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Apenas Alguns Dias :: “O filme é tão humanitário quanto humanista”, diz o roteirista Marc Salbert

Publicado por
Marcelo Müller

Marc Salbert é autor do livro De l’influence du lancer de minibar sur l’engagement humanitaire, publicado originalmente em 2015. Esse seu segundo romance foi adaptado aos cinemas em Apenas Alguns Dias (2024), um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês 2024. A trama conta a história de Arthur Berthier, crítico de rock relegado às reportagens gerais. Após destruir um quarto de hotel, é ferido por um policial enquanto cobre a desocupação de um campo de refugiados. Nessa ocasião, se apaixona por Mathilde, a líder da associação Solidariedade Exilados. Querendo ajudar, concorda em abrigar Daoud, um jovem afegão, pensando que será por pouco tempo.

Marc Salbert, um dos destaques da comitiva internacional do Festival Varilux de Cinema Francês 2024, adaptou o próprio livro em roteiro, na companhia de Julie Navarro, diretora do longa-metragem e também a sua esposa. O Papo de Cinema conversou com o autor/roteirista numa tarde agradável no Rio de Janeiro. Muito risonho e receptivo, Marc arriscou algumas palavras em português e compreendia parte das perguntas sem a necessidade da intérprete, pois tem uma relação com o Brasil que você confere no fim dessa entrevista exclusiva.

Qual foi o impulso para a escrita do livro?
Morei num bairro no norte de Paris. Vi refugiados chegando praticamente embaixo do meu prédio, se instalando em tendas. Fui conversar com essas pessoas para entender as suas histórias de vida. Achei que deveria fazer algo e esse foi o ponto de partida para a escrita do livro.

Como foi assistir ao filme pela primeira vez, as ideias e personagens do livro materializados em forma de cinema?
Foi uma emoção muito particular. Enxergar os personagens que inventei tomando vida foi uma sensação incrível. Realmente é uma emoção diferente, uma sensação muito pessoal.

E você trabalhou com a sua esposa na adaptação do livro. Quais eram as preocupações estritamente cinematográficas nesse processo?
O filme é bem diferente do livro. Como você disse, trabalhei com a minha esposa nesse processo. Principalmente ela levou a história para um lado mais de cinema social, diferente da matriz literária. Minha esposa se interessou bem mais pela parte que dizia respeito à associação, que no livro nem é tão extensa assim. Há personagens do livro que não estão no filme e vice-versa (risos).

Marc Salbert – Apenas Alguns Dias

Como escritor, foi doloroso ver essas mudanças?
Para começo de conversa, é muito difícil escrever a dois. Ainda mais quando é com sua esposa (risos). E, não se esqueça de que, no fim das contas, a palavra final era dela (risos). Sempre a diretora quem decide. Tivemos discussões bem animadas (risos). Foi uma dinâmica diferente, pois não havia os filtros sociais que geralmente marcam as relações de trabalho. A gente “quebrou muitas louças” (risos).

Você diria que o filme é mais humanitário do que humanista, no sentido de que constrói um discurso mais social e menos pessoal a respeito da imigração?
Eu acho que ele é os dois (nota da redação: respondendo em português). Me parece que o filme pode ser classificado como as duas coisas, tanto humanista quanto humanitário.

Uma coisa interessante sobre o protagonista é que ele foge daquele arquétipo de alguém insensível que aprende a ser melhor no contato com outro, mas mesmo assim ali há um amadurecimento…
Sim, você tem toda razão. A gente não sabe se ele vai se engajar mais depois disso, se vai cuidar de outros refugiados. O engraçado é que o personagem é feito por um cantor francês muito famoso. E durante o filme ele fala que a música francesa é horrorosa (risos). É uma piada interna do filme. Ele chega a falar mal das próprias músicas (risos).

Apenas Alguns Dias

E como está a expectativa para apresentar o filme ao público brasileiro dentro do Festival Varilux de Cinema Francês?
Tenho muita curiosidade de saber como as pessoas daqui vão reagir. Vi uma projeção em Recife e minha curiosidade nela sessão era saber se as pessoas do Brasil ririam nos momentos em que outras plateias riram mundo afora. E há uma coisa particularmente feliz para mim ao apresentar o filme no Rio de Janeiro, pois tenho uma filha que mora em Niterói. Ela virá com os seus amigos e estou muito feliz de ela poder assistir ao filme aqui.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.