Os clássicos dão margem para releituras e reinterpretações. É no que aposta Gemma Bovery: A Vida Imita a Arte, com a história de um casal de ingleses que se muda para o interior da França. O padeiro do local (Fabrice Luchini) percebe as semelhanças entre seus novos vizinhos e os personagens do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. A partir daí, vemos uma história de sedução e obsessão.
A diretora Anne Fontaine (Amor sem Pecado, 2013) esteve no Brasil durante o Festival Varilux de Cinema Francês para divulgar o filme. Na ocasião, conversou com Papo de Cinema sobre seu filme mais recente.
Qual sua relação com a obra de Gustave Flaubert antes do filme?
Quando tinha vinte anos, li duas vezes Madame Bovary. Para uma pessoa dessa idade, é um choque literário e achei incrível uma pessoa do sexo masculino ser tão precioso na retratação do sexo feminino.
Como se deu seu contato com o romance Gemma Bovary?
Quando o encontrei, percebi no livro de Posy Simmonds suas alusões humorísticas, com muita liberdade; achei brilhante. Tem Bovary, nas também é sobre a arte. Como artista, você faz essa mistura. Fiquei intrigada com a união da cultura britânica e francesa e foi um prazer escrever um roteiro a partir dele.
Como é a reação dos fãs dos livros com o filme?
A autora ficou feliz com o filme. Muitos escritores dizem que a adaptação é diferente, mas se impressionaram com a ironia. Isso porque o livro lida diferente com a história.
Hoje temos alguns exemplos de atualização de clássicos, como as séries Sherlock e Elementary. Você vê relações de seu filme com esses casos?
Eu estava nos Estados Unidos há um mês e os jornalistas falaram muitos sobre a releitura, ao lado do tema da adaptação direta. Por isso, mesmo quem não conhece Madame Bovary pode ver o filme. Gosto da mistura da literatura clássica com uma pegada mais moderna.
Por que a escolha de Fabrice Luchini?
Eu sabia que aquele personagem existia na vida real, porque Luchini é obcecado por Flaubert desde sua juventude. Quando o conheci, nosso primeiro jantar foi para conversar com Madame Bovary – eu tinha 22 anos. O amor dele é tão grande que a filha dele se chama Emma, então não tinha outra opção de ator para o papel.
Em seu currículo, há Coco antes de Chanel (2009). Você não se intimida com a retratação de ícones franceses no cinema?
Eu sempre me sinto intimidada em fazer qualquer filme, porque ter um personagem forte é intimidante. Eu nunca faria um filme sobre a Chanel famosa, por exemplo. Prefiro o mistério e acho que isso dá mais liberdade. Eu não quero representar mitos.
(Entrevista feita ao vivo em São Paulo em junho de 2015)