras impressões ao ler roteiro de A Voz do Silêncio?
Como certa vez disse uma grande professora de atuação na Argentina, a primeira coisa que os atores observam não é o personagem, mas quantas linhas de fala eles têm (risos). Agora, sério. Existem elementos pessoais que fizeram que tudo fosse imediatamente bem próximo a mim. Meu pai morreu há muito tempo, mas recordava dele justamente com esse olhar perdido que acabei utilizando no filme. Essa característica foi a primeira coisa que me bateu na leitura.
O filme está prestes a chegar ao Brasil, mas já estreou na Argentina. Como foi a recepção por lá?
Muito boa, muito boa, mesmo. Na noite de estreia havia bastante gente. O filme foi amplamente aplaudido. Posso dizer que foi uma noite de nirvana (risos).
O seu personagem tem uma relação próxima com o do Cláudio Jaborandy. Como foi o trabalho com ele?
Excelente. Além disso, tivemos muitas conversas fora das filmagens sobre política, acerca das cooperativas, enfim, pautadas em coisas com as quais estou envolvido na Argentina. Jaborandy é, ele próprio, um personagem, um grande companheiro. O filme de André tem várias virtudes, principalmente a maneira como desenvolve suas histórias, mas nele há algo que realmente é pouco usual: os atores, eu incluso, realmente vestiram a camiseta. Isso não é pouco.
(Entrevista feita ao vivo, em agosto de 2018, durante o Festival de Gramado)