Caio Soh e o seu Por Trás do Céu no Cine PE 2016

Publicado por
Conrado Heoli

Jovem cineasta paulista, radicado no Rio de Janeiro há mais de uma década, Caio Soh tem uma carreira artística que perpassa também a música e o teatro. Estes elementos que lhe são tão caros são constantes em sua filmografia, assim como um apreço pelo trabalho do ator e a criatividade para enredos que não se prendem às barreiras do realismo. Depois de circular por importantes festivais com seus primeiros longas-metragens, Teus Olhos Meus (2011) e Minutos Atrás (2013), o mais novo filme do diretor foi apresentado na abertura do 20º Cine PE, para um Cine São Luiz quase lotado e com esses mil espectadores respondendo muito bem ao drama de passagens cômicas. Por Trás do Céu (2015) revela um nordeste visto pelos olhos admiradores de Soh, numa fábula delicada sobre sonhos e esperança protagonizada por Nathalia Dill, Renato Goes, Paula Burlamaqui e Emílio Orciollo Netto. O diretor concedeu uma entrevista exclusiva para o Papo de Cinema, na qual conta mais sobre este trabalho e já prepara o terreno para o seu próximo projeto, Canastra Suja (2016), protagonizado por Marco Ricca e Adriana Esteves, que deve ganhar os cinemas de outros festivais ainda este ano.

 

Como foi abrir a 20ª edição do Cine PE com o filme Por Trás do Céu, numa sessão que lotou o Cine São Luiz?
Foi incrível, a experiência de abrir um festival tão renomado e ver a recepção calorosa do filme em toda a projeção. É uma experiência única ver quase mil pessoas rindo e chorando com os personagens. Pude perceber que o filme tem um lado comercial bem mais forte do que eu achava.

Como a história de Aparecida e Edivaldo se transformou para sair dos palcos e ir para o cinema?
Foi uma adaptação muito livre. Escrevi a peça há mais de quinze anos atrás. Esse é um processo que fiz para conceder uma homenagem ao teatro.


Como foram as gravações, o processo de produção e tudo mais?
Apesar do sol e da locação ficar no alto de uma pedra, foi tudo muito tranquilo. Passamos dois meses no sertão como uma grande família. Em seis meses, fizemos da pré-produção ao final da montagem. Tudo muito rápido. A parte de finalização, por falta de orçamento, foi o que mais demorou. No final o processo do filme todo durou dois anos até o lançamento no Cine PE.

Cena do filme Por Trás do Céu


Como se deu a escolha de locações na Paraíba, com o Nordeste como um dos importantes elementos dessa história?
Muito importantes. O Lajedo do Pai Matheus, esse lugar incrível que beira o surrealismo, me ajudou a tirar os personagens do chão e colocá-los em um cenário mais fantástico, fora da realidade padrão


Quanto ao seu trabalho com o elenco, como foi a preparação deles e suas relações com cada personagem e este universo que eles habitam?
Tive a sorte de estar com um elenco muito talentoso e entregue. Todos embarcaram na ideia por inteiro, então o processo de criação de construção foi uma troca intensa. O universo do personagem, por ser muito diferente da realidade dos atores, teve total influência na criação de algo mais absurdo, com espaço na interpretação beirando a commedia dell’arte. Tem algo de muito forte e clownesco em toda a movimentação corporal e vocal dos personagens, que vivem em cima dessa pedra, nesse sonho. Os personagens que vieram da cidade já trabalham em uma linha bem mais realista de interpretação para passar esse choque de realidade.


Esse filme se relaciona de alguma forma com seus trabalhos anteriores, ou você considera algo completamente diferente em sua filmografia?
Por Trás do Céu se comunica totalmente com meu segundo longa, Minutos Atrás. Eles vêm da mesma influencia farsesca e de um nordeste teatral para usar de signo para a seca do coração, a pobreza das relações humanas.

Caio Soh, Emílio Orciollo Netto e Paula Burlamaqui em coletiva durante o Cine PE 2016

Quais são os próximos passos para Por Trás do Céu? Espera aparecer em outros festivais e há alguma previsão de lançamento nacional?
Por trás do Céu já está selecionado para alguns festivais internacionais e pretendo finalizar sua estrada na Mostra de São Paulo no fim do ano, se tudo der certo. Depois disso, estaremos lançando ele nas salas pelo Brasil. Mas ainda estamos negociando a distribuição.


O que pode nos contar sobre Canastra Suja e seus próximos trabalhos?
O Canastra Suja já está em fase de finalização e também deve correr os festivais no segundo semestre, nacionais e internacionais. Ele tem um elenco de atores que admiro muito, como Adriana Esteves e Marco Ricca. Um filme bem mais realista e trágico que o Por Trás Do Céu. Se comunica diretamente com a linguagem do meu primeiro filme, Teus Olhos Meus.

(Entrevista feita ao vivo em Recife durante o Cine PE 2016)

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.

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