Malu Rodrigues é o nome artístico de Maria Luísa Reisderfer Rodrigues, atriz – e também cantora – nascida no dia 28 de agosto de 1993 no Rio de Janeiro. Essa garota carioca começou cedo sua carreira artística, atuando como modelo e, posteriormente, tendo aulas de interpretação com diretores tarimbados como Luiz Antonio Rocha, Sura Berditchevsky, Marcio Trigo e Augusto Thomas Vannucci. Ao mesmo tempo, já tinha aulas de canto e de dança. Nos palcos é reconhecida pelos diversos musicais que participou – inclusive a versão nacional de O Despertar da Primavera, em que causou polêmica por aparecer nua em uma cena – e na televisão por suas participações em novelas como Pé na Jaca (2006) e Malhação (2013). No cinema, que marcou sua primeira experiência artística, ainda em 2004 – com apenas 11 anos de idade – ao aparecer ao lado de Renato Aragão em Didi Quer Ser Criança, foi também por muito tempo deixado de lado, até fazer as pazes novamente no início desse ano, ao estrear como uma das protagonistas da versão cinematográfica de Confissões de Adolescente, sob direção de Daniel Filho e Cris D’Amato. E foi sobre esse mais recente trabalho que a atriz conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Vamos começar falando sobre sua personagem em Confissões de Adolescente, que possui um dos arcos dramáticos mais interessantes do filme. Como você encarou essa responsabilidade?
Acho que o que me fez aceitar esse convite foi a certeza de que eu teria o apoio e a orientação durante todo o tempo de um mestre como o Daniel Filho ao meu lado. A primeira vez que o encontrei foi em uma reunião, quando ainda estava escolhendo o elenco, nem sabia ao certo para qual personagem eu seria escolhida – ou não. Mas após nossa conversa inicial, nem precisei fazer teste de cena, fui escolhida direto. Na época estava em cartaz com O Despertar da Primavera, tínhamos recém acabado a temporada no Rio e estávamos começando em São Paulo, era um momento de muita exposição para mim. Ele já me conhecia, gostava do meu trabalho e confiou em mim. E retribuí essa confiança acreditando nele que este seria um trabalho que eu deveria fazer.
Como ele lhe descreveu o personagem na hora do convite?
A primeira coisa que me disse foi que teria que ficar pelada em cena. Aquilo já foi um choque, “como assim, pelada?”, sabe? Por que, qual a razão? Mas daí me explicaram a história, o Daniel teve muita paciência, descreveu toda a jornada da Alice, o que ela passaria, e foi quando entendi. Nada seria – como, de fato, não foi – gratuito, a nudez é dentro de um contexto, faz sentido. E por isso que topei.
O que mais lhe atraiu no roteiro?
O Daniel não quis nos dar o texto antes. Fizemos somente uma leitura geral no começo, que era para termos uma noção geral do que cada personagem faria, até onde podíamos ir. Foi só quando todas as meninas, o elenco todo já havia sido escolhido e estávamos todos juntos que fomos ler o roteiro pela primeira vez. Mas já conhecia a série, o livro, tinha visto a peça, ou seja, não era um universo estranho. E eu mesmo sou uma adolescente, ou melhor, era… Não era nada novo, mas ao mesmo tempo era muito excitante e vibrante.
Como foi o preparo antes das filmagens?
Isso foi algo que tivemos que insistir bastante, porque o Daniel nos deu muita liberdade no nosso preparo. Então tivemos que pedir por workshops de atuação orientados, até para que a gente se conhecesse melhor, pudesse desenvolver uma afinidade de irmãs, mesmo. E não só isso, mas também com os namorados, com os pais, professores, amigos. Da minha parte, sentei junto com o Daniel e discutimos como seriam feitas cada cena, sem improvisos, tudo muito marcado. Mas sempre com espaço para opinarmos, ele ouviu muito as nossas sugestões, mas tudo antes do ‘ação’, entende? Nada nos foi imposto, foi um processo coletivo, colaborativo, de muita troca. Mais à vontade seria impossível!
Qual foi a cena mais difícil de fazer?
A que descubro que estou grávida, com certeza. E porque ninguém próximo a mim passou por isso até hoje, não tinha referências, alguém com quem conversar e me passar sua experiência. Ninguém na minha família, ou entre as minhas amigas, havia enfrentado algo parecido. Foi tudo muito novo, portanto, uma barra pesada que tive que construir do nada. E para isso foi necessário procurar, fazer pesquisa, conhecer pessoas neste tipo de situação. Até para entender qual é o sentimento e não fazer nada leviano. Consegui conversar com algumas pessoas, ao ponto de descobrir pessoas próximas que passaram por abortos, casos similares. Foi um processo muito legal e revelador, que me ajudou um monte a entender essa realidade. O meu choro, a emoção que emprestei para a Alice naquele momento, eram reais, pois os construí dentro de mim.
Mas como abordar um tema como a gravidez na adolescência de uma maneira jovem e acessível, porém sem banalizá-lo?
Acho que isso é o melhor do Confissões de Adolescente, pois é um filme que traz todos esses assuntos de modo sério, porém leve. Nós discutimos a gravidez em jovens, mas também o bullying, a falta de dinheiro, a busca por uma identidade profissional, e sempre de modo muito próximo, de fácil identificação, sem fazer disso um dramalhão. Nós vamos direto ao assunto, sem pudor. Tem palavrão, tem nudez, tem sexo… é a vida como ela é, certo? E esse choque de realidade é bom não apenas para os adolescentes, que são nossa audiência principal, mas também para os pais, para os adultos, para todo mundo que já passou por isso ou que um dia ainda vai viver situações parecidas.
Essa orientação era algo já estabelecido ou que aos poucos foi sendo formado durante as filmagens?
Isso já nos foi entregue assim, desde o princípio. Nunca houve a vontade de fazer um filme quadrado, convencional. Neste sentido, o que ajudou muito foi o roteiro do Matheus Souza, que era incrível, moderno, de fácil entendimento. Pra se ter ideia, ele até havia colocado coisas mais pesadas que tiveram que ser retiradas para que o filme fosse suavizado, que é quando entra o olhar do Daniel Filho, mais direcionado para o grande público. É um filme para todos.
Você começou sua carreira trabalhando com grandes nomes como Renato Aragão e Xuxa. O que aprendeu com eles?
Sempre trabalhei com gente muito respeitada no meio artístico. Estar ao lado deles, nem que fosse somente uma figuração, mas poder vê-los de perto, como faziam cada cena, era uma verdadeira aula. Tanto com a Xuxa quanto com o Renato eu era muito nova, estava recém dando meus primeiros passos, então nem lembro muito bem hoje em dia. Quando revejo hoje em dia acho graça, é uma memória bonita. Durante o filme que fiz com o Didi fiquei muito amiga da Lilian Aragão, a filha dele, estávamos sempre juntas. Mas fomos crescendo, cada uma seguiu seu caminho. E com a Xuxa eu era menor ainda, ela me pegava no colo, gente (risos)! Naquela época ela nem sonhava ainda em ter a Sasha, eu acho, então eu era quase como uma filha para ela. Foram momentos muito especiais!
Você é muito reconhecida também pelo talento que demonstrou em diversos musicais…
Os musicais foram um verdadeiro presente. Foi quando tive a oportunidade de atuar ao lado de gente como o Lucio Mauro Filho, José Mayer, Maria Clara Gueiros. E sempre sem medo, éramos todos colegas, parceiros. É claro que nunca vamos estar nem na ponta do dedão deles, pois são verdadeiros mestres, mas ao mesmo tempo são muito acessíveis. O importante é em cada situação dessas ser muito humilde e procurar aprender ao máximo. Na série Tapas & Beijos, em que pude trabalhar com a Fernanda Torres e com a Andrea Beltrão, era fantástico, pois além de ser muito engraçado elas são pessoas que admiro muito, então era muito bom ir estar ali, ao lado delas.
O que você prefere, cinema, teatro ou televisão?
Não sei, cada um tem seu atrativo. Penso que quanto mais diferente, melhor, independente de onde for. Quem tá mais acostumado com teatro fica mais apegado, é uma turma muito bacana. E o teatro é muito importante para a vida, com todos aqueles ensaios, seis dias por semana, oito horas por dia! Ele te cobra muito, você tem que estar sempre pronto, e o cinema também tem um pouco disso. Na televisão, por outro lado, é tudo muito instável, sabemos apenas o contexto, mas tudo muda muito rápido. Os três meios exigem muita responsabilidade, mas eu diria que é no teatro onde você aprende a se virar.
Confissões de Adolescente apresenta uma visão muito contemporânea das novas famílias. Você acha que o espectador está em sintonia com essa realidade que o filme propõe?
As pessoas se separam, não é mesmo? E quando cada uma decide ir para um lado diferente, isso não é o fim do mundo, é só uma nova etapa. Penso que a família está se ajudando o tempo todo, e é isso que o filme quer mostrar, que não importa se são apenas os irmãos, ou somente o pai, ou apenas a mãe, pois no final eles estão ali uns pelos outros. Apoiar e educar é muito importante, sem censurar. É preciso ter essa confiança e essa liberdade para deixar o adolescente experimentar e aprender com os próprios erros.
Creio que grande parte das espectadoras – e dos espectadores também – ficaram com inveja ao vê-la na cama com o Caio Castro e com o Thiago Lacerda. Como foi fazer essa cena?
Ah, foi muito engraçado. Se as pessoas na sala de cinema tivessem ideia de como as coisas são feitas nos bastidores… (risos). Nessa cena em especial eu fique de pé o tempo todo, nem cheguei perto da cama! Fiquei de costas para um chroma key, e eles iam se revezando, ajoelhados, na minha frente! Me senti muito especial (risos)! O Caio foi super fofo, aceitou o nosso convite de primeira, um querido. E o Thiago é um príncipe, carinhoso, educado, bonito, cheiroso… haha (risos). Foi muito legal. E o Christian Monassa, que faz o Marcelo, o namorado da Alice, é um querido. Criamos uma intimidade, afinal ficamos um mês juntos, quando vê é só um ‘se joga’ e vamos adiante! Tudo era muito marcadinho, quase como um balé. Tem que ficar pelado? Toca ficha! O filme pedia, e estávamos focados no resultado, no que realmente era importante. Nem deu muito tempo de pensar, só fomos e fizemos!
Como foi trabalhar com o Daniel Filho?
Uma marca do Daniel é que ele é sempre muito sincero. É um carrasco (risos), mas também muito fofo. É quase como um pai, sabe o que quer e sabe cobrar da gente. É muito exigente, o que é ótimo, pois está busca o melhor na gente. E ele é muito próximo também, quer saber da vida, o que cada um está fazendo, quem tá namorando com quem… é bem divertido. Ele é o próprio retrato do Confissões de Adolescente, essa coisa muito próxima e aberta. Não tem como não gostar!
(Entrevista feita com a atriz por telefone desde o Rio de Janeiro com o apoio da Sony Pictures do Brasil)
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