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Marcelo Adnet é um ator/comediante/diretor/roteirista (ufa!) amplamente conhecido. Depois de uma temporada (alguns anos) bem-sucedida na MTV, no qual apresentou programas exitosos, tais como o 15 Minutos, ele migrou para a Rede Globo. Muitos apostavam que Adnet ficaria na famigerada “geladeira”, ou seja, cumprindo contrato na maior emissora de televisão do Brasil apenas para que não fizesse estardalhaço numa concorrente qualquer. Não foi o que aconteceu. Uma sequência de projetos bem recebidos pelo público e pela crítica fez dele um dos pontas-de-lança do entretenimento da empresa carioca. No campo da dublagem, Adnet já havia cedido sua voz a diversos personagens de O Zelador Animal (2011) quando recebeu o convite para dublar Red, o protagonista de Angry Birds: O Filme (2016). A experiência deu tão certo que, claro, ele repete a dose agora em Angry Birds 2: O Filme (2019), produção que estreia nesta quinta-feira, 03, pela Sony Pictures. Conversamos por telefone com Adnet para saber mais do trabalho e como foi voltar ao universo da eterna luta entre pássaros e porcos. Confira este Papo de Cinema:

 

Tem algo que te interessa especialmente na dinâmica do trabalho de dublagem, esse recurso adorado por uns e visto por outros com ressalvas?
Às vezes as pessoas torcem o nariz não necessariamente para a dublagem que fazemos no Brasil, mas para o fato de determinado produto efetivamente estar dublado. Muitos preferem o som original. Porém, os dubladores brasileiros são absolutamente geniais. Fui dirigido nesse trabalho pelo Manolo Rey, que é um cara assim, genial. Só no “bom dia” dele você já identifica um monte de figuras conhecidas. Estou chegando agora nessa área, humildemente, pronto para aprender. O que me atrai na dublagem é que se trata de uma modalidade do audiovisual super difícil, na qual há vários desafios. Não é necessário apenas sincronizar a fala com a boca dos personagens, mas principalmente com as expressões deles. É preciso muito poder de observação.

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O que mais te atraiu no Red, lá em 2016, quando você foi convidado a dubla-lo pela primeira vez?
Primeiro, eu jogava o jogo sempre, especialmente em viagens. Era um baita passatempo. Quando rolou o convite para o trabalho, portanto, eu já conhecia muito bem esse universo. O Red é o menos caricato dos personagens da animação, se você perceber bem ele é o único com características básicas humanas. Red está constantemente mal humorado por conta das coisas daquela sociedade. Ele é politicamente incorreto. Todavia, ao longo dos dois filmes, assume novas posturas, se tornando mais dócil e corajoso. Há todo um desenho de personagem que me interessa.

 

Neste novo filme é bastante explorada a fragilidade dele, a carência. Acha importante, inclusive por ser um filme infantil, essa quebra do ideal de um herói sem fragilidades?
A grandeza dele é justamente essa. Ele não tem superpoderes. O Red está naquela esfera do mediano para baixo, não possui uma habilidade incrível, mas carrega a sinceridade de ser, de fato, quem é de verdade. Simples assim. Isso que você citou da fragilidade deixa ele perto do que eu mencionei anteriormente como sendo a sua humanidade.

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Marcelo Adnet – Foto: divulgação

Há um barato diferente na concepção da voz para uma produção voltada às crianças?
Olha, é bem legal você saber que faz algo para o publico infantil. Porém, não mudo minha maneira de trabalhar por conta disso. Uma das coisas maneiras, e que me parece imprescindível, é não tratar a criança como alguém necessariamente infantilizado. Claro que estamos fazendo algo evidentemente para os pequenos, super colorido, com sons específicos, mas não é preciso infantilizar ainda mais a pegada. E o filme também é legal para os adultos. Há várias sacadas apenas para eles. O Red vive numa sociedade com desafios bem parecidos com os nossos.

 

Angry Birds 2: O Filme prega a união entre os rivais. Essa mensagem chega numa atualidade mundialmente polarizada. Como você enxerga isso?
Estamos num ponto em que é possível fazer diversas conexões, ler algumas coisas como bem quisermos. No primeiro filme existe uma vontade de unir a sociedade dos pássaros. Já neste segundo, os personagens têm de aceitar, caso queiram sobreviver, os que são diferentes. Há uma coisa bem legal sobre isso, que passa quase num nível inconsciente, pois não está tão na cara. Então, certamente é uma leitura possível essa da união de forças com quem é diferente, com aqueles que, num primeiro momento, podem ser entendidos como estranhos e até hostis.

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Marcelo Adnet – Foto: divulgação

Se você não dublasse o Red, qual dos outros personagens gostaria de fazer?
Escolheria o Bomba, porque ele tem uma voz muito grave e estou com a minha cada vez mais assim, tanto que os registros agudos estão cada vez mais difíceis. O Bomba atua lá embaixo (Adnet faz uma voz bem grave ao falar isso). Acho que seria um barato.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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