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O longa-metragem 7 Caixas (2012) foi a maior bilheteria do Paraguai de todos os tempos. Ao traçar um retrato da sociedade e da classe baixa do país com tons hollywoodianos, o filme conquistou o público e arrecadou diversos prêmios nos festivais de San Sebastián, Lima, Miami, Palm Springs e Skip City, além de ter sido lembrado em Toronto, Seattle e ser indicado ao Goya (o Oscar espanhol). Tamanho reconhecimento catapultou os nomes de seus diretores Juan Carlos Maneglia (conhecido como Juanca) e Tana Schémbori, que já produziram curtas, séries de tv e deram a sorte grande (graças ao seu talento, vale ressaltar) no primeiro longa-metragem de suas carreiras. E é sobre este filme e os planos futuros que a dupla conversou com o Papo de Cinema. Confira!

 

Percebe-se a instabilidade social dos personagens, todos lutando por seus empregos, mas nem por isso com menos sonhos de estar na elite. No caso, ter mais dinheiro ou o celular da última moda. Em La Chuchi (série de tv) vocês já trabalhavam com uma personagem, Marta, que queria ascender socialmente. Pode-se dizer que a escolha deste tipo de roteiro e seu trabalho na direção seguem esta mesma linha ou acontecem ao acaso?
Pode ser. Nunca paramos para pensar esta semelhança. Creio que, acima de tudo, o que buscamos nesta história é que o paraguaio se identifique. Se sinta refletido. O Paraguai é um país sem tradição de cinema e muito do que vemos e ouvimos vem de fora: novelas argentinas, brasileiras, cinema americano. No caso de 7 Caixas, Victor quer subir mais do que socialmente, ele quer dinheiro para realizar um sonho: aparecer na televisão.

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Produção de 7 Caixas reunida na entrega do Goya 2013

Victor é reflexo e uma crítica à sociedade de consumo com sua obsessão por estar em frente às câmeras, mesmo que seja ela a de um celular. Sua intenção com este filme é exatamente fazer esta crítica ou ela surge como uma grande brincadeira bem jogada no roteiro?
7 Caixas nunca foi pensado “diretamente” como uma crítica à sociedade ou à nossa realidade. Mas, sim, para levar a uma reflexão profunda de quem somos como paraguaios. E isto através de uma linguagem dinâmica que não permita o tédio. Acho que 7 Caixas tem isto: em uma primeira leitura, é um thriller de ação em um dos lugares mais emblemáticos de Assunção, o Mercado 4. Mas, por outro lado, é sobre a sobrevivência, por quem somos.

 

O filme tem um ritmo bem conhecido de Hollywood. Lembrou Queime depois de Ler (2008), dos irmãos Coen, e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998), de Guy Ritchie, especialmente pelo humor negro com que as situações mais trágicas e dramáticas são tratadas. Porém, vocês parecem subverter todo e qualquer clichê ao adaptar as situações para a realidade dos personagens – como a perseguição com carrinhos de mão. Quais suas inspirações ao pegar o roteiro do filme e colocá-lo na tela?
É assim totalmente. Quando Juanca me contou pela primeira vez a idéia de que um garoto transportaria sete caixas no mercado, ele me disse: “quero fazer um filme com carrinhos de mão, mas ao estilo de Hollywood!” Porque aqui não temos a possibilidade de fazer uma superprodução com automóveis de luxo. Nós não temos e não queremos. Também acho que a direção faça homenagens a filmes como Ben-Hur (1959) – as cenas das rodas dos carrinhos que encostam um no outro -, a O Exterminador do Futuro (1984), a vários filmes que nos inspiraram fizeram amar isto que fazemos. O humor negro é talvez o mais que mais nos caracteriza e é, contudo, o reflexo de como é o paraguaio, que, às vezes diante de suas piores desgraças, ri e se reinventa.

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O protagonista e os diretores do filme

Como é ser responsável pelo filme com maior bilheteria da história do Paraguai?
Estamos percorrendo este caminho da ficção por mais de 24 anos. Conseguir que os paraguaios tenham sentido o filme como seu é, talvez, o mais belo que poderia nos acontecer.  É maravilhoso e, por outro lado, implica uma responsabilidade muito grande. Em uma das projeções de 7 Caixas, um garoto de 17 anos chegou e nos disse com lágrimas nos olhos: “já sei o que quero fazer quando terminar o colégio. Quero fazer filmes como vocês”. E isto é muito forte. É um compromisso.

 

7 Caixas venceu festivais de Miami, Lima, Palm Springs, San Sebastian e Skip City, além de ter sido indicado em Toronto e também ao Goya. Como é unir sucesso de público e de crítica? Você esperava uma reação tão positiva sobre o filme?
Não esperávamos este reconhecimento internacional. Realmente. 7 Caixas foi um filme pensado e concebido para o Paraguai. Para conquistar o público nacional, creio que neste sentido o Prêmio de Cine em Construção do Festival Internacional de San Sebastián em 2011 (que pela primeira vez na história concedeu este reconhecimento a um filme por unanimidade do júri) significou para nós uma grande porta que se abria. E, dali em diante, 7 Caixas não parou. Esteve em mais de 100 festivais, foi vendida à HBO, estreou nos EUA, na Bolívia, agora no Brasil, logo mais na França. Sempre avaliamos que 7 Caixas tem justamente isto: conquista o público (a maioria dos prêmios foram do público e direção) e, por outro lado, cai no gosto da crítica. Os porquês? Acredito que é fácil se identificar com os personagens: nos identificamos com seus sonhos, suas necessidades. 

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Tana, Juanca e seus protagonistas recebem o prêmio no Festival de San Sebastián

A alta bilheteria e o número de premiações fez vocês serem convidados para trabalhar em outras terras, inclusive em Hollywood?
Sim, nos convidaram. Ainda estamos em conversações. É muito atraente, mas, por outro lado, é também desafiador, pois justamente cremos que a nossa força está nas histórias concebidas por nós mesmo. Mas nunca se sabe. A criação é ilimitada.

 

Quais os próximos trabalhos de vocês?
Estamos trabalhando no nosso segundo longa-metragem, ainda em etapa de desenvolvimento. Dizem que o segundo longa é o mais difícil, ainda mais quando vem após um grande sucesso. No entanto, tratamos de assumir este novo desafio como algo totalmente diferente. Com os olhos e o coração de um novo começo. A única coisa que podemos contar é que tem como nome provisório Los Buscadores e tem como tema tesouros escondidos.

(Entrevista realizada via e-mail por Matheus Bonez)

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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