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Radicado há alguns anos no Rio de Janeiro, o gaúcho Rafael Sieg, nascido em Panambi, sabe muito bem como filmar na estrada pode ser desafiador e gratificante. Personagem de destaque em A Última Estrada da Praia (2010), ele retorna ao road movie com Alaska (2019), interpretando Fernando, sujeito às voltas com o luto pela morte do pai fazendeiro no interior de Goiás, na companhia da ex-namorada com a qual teve outrora um rompimento abrupto. Introspectivo na maior parte do longa-metragem dirigido por Pedro Novaes, Rafael tem a árdua missão de construir uma figura que se expressa por meio dos detalhes. Conversamos brevemente com o ator por telefone para saber como foi o processo de construção de Alaska, as dores e as delícias de encarar uma viagem de 15 dias pela Chapada dos Veadeiros a fim de fazer de Fernando um sujeito tão efetivamente interligado à paisagem quanto às dúvidas que sobrevém aos episódios potencialmente devastadores. Confiram a nossa entrevista exclusiva com Rafael Sieg.

 

O que mais te atraiu no Fernando, já na fase da leitura do roteiro?
Desde o começo, o Pedro (o diretor) falou que o roteiro estava aberto, que contava conosco, comigo e a Bela (Carrijo), para construir a história. Me interessava falar de relacionamento, isso dentro da estrutura de road movie, ainda mais filmando na Chapada dos Veadeiros. Essa tríade era irrecusável, e a liberdade que tínhamos representava um grande desafio.

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Não é seu primeiro filme de estrada. Quais são as dores e as delícias de se fazer um filme assim?
O Fabiano diz: “essa liberdade não é para qualquer um”. O grande desafio do filme de estrada é: você não sabe o que vai encontrar pela frente, tudo é possibilidade. Não há um lugar efetivamente seguro no qual se apoiar. Lidamos constantemente com improviso. A grande delicia é que a estrada, por si só, especificamente nessa paisagem por onde passamos, oferece um deslocamento saboroso. Foi uma viagem de 15 dias. Então, a grande benesse é perceber que está tudo ao seu favor, a favor do personagem, porque ele se relaciona diretamente com isso. Saber apreciar a paisagem é fundamental num filme de estrada.

 

Como se deu o processo de desenvolvimento da intimidade com a Bela Carrijo? Vocês já tinham trabalhado juntos no teatro, certo?
Quando você vai trabalhar com alguém, não há garantias. Uma amizade pré-existente não torna as coisas necessariamente mais fáceis. Trabalho com a Bela há 10 anos. A intimidade e a tensão que existe entre esses corpos foram construídas pelo Fred Foroni, que fez a preparação, que nos ajudou a encontrar a temperatura, pois transitávamos numa esfera que não era a nossa. Tem a nossa cumplicidade, claro. Mas, a Bela é de Goiânia, eu não sou. Como nos aproximarmos disso, uma vez que ela era a personagem que tinha ido embora? O Fernando era o que queria ficar. O Pedro apontou para uma coisa curiosa, a cena musical da cidade, que mistura rock e sertanejo. Eu não conhecia o rock de Goiânia. Gosto de ter música nos meus processos criativos, então o ritmo foi fundamental. Fui navegando por essa sonoridade para entender o lugar.

 

Que tipo de influência o cenário, a Chapada dos Veadeiros, exerceu sobre a sua composição do Fernando?
Tem uma coisa muito ligada ao Pedro. O conheci quando fomos filmar. O Pedro é geólogo, um cara completamente apaixonado por aquele lugar. Os personagens têm muito de todos nós, inclusive do Pedro, porque trabalhamos com o roteiro aberto. Ao longo do processo, para mim foi importante entender a relação do Pedro com o cenário e a paisagem humana. O silêncio é o que mais imprime nessa ligação dele com aquilo tudo, e isso me chamou a atenção. Esse é um grande elemento do filme, o silêncio preenchido de dúvidas e incertezas, algo que também tem muito de cumplicidade.

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Que desafios são impostos pelo fato de estar quase integralmente em cena?
Há respiros, e eles estão justamente no silêncio. Filmamos a longos tempos, com o Pedro permitindo que rodássemos muito em silêncio. É desgastante emocionalmente, porque é uma história que fala do vazio, você está dirigindo na estrada, ainda por cima. Ser contemplativo é esse respiro. Não há um conflito melodramático, embora seja um longa sobre relacionamento. O Pedro sabiamente tirou esses lugares das discussões banais. Para mim, é um filme que fala sobre o entre. Quem somos entre o que acabou e o que seremos ao nos reconstruir?

 

(Entrevista concedida por telefone em março de 2019)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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