Assim como grandes nomes da música, nacional e internacionalmente falando, o duo Anavitória agora tem um filme para chamar de seu. Ana e Vitória (2018) não é uma cinebiografia, mas possui diversos elementos próximos à trajetória ascendente de Ana Caetano e Vitória Falcão rumo ao estrelato. Neste Papo de Cinema, que tivemos com elas no Rio de Janeiro – aliás, no mesmo hotel em que boa parte das filmagens foi realizada –, ambas esbanjaram carisma e autenticidade, não se furtando de brincar, tornando a conversa o menos informal possível. É, aliás, esse jeito despojado e simples que forjou as imagens públicas da tocantinense e da goiana que, juntas, chegaram rapidamente às cabeças das paradas de sucesso. Com leveza, a dupla falou acerca da novidade de encarar os bastidores cinematográficos, do entendimento de lidar com a chamada “arte da espera”, além de elucubrar sobre quem poderia interpretá-las, caso não tivessem encarado o desafio proposto pelo cineasta Matheus Souza. Confira mais este Papo de Cinema exclusivo, com as simpaticíssimas Ana Caetano e Vitória Falcão.
Qual era o contato de vocês com o cinema antes do Ana e Vitória?
Ana Caetano: Somos fãs de cinema, adoramos esse ritual de sair de casa para assistir a filmes.
Victória Falcão: Aliás, isso se tornou muito mais importante depois que mudamos de cidade. Passamos a escolher melhor, ter uma gama mais ampla de coisas para ver.
A: Sim, pois, apesar de gostarmos muito, nas nossas cidades não havia tanta possibilidade. Tinha cinema, mas os filmes chegavam um mês depois de todos os lugares.
V: Hoje em dia, continuamos gostando muito, também de séries.
O que vocês gostaram e não gostaram dessa maquinaria do cinema, com a qual vocês tiveram contato pela primeira vez?
A: O bom foi como isso se refletiu depois. Tenho a impressão de que amadurecemos cinco anos fazendo o filme. Lidamos com pessoas diferentes, com o universo do cinema, que é bem distinto do da música. A parte mais complicada é o sono (risos). É bem o que todo mundo falava: cinema é a arte da espera. É só espera, meu amigo: para comer, para gravar, espera para esperar (risos).
V: O que mais vimos de doideira foi a produção de fato, e depois como isso se transforma em mágica. No estúdio, gravando música, é tudo muito mágico, os sons, a junção das coisas. Já no cinema, a gente não vê isso acontecer na hora. Foi uma surpresa muito grande assistir ao filme pronto. Boto fé que, para todo ator, no fim das contas, deve algo do tipo: “caraca, que lindo ficou”. O tempo de produção no cinema é maior.
A: Engraçado, pois depois de fazer o filme, ficamos ligadas em tudo, imaginando como determinado plano foi feito. É muito doido (risos).
Gostaria que vocês comentassem a forma, sem tabus, com a qual o filme aborda a sexualidade, os amores. Vocês participaram dessa construção na fase do roteiro?
A: Fizemos um laboratório com o Matheus, em que ele ficou conhecendo a gente, inclusive de que forma enxergamos o amor, de um jeito livre e individual, porque cada um sabe do seu, né? Acho que ele quis imprimir isso no filme e, claro, compramos a ideia. É importante falar disso de uma maneira sensível, natural e leve.
V: A coisa mais bonita é que não há tabus, só a verdade pela verdade, é como os amores são realmente.
A: Para quem vive esses amores, as coisas simplesmente acontecem. Para quem vê de fora, pode parecer mais complicado.
Como foi a construção da trilha sonora, vide que ela ocorreu antes do roteiro?
A: Não teve um processo especial, na verdade. Acabou o primeiro disco, continuei escrevendo. Passamos para o Matheus as músicas que tínhamos até aquele momento e ele se baseou também nelas para construir a trama.
Como foi a relação especificamente com o Matheus Souza?
A: O Matheus é muito genial. Admiro ele como pessoa e profissional. Por isso, o convidamos para fazer parte de tudo isso. O Felipe Simas (empresário do duo) deu a ideia. Já tínhamos visto seus filmes. O Matheus tem uma linguagem muito jovem, super coerente com o que buscávamos. Ele abraçou prontamente a ideia, foi bem parceiro. Estivemos juntos durante o processo. Ele, basicamente, nos preparou para atuar.
V: Para mim, o mais bonito foi o Matheus entender as nossas limitações, pois não somos atrizes. Ele conseguiu extrair exatamente o que queria, até porque fomos nos encontrando.
A: Perdi as contas de quantas vezes fiquei desesperada, achando que não daria conta. Mas aí ele transmitia confiança.
Vocês pensam em atuar fora de papeis tão próximos de vocês?
A: Nem deu tempo direito para pensar nisso (risos). Acho que tu tem mais vontade, né (apontando à Vitória)?
V: Quando saí de casa, fui para São Paulo a fim de fazer teatro. A música aconteceu, então abandonei a atuação por conta do que foi rolando. Hoje, o que fala muito alto na minha vida é o Anavitória e como lidamos com isso. Nós duas vivemos bastante o agora.
Quem vocês escolheriam para interpretá-las, caso tivesse batido medo de fazer o filme?
A: Inclusive esse medo bateu (risos). Um dia antes de começar as filmagens, bateu crise existencial. Eu disse pro Felipe que não tinha capacidade cognitiva para aquilo (risos). Ele virou para a gente e falou: “olha, é uma grande pena, fico triste que vocês me falem isso, mas a escolha é de vocês”.
V: Chegamos em casa, choramos (risos), mas botamos na cabeça que faríamos de qualquer jeito.
A: Acho que a Nathalia Dill poderia interpretar a Vitória. Ela toca violão, inclusive.
V: Pintaríamos o cabelo da Clarrissa Müller, que interpreta a Cecília no filme, e ela faria a Ana. Pronto, tá escolhida (risos).
(Entrevista feita ao vivo no Rio de Janeiro em julho de 2018)