Essa não foi a primeira ocasião que me surgiu de conversar com a Mariana Lima, porém foi, sim, a primeira que o encontro acabou se concretizando – ainda que tenha sido por telefone! Desde seus trabalhos mais iniciais no cinema, como Olga (2004) e Árido Movie (2006), ou outros mais recentes, como A Suprema Felicidade (2010), ela sempre esteve na minha mira. Chegamos muito próximos um do outro no ano passado, quando veio a Porto Alegre ao lado da amiga Drica Moraes e do marido Enrique Diaz com a peça À Primeira Vista – estrelada pelas duas e dirigida por ele. Mas outros desencontros aconteceram, e consegui ótimas entrevistas – que podem ser conferidas com a Drica e com o Enrique, ambas no Papo de Cinema – mas a Mariana havia me escapado mais uma vez. Ao menos até agora. Mas valeu a espera, pois foi muito bom conversar sobre cinema, sobre o novo filme A Busca e sobre esse seu momento tão cinematográfico. Confira!
Mariana, que bom falar contigo! O que lhe levou a aceitar esse convite e qual é a principal motivação por trás do seu personagem em A Busca?
Que bom, é muito legal estar aqui, trocando essas ideias e com esse assunto, esse filme, que foi – e está sendo – tão bacana. Em primeiro lugar, quero dizer que todo e qualquer segredo está e sempre esteve no roteiro. Foi isso que me conquistou, logo quando li, pensei comigo mesmo: “tenho que fazer parte”. O projeto era muito atraente, o texto era muito bom – e isso não é muito comum no Brasil, onde a maioria dos projetos são comédias mais comerciais ou obras muito fechadas. A Busca, por outro lado, estava acabado, bem delineado, com curvas dramáticas fortemente construídas. O trabalho que o Luciano Moura (diretor) e a Elena Soarez (roteirista) tinham feito, ainda antes das filmagens, era muito preciso e atraente. E quando fui chamada o Wagner já estava nele, então não tinha como recusar. Era uma proposta de um filme intimista, tinha em cena somente um homem, uma mulher e um filho. É muito pessoal, e a ideia de trabalhar isso foi o que mais mexeu comigo. Parece que era o principio de tudo, eles juntos e depois separados, a desconstrução daquele núcleo, destes personagens. Falar sobre perder um filho e o que significa isso trazem à tona elementos muito fortes. Foi muito especial.
Como foi trabalhar essa personagem? Pergunto pois ela é muito mais interna, fechada dentro daquela casa, mas ainda assim forte e emocional.
Na verdade não era bem assim, o início dela era diferente. Na primeira versão da história, e foi algo que chegamos até a filmar, a Branca – minha personagem – ia junto com o ex-marido atrás do filho, ela também saía de casa. O desespero era dos dois, e bastante explícito. Mas quando vimos a primeira versão montada, essas coisas começaram a cair. Era preciso que um deles saísse – e o Wagner faz isso – e era preciso também alguém que ficasse em casa, como contraponto. Tava muito linear, e a gente quis mudar isso. Eu fui importante neste sentido, pois é ela que começa a montar o quebra-cabeça, quando as coisas começam a fazer sentido. É a mãe que vai lá, remexer nas coisas do filho e redescobrindo aquele jovem. A ausência do filho é o motivo, quando ela entra no quarto dele novamente, que ela começa a conhecer, de fato, quem ele é. Essa clausura é um momento de espera e também de procura. Eu, particularmente, não teria conseguido fazer a mesma coisa – teria ido atrás, desesperada – mas entendo a personagem. Acho que foi até uma oportunidade de crescimento, pois a jornada dela é diferente da do pai. Fui descobrindo aos poucos as razões dela, e vejo hoje claramente que fez sentido no final.
Como foi o trabalho com o Wagner Moura, que é com quem você divide a maior parte das cenas?
Foi muito legal, nós somos parceiros há muito tempo. Eu e o Wagner somos amigos de tantos outros trabalhos e também de vida, nosso modo de ver a arte é muito parecido. Nos admiramos bastante. Tive essa experiência também com o Selton Mello. Estes dois são grandes atores, talvez os maiores desta geração. Mesmo quando estamos ensaiando o Wagner está sempre ali, do lado, sem distanciamento, sem uma postura diferente. Foi uma grande parceria. Esta é uma das maiores qualidade dele, é muito generoso. Ele também não sabe o que fazer a seguir, do mesmo jeito que você, então vamos aprendendo juntos.
Você é uma atriz de muita personalidade, sempre envolvida com personagens profundos e intensos. Como é o seu processo de escolha?
É uma coisa tão difícil de medir… Durante um bom tempo fui muito abençoada com os diretores que trabalhei, principalmente no teatro. No cinema também começaram a surgir algumas parcerias, sempre com um foco nos realizadores mais experimentais. Mas não era algo forçado, planejado – simplesmente estas oportunidades iam acontecendo, surgiam na minha frente, e eu simplesmente não podia desperdiçá-las. Na televisão, que fiz bem menos, foi a mesma coisa, também são projetos mais diferenciados. Como esse telefilme lindo, o Doce de Mãe (2012), que fiz com o Jorge Furtado e com Fernanda Montenegro no final do ano passado, ou a série Sessão de Terapia, dirigida pelo Selton para o GNT. Chegam até mim essas coisas bacanas. O meu interesse está no desafio, e aí que está a minha motivação. Preciso sentir que sairei daquela história transformada, que aprendi algo. Quero ficar mais inteligente, e é por isso que preciso estar próxima dos melhores, para aprender com eles. Já estou com 40 anos, sinto que posso escolher um pouco, ser um pouco mais seletiva. Bons personagens, boas histórias e parcerias que nos acrescentem é o que a gente quer.
No cinema, quais os seus papéis mais marcantes?
Eu to muito apaixonada pela A Busca nesse momento, acho que é um dos meus melhores trabalhos. E por isso fica complicado escolher um dos anteriores. O bacana é que agora eu me perdoei, pois é muito difícil você relevar o que aconteceu quando assiste a um filme que fez parte. A gente sempre quer mudar algo, melhorar, fazer diferente, e o cinema é aquilo ali e pronto, fica pra sempre e não tem mais como mudar. Não tem como fazer diferente, não adianta nada se arrepender. É por isso que quase nunca assisto aos filmes que faço. Mas dessa vez, na terceira vez que tive que ver o filme, por causa de todos estes festivais e sessões de pré-estreia, acabei me perdoando. Fiquei tão dentro da história que vi fora de mim, como se fosse só a personagem, e não eu. Isso me deixou muito feliz. Mas tem outros projetos recentes pelos quais tenho muito carinho, como o Sudoeste (2012), do Eduardo Nunes e com a Simone Spoladore e a Dira Paes. E gosto bastante também do Rânia (2013), que ainda é inédito. Dos mais antigos tem o do Jabor, o A Suprema Felicidade (2010), que foi bem complicado, o filme foi bastante criticado, mas que me deu muito prazer, tanto de fazer quanto de assistir.
O que você achou do resultado quando viu A Busca pela primeira vez e como tem sido a recepção do público?
Até agora foram só alegrias. Nós começamos com o pé direito, né? De cara a gente esteve nos Estados Unidos, no Festival de Sundance, onde fomos muito bem recebidos. A gente não sabia como seria, era a maior dúvida, e todo muito curtiu muito, aplausos, muitas entrevistas, o pessoal querendo saber mais. Foi bem bacana. Depois veio o Festival do Rio, e ali foi um estouro, muito emocionante. Em Paulinia também foi ótimo, mais de mil pessoas assistindo, e o mesmo aconteceu em São Paulo também. Até agora foi tudo muito gostoso. Este é um filme inteligente, que não menospreza a inteligência do espectador, mas que ao mesmo tempo é totalmente voltado para o público, e isso ele tem de legal. Segue pelos dois caminhos, é arte, é experimental, mas também pra galera, pra levar a família toda no cinema, pois fala com todo mundo. É universal, e isso é o melhor dele.
(Entrevista feita por telefone desde o Rio de Janeiro no dia 06 de março de 2013)
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