Conhecido no mercado audiovisual brasileiro pelos seus trabalhos como roteirista, Álvaro Campos foi responsável pelos textos de séries de televisão como Os Buchas (2009) e Os Gozadores (2010), entre outros. Mas a paixão e a vontade de estrear, que sempre esteve presente, começou a se manifestar a partir de um encontro ao acaso. Nos bastidores de um dos seus trabalhos, encontrou pela primeira vez Leonardo Reis, mais conhecido pelo seu nome artístico: Gigante Léo. O apelido, não desprovido de certa ironia, acabou servindo para fazer dele o ator com nanismo mais conhecido do país. A parceria entre eles primeiro resultou no curta documentário Leo & Carol (2015), e depois no longa de ficção Altas Expectativas (2017), que após ser exibido comercialmente no final do ano passado, tem circulado agora pelos principais festivais internacionais. E foi sobre essa repercussão que a gente conversou com exclusividade com o diretor. Confira!
Olá, Álvaro. Tudo bem? Como surgiu o convite para participar do Miami Film Festival com o Altas Expectativas e o que isso representa para o filme?
Olá. Tudo bom, Milani? O convite veio em resposta a nossa inscrição e, assim, se torna o terceiro festival classe A pela Ancine a nos receber. Isso reforça que o filme tem um apelo universal. Esta será a segunda exibição do filme nos Estados Unidos. Anteriormente, fomos premiados no Fair Hope Film Festival, no Alabama. A participação no Miami Film Festival e no Fair Hope Film Festival é um bom sinal para o longa, porque, dessa forma, aumentamos as nossas chances para buscar um distribuidor americano. O curta Leo & Carol (2015), inspirado no romance de Gigante Leo e sua esposa Carol Portela, já conseguiu encontrar. Acho que essa seria a cereja do bolo para carreira do Altas Expectativas.
A tua ligação com o Gigante Léo já vem de longe. Como começou essa parceria artística entre vocês?
Eu e o Leo nos conhecemos nos bastidores de um reality show e nos tornamos grandes amigos. Há três anos, o projeto parecia impossível – eu nunca tinha dirigido ou produzido um longa e ele nunca tinha considerado realmente ser um ator dramático, especialmente, um protagonista de cinema. Essa vontade de levantarmos a história e nos desafiarmos nos aproximou, mergulhando cada vez mais no roteiro e na conceituação do filme. Quando o projeto foi crescendo e gente grande foi embarcando, aí mesmo que tivemos a certeza de que precisávamos ser um time mais do que nunca.
Pois então, vamos falar sobre isso. Antes do Altas Expectativas, tivemos o curta Leo & Carol. Podemos dizer que um ‘nasceu’ do outro, que o longa é uma adaptação do curta, ou você considera ambas obras independentes?
Ambos são independentes. As duas obras ficam de pé sozinhas e até o público dos dois filmes tem se espantado quando sabem da outra obra. Mas, claro, são irmãos. O Altas Expectativas não seria o mesmo filme se não tivéssemos passado pela experiência do curta, que não seria o mesmo se não tivéssemos buscado os elementos conceituais do longa.
Como foi a parceria com o Pedro Antonio, codiretor e coroteirista de Altas Expectativas?
Nós estávamos fazendo um filme sobre aceitação de diferenças. Teríamos fracassado se não tivéssemos lidado bem com as nossas. Aprendemos muito juntos e houve uma ótima complementação. Ele é mais intuitivo, eu sou mais conceitual. Os dois puderam liderar o time em momentos diferentes da criação.
Além do Miami Film Festival, o Altas Expectativas foi premiado no Festival do Rio, no Brasil, e exibido no Festival de Montreal, no Canadá. Como tem avaliado essa repercussão internacional do filme?
Eu tenho avaliado que conseguimos alcançar em grande parte a nossa meta: contar uma história universal, que pudesse emocionar públicos de diferentes países e culturas.
Ainda causa surpresa termos um anão como protagonista de uma história de amor? Ou você acha que esse é um cenário que está começando a mudar?
Ainda é uma surpresa. Talvez não exatamente o protagonismo, mas a realidade de que um deficiente pode ser realizado no amor. Ainda é uma surpresa grande para maioria que assiste ao longa como esta é uma história baseada em fatos reais. Quando comprovamos isso com o curta documental, é interessante ver como alguns têm dificuldade de lidar com essa questão ao sair da sala de cinema. Claramente, eles estão reavaliando seus próprios pré-conceitos enquanto processam o filme.
(Entrevista feita por e-mail em março de 2018)
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