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Premiado no Festival do Rio 2014 com o Prêmio Especial do Júri e como Melhor Ator, para o jovem Matheus Fagundes, o drama Ausência é o segundo trabalho do diretor Chico Teixeira, o mesmo do aclamado A Casa de Alice (2007). Os dois, cineasta e protagonista, assim como a excelente Gilda Nomacce, uma das atrizes mais versáteis do atual cinema brasileiro e que neste filme interpreta a mãe do garoto, estão na capital da Alemanha, para apresentar este trabalho ainda inédito nos cinemas nacionais na Mostra Panorama, uma das mais disputadas da Berlinale! O Papo de Cinema, que está em Berlim, já conferiu o filme – confira a crítica aqui – e conversou com exclusividade com os realizadores. Confira!

 

Como surgiu a necessidade de contar a história de Ausência?
Chico Teixeira: Ausência surgiu com uma inquietação minha que gostaria de falar sobre um menino sem elaboração emocional (pois tem 15 anos) e que se torna adulto antes do tempo, pulou a adolescência e virou homem direto. Um menino homem. Com a solidão de adulto.
Gilda Nomacce: Eu soube do filme pelo produtor de elenco Hugo Aldado, que me convidou para fazer o teste. Muitas vezes não consigo enfrentar testes, porque quase nunca passo, ainda hoje fico nervosa e insegura. Fui e senti que tinha muita chance, pois me senti confortável com a condução neste primeiro contato.
Matheus Fagundes: Meu primeiro contato com o projeto foi através dos testes para a seleção do personagem. A partir dai começaram as preparações e o meu envolvimento com o filme só aumentou. 

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Gilda Nomacce, Chico Teixeira e Matheus Fagundes em Berlim

Vamos falar sobre os personagens. Matheus, como lidou com a responsabilidade de encarar o protagonista? 
MF: Encarei com muita confiança, dedicação e entrega. Me doei 100%. Fiquei muito feliz quando soube que iria fazer o Serginho, foi uma grande alegria, pois sempre tive a vontade de protagonizar um filme, foi a realização de um sonho. Tenho muito orgulho desse trabalho e agradeço muito ao Chico pela confiança em mim.

 

Gilda, seu personagem enfrenta sérios problemas, como o abandono do marido, criar dois filhos e a ligação com a bebida. Como você se preparou para esse papel?
GN: Essa mulher, que enfrenta o alcoolismo, o abandono do marido, a impotência pra criar os filhos, a falta de dinheiro, a humilhação da necessidade de ajuda do irmão grosseiro, que joga na cara… foi um grande desafio para mim. Toda a complexidade da Luzia foi conduzida pela Fátima Toledo que me ajudou muito e foi um processo longo de quase dois meses de preparação. Mergulhei de cabeça, entrei na vida que tinha ali pra viver e praticamente fui abduzida da minha. Foi bastante intenso.

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Matheus Fagundes e Gilda Nomacce em cena de Ausência

Dizem que atuar com crianças e animais sempre é mais complicado. Na maioria das suas cenas em Ausência você está ao lado dos meninos que interpretam seus filhos. Como foi lidar com estes jovens talentos?
GN: Filmar com os dois jovens talentos foi tranquilo. Muito disso se deve ao Matheus, que é um adolescente muito responsável e, principalmente, porque ele estava muito envolvido com o trabalho.

 

Agora é a vez do diretor. Depois do sucesso de A Casa de Alice, porque esperar quase uma década para voltar às telas com seu segundo longa?
CT: Fazer cinema no Brasil não é tão fácil assim, dependo de patrocinadores, de escrever muitas versões de um argumento e muito mais ainda do roteiro. Depois tem que achar os atores, e a própria produção, que você sabe melhor do que eu, tem seu próprio tempo. Queria fazer tudo isso sem me atropelar, nem atropelar o filme.

 

Vocês conheciam o trabalho do diretor Chico Teixeira? Como foi atuar sob sua direção?
GN: Eu conhecia o trabalho do Chico Teixeira de A Casa de Alice, que é um filme sensacional e é claro que uma atriz fica louca pra trabalhar com o diretor que fez um longa desses. Mas não o conhecia pessoalmente, e foi ainda mais surpreendente porque além de um diretor brilhante, ele é uma pessoa extraordinária. Quero ele pra sempre na minha vida.

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Berlinale Palast, no Festival de Berlim

E pra você, Matheus, como foi trabalhar com atores mais experientes, como a Gilda Nomacce e o Irandhir Santos?
MF: Trabalhar com o Irandhir e a Gilda foi muito bom, um grande aprendizado tanto profissional quanto pessoal. Criei uma relação maravilhosa com ambos, foi uma grande parceria dentro e fora de cena. Sempre admirei o trabalho dos dois.

 

Tanto em A Casa de Alice como em Ausência percebe-se que você costuma trabalhar com atores experientes e outros novatos, porém não os mais conhecidos. Quais critérios você leva em conta na hora de escolher seus elencos?
CT: O elenco não tenho critério algum superficialmente falando, mas a minha maior preocupação é a emoção, é se posso contar com a entrega de cada um deles, alguns mais, outros menos. Tento ver os mais dispostos a mergulhar numa estória como o Ausência. Não importa fisicamente como eles são, importa emocionalmente o que eles me dão.

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Cena do filme Ausência, com Matheus Fagundes (esquerda)

Após passar pelo Festival do Rio e pela Mostra de São Paulo, Ausência chega ao Festival de Berlim. Como você recebeu a notícia dessa seleção? Qual a importância de estar em festivais?
CT: Fiquei muito feliz, Berlim tem um canal subterrâneo com meu trabalho. Eles entendem e gostam das minhas estórias, me apoiam muito, e acho que mostrar um filme em Berlim é também um aprendizado, pois você pode olhar para outros filmes e deixar que os outros olhem o seu trabalho, sem interferências. É perceber que as opiniões são diversas.
MF: Essa experiência tem sido maravilhosa, estou achando tudo muito incrível. Estou muito feliz de estar aqui com o filme.

 

Como foi a recepção em Berlim ao Ausência?
CT: Foi muito boa. Sala cheia, perguntas inteligentes depois da seção.

 

Ausência concorre na Berlinale também ao Teddy, que é o prêmio voltado às premiações com temática homossexual. Essa questão, no entanto, é tratada no filme de modo muito delicado. Como foi encarar esse aspecto do personagem?
MF: Pra mim foi tranquilo, não tive problema algum em relação a isso.

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Equipe do filme Ausência em Berlim

Você foi premiada por um dos seus primeiros longas, o Trabalhar Cansa (2011), e agora está em Berlim, apresentando o Ausência. Qual a importância de premiações e de festivais para um artista?
GN: Tive uma grande sorte no cinema, porque com o meu primeiro curta-metragem, a minha primeira experiência no cinema, Um Ramo (2007), filme de Juliana Rojas e Marco Dutra, entrou no Festival de Cannes e ganhou um prêmio. E era um trabalho dos mesmos diretores do Trabalhar Cansa, me deu um prêmio em Brasília e muita exposição à outros diretores, que a partir daí conheceram meu potencial. Então acredito, sim, que entrar em grandes festivais, como Berlim, Cannes e Brasília, ajuda muito a carreira do ator. É a segunda vez que venho a Berlim com um filme, sempre na mostra Panorama. E estou certa que será incrível para a carreira do Ausência, para a minha e para todos os envolvidos nele. Este é um filme lindo que merece ser visto pelo mundo inteiro e Berlim vai nos ajudar nessa jornada. Amaram nossa obra aqui e isso me faz sentir extremamente recompensada por tanta dedicação e amor que coloquei no filme.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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