Durante o Festival do Rio 2016, ocorrido no começo do mês de outubro, um dos convidados internacionais que marcou presença na capital carioca foi o roteirista italiano Angelo Pasquini, que veio apresentar seu mais recente trabalho, o drama As Confissões (2016). Veterano profissional na ativa desde os anos 1980, Pasquini retomou nesse trabalho a parceria com o diretor Roberto Andò e com o ator Toni Servillo, ambos também presentes no maior sucesso de sua carreira, a comédia política Viva a Liberdade (2013). Este filme lhe garantiu o Davi di Donatello – o Oscar do cinema italiano – de Melhor Roteiro, além do prêmio do Sindicato Italiano de Críticos de Cinema e de uma indicação ao Globo de Ouro Itália. Com mais de vinte projetos no currículo, entre cinema e televisão, Pasquini acredita ter chegado o momento de falar de coisas mais sérias, sem subestimar a inteligência do público – não só entregando o que esperam dele. Sobre isso, e muito mais, o escritor conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
O titulo original do filme é no plural, são As Confissões. Porém a sinopse fala sobre uma importante conversa, entre um homem de negócios e um monge. Qual é a mais importante?
Na verdade tem muitas confissões dentro do filme, então essa é a razão do nome escolhido. Porém, a confissão principal é a do banqueiro. Ele é o que mais está precisando se confessar. Então… ambos seriam títulos possíveis, na verdade.
Seu trabalho anterior também foi com o Toni Servillo, num desempenho muito premiado, de ambos. Criou-se, com isso, uma responsabilidade grande sobre o o que fariam a seguir ou você já estava envolvido com As Confissões?
Tivemos várias ideias sobre o que fazer após o Viva a Liberdade (2013). Queria seguir trabalhando junto com o Roberto Andó, que é um diretor que admiro muito. Chegamos a estudar vários roteiros juntos, mas acabamos escolhendo o As Confissões porque era um tema bastante atual. Não era uma comédia, mas era um assunto com uma forte questão moral. E isso nos chamou atenção.
Como foi a expectativa na Itália em relação ao As Confissões? Depois do sucesso do Viva a Liberdade, que além de aplaudido pela crítica se saiu também muito bem com o público…
As Confissões é um pouco diferente porque não é mais uma comédia. Era algo menos comercial, então foi possível relaxar, pois sabíamos que a reação do público seria diferente. Mas é claro, depois de um sucesso como foi Viva a Liberdade, se tinha uma certa expectativa, as pessoas esperavam por algo mais ou menos na mesma linha. Talvez tenhamos decepcionado alguns, mas faz parte do jogo. E não se preocupem: daqui a pouco vamos fazer outra comédia.
O grande público brasileiro conheceu Toni Servillo após o incrível sucesso de A Grande Beleza (2013), ainda que ele tenha uma carreira muito longa. Você, que trabalha com ele há mais tempo, escreve pensando nele, ou espera o roteiro estar pronto e depois é que se questiona se ele se encaixa ou não?
As Confissões, por exemplo, foi escrito já pensando no Toni. Ele é uma referência clara, e este era um personagem muito difícil. Imagina, um padre que fez um voto de silêncio! Ter em mãos um personagem que fala muito pouco é um desafio e tanto, pois os atores se expressam com o corpo todo, não apenas com as palavras. E precisávamos que alguém que reprimisse tudo isso, que fosse contido. Era necessário um ator que se aproximasse dessa excelência. Por isso a gente sabia que tinha que ser o Toni.
Além do Toni Servillo, o elenco de As Confissões também tem outros nomes de peso. Como foi essa combinação? Foram surgindo enquanto o texto ia sendo escrito? Ou vieram depois?
O papel do Daniel Auteuil já estava dentro do roteiro, e sempre com ele em mente. Foi pensado para ele desde o princípio. Os outros, no entanto, vieram depois. Mas já se tinha a ideia de um elenco internacional. Era preciso essa combinação de nomes, de origens, de talentos diversos. Só assim iríamos conseguir o que estávamos buscando.
Este é um roteiro original? De onde veio essa vontade de debater os temas de As Confissões?
A ideia de contar uma história sobre um grande encontro internacional era fascinante, e começamos a trabalhá-la sempre com esse assunto em mente. O argumento é original, porque foi algo que surgiu com o Andò. Mas a pesquisa também saiu de alguns episódios reais que, em alguns desses eventos, um dos convidados, por exemplo, era o Bono, de U2. Ele estava lá para falar sobre esses países emergentes. Quando ouvimos essa notícia, encontramos a nossa inspiração que faltava. E se tinha um músico, porque não teria um padre? E daí começamos a imaginar como seriam as relações entre todos estes tipos reunidos.
Como foi o lançamento na Itália? Como as pessoas receberam esse novo filme?
Foi um sucesso, ficamos bem felizes com o resultado. Mas não foi unânime… aliás, longe disso. Gerou alguns debates interessantes. Já imaginávamos que seria assim, pois é um tema delicado. Mesmo assim, levou uma grande parte da população ao cinema. E isso sempre é bom.
Como recebeu a notícia de que o filme estava no Brasil, sendo procurado e selecionado para festivais?
Antes do Brasil, As Confissões foi apresentado para a imprensa na Argentina e se saiu muito bem. Este é um filme que, acho, pode ser interessante porque fala de uma situação mundial, comum a todos os países, que é a questão econômica, onde na mão de pequenas pessoas está uma reponsabilidade muito grande. E algumas vezes elas erram. Na Itália as pessoas se identificaram com isso. E imagino que o mesmo possa acontecer por aqui. Infelizmente.
(Entrevista feita ao vivo no Rio de Janeiro em outubro de 2016)
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