Cineasta cearense com larga experiência, Joe Pimentel iniciou a sua carreira audiovisual na década de 1980 realizando filmes em Super-8. O Brasil era outro, o país tentava se redemocratizar e o cinema sofria com as pressões de uma severa crise econômica – teríamos um pouco mais à frente ainda a sofrível Era Collor. Desde então, ele participou da cena audiovisual do Ceará em diversas posições, como operador de câmera, fotógrafo, assistente de direção e diretor. Em 2001, dirigiu e roteirizou o curta-metragem em 35mm Retrato Pintado, filme que recebeu mais de 20 premiações em festivais nacionais e internacionais. Junto com Tibico Brasil, realizou em 2005 o filme Canoa Veloz.
Co-dirigiu em 2007/2008, ao lado de Glauber Filho, seu trabalho mais conhecido até então, o longa-metragem Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito. Com Antonio Bandeira: O Poeta das Cores (2024), grande vencedor do troféu Mucuripe de Melhor Longa-metragem da mostra Olhar do Ceará do Cine Ceará 2024, ele prestou homenagem a um de seus mais importantes conterrâneos quando o assunto o cenário artístico do século 20. Portanto, é um autor falando de outro autor, certamente se identificando com muitas coisas no meio do caminho. Conversamos remotamente com Joe Pimentel para saber um pouco mais sobre esse filme e o resultado você confere logo abaixo.
“Conheci o Bandeira na minha juventude ao visitar o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, que tem uma série de obras dele. Fiquei impressionado com os trabalhos, mas na verdade meio que esqueci ao longo dos anos que havia visto esses quadros e também outras exposições. Na década de 1990 fui montar um laboratório de vídeo no curso de Comunicação Social da mesma instituição e conheci o Francisco Bandeira, que cuidava do laboratório de fotografia e era sobrinho do Antonio (…) depois que o Francisco viu meus filmes, começou a manifestar esse desejo de que eu dirigisse um documentário sobre seu tio (…) eu já estava até me escondendo dele para não dar satisfação de que não havia feito o filme ainda. (…) mas em 2018 nos reencontramos e aí a coisa engrenou”.
“Esse filme foi feito quase no whatsapp (risos). Meu processo inicial foi muito solitário. Recorri a alguns adoradores da obra do Bandeira para juntar material a fim de ilustrar o filme, principalmente para ele não ficar chato. Mas nem sempre é fácil, pois há uma coisa do ineditismo, das pessoas não cederem material porque querem fazer algo inédito mais para frente sobre o Bandeira. Houve uma pegada bem arqueológica. Aliás, passei um ano montando o filme por causa disso. Montei uma estrutura e descobri que precisa cobrir certas coisas. Fiquei com a sensação de que poderia ter encontrado mais material, mas é a mesma sensação de todo filme”.
“Procuro pensar documentário como se ele fosse ficção. Quando fiz esse filme imaginei que utilizaria o sobrinho como dispositivo, esse cara em busca das memórias do tio. Aliás, até mesmo pela escassez de imagens, em determinado momento a ideia era Francisco virar realmente o tio. Por exemplo, quando eu utilizava os poemas, com quais imagens cobriria aquelas leituras? As fotografias não seriam suficientes (…) fico com uma nóia de que o filme ficou grande demais, mas principalmente os amantes das artes plásticas me deram um retorno legal nesse sentido, dizendo que queriam ver ainda mais”.
“Quero muito que todo vejam, mas saquei que estava fazendo um filme de nicho (…) a utilização do sobrinho e dos poemas era mais uma tentativa de não fazer somente um filme com gente falando. Quando escolhi os textos do Bandeira, junto com o meu co-roteirista, optamos por aqueles que poderíamos ilustrar melhor. Às vezes me incomoda um pouco no filme a falta de respiros entre uma coisa e outra, mas é totalmente por carência de imagens”.
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