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Imagine você a responsabilidade de interpretar um dos principais ícones culturais de seu país? É exatamente o que enfrentou a jovem (e talentosa) atriz franco-argentina Julia de Nunez ao receber o presente de viver Brigitte Bardot na minissérie homônima atualmente em cartaz no Brasil por conta do 14º Festival Varilux de Cinema Francês. Além disso, Julia é o rosto da edição deste ano do evento que há mais de uma década traz ao Brasil o melhor do cinema francês. Muito descontraída numa tarde ensolarada do Rio de Janeiro, ela conversou com a reportagem do Papo de Cinema sobre os desafios inerentes à tarefa de interpretar um dos principais nomes do cinema francês e ainda a satisfação específica de estar apresentando a minissérie na América Latina. Filha de pais argentinos, ela também nasceu no país sul-americano, mas foi para a França ainda muito jovem. Então, confiram mais este Papo de Cinema exclusivo com uma das estrelas da delegação internacional do 14º Festival Varilux de Cinema Francês.

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Qual foi a primeira sensação quando você descobriu que interpretaria Brigitte Bardot?
Esse casting se desenrolou durante muitos dias, contemplou diversos encontros. Foi um longo período, com muitas etapas. Houve encontros presenciais, precisei fazer várias self tapes em casa. Então, não teve realmente essa surpresa de uma hora para outra saber que tinha conseguido o papel, pois a caminhada foi longa.

E como foi o seu processo de pesquisa? Você mergulhou na carreira e na vida pessoal de Brigitte Bardot e/ou também buscou certo distanciamento até mesmo para não cair na imitação?
Já nos processos de teste, comecei com uma ideia bem preconcebida, a partir de uma pesquisa nos arquivos dela. Estudei muito a voz da Bardot. Então, provavelmente nas primeiras etapas o que eu tinha era mais uma imitação do que uma interpretação, mesmo. A própria pessoa que aplicou o teste me disse “tire isso da voz, tente se afastar um pouco da personagem para trazer algo de seu para essa versão dela”. E eu pensava “como conseguir chegar à personagem sem imitá-la?”. Fui descobrindo que a resposta estava em outro caminho, um mais longo, o ponto essencial estava em outro lugar. Consegui construir não pela aproximação, mas pela minha leitura da personagem.

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E o papel tem uma construção física muito interessante. No primeiro episódio ela é uma menina, quase uma criança, e no encerramento já é um mulherão? Gostaria que você falasse um pouco desse aspecto da construção, dessa atitude corporal.
Comecei por um trabalho de mesa, por estudar a personagem profundamente do ponto de vista psicológico. Ficamos muito tempo investigando essa parte do roteiro em que ela tem somente 15 anos de idade. Para essa transformação há nuances fundamentais de maquiagem e figurino. É como na vida, a roupa muda totalmente a nossa aparência, mas claro que esse trabalho árduo de mesa, tendo como guia o roteiro, também foi fundamental para que conseguíssemos imprimir uma atitude muito diferente do momento adolescente para o da jovem mulher.

Durante o processo de pesquisa, quais as descobertas que mais lhe fascinaram sobre a Brigitte Bardot?
Estudei muito e descobri diversas coisas fascinantes. Fiquei particularmente interessada pelas parcelas dançarina e cantora dela mas, principalmente, por sua natureza vanguardista. Ela discutia temas como os desafios climáticos e e a proteção dos animais antes que eles se tornassem pautas públicas mais frequentemente. E também tem a atitude feminista dela, embora não fosse militante, estava certamente à frente do seu tempo nesse sentido.

Qual é o seu filme favorito de Brigitte Bardot favorito e por quê?
Quando me perguntam isso, normalmente digo A Verdade (1960), do Henri-Georges Clouzot. Foi o que mais me impactou, aliás preciso rever para pegar ainda mais nuances. É o mais simbólico e o mais bonito dela, na minha opinião. Mas, uma imagem que sempre me impactou foi a da capa de E Deus Criou a Mulher (1956), com ela de cabelo soltou e vestindo apenas uma toalha rosa. Vi essa imagem pela primeira vez quando era pequena e isso me apresentou uma ideia de sensualidade que eu ainda não tinha, evidentemente. Mas aquilo me fascinou.

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O que você está achando dessa visita ao Brasil e de ser o rosto dessa edição do Festival Varilux?
Estou feliz demais. Alinhar o trabalho com essa viagem tem sido genial. Para mim tem sido lindo conhecer a América Latina e está sendo muito forte a vontade de ficar (risos). Meus pais são argentinos e estou adorando isso de trazer a minissérie para a América Latina.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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