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Cine Jardim 2024: Festival Latino-americano de Cinema de Belo Jardim é um dos eventos cinematográficos mais importantes do nordeste brasileiro. Realizado na cidade de Belo Jardim, no agreste do Pernambuco, ele leva cinema para áreas onde a oferta audiovisual é muito reduzida, contribuindo também com o aspecto formativo dos interessados da região. E o grande idealizador dessa programação que chega em 2024 à sua oitava edição é o premiado cineasta Leo Tabosa, com o qual conversamos remotamente para este Papo de Cinema.

O Cine Jardim 2024 é realizado pela Pontilhado Cinematográfico, Ministério da Cultura e Governo Federal, através da Lei Rouanet. Conta com o patrocínio da Baterias Moura e do Banco do Nordeste, além das parcerias da Universidade Católica de Pernambuco, Instituto Humanitas Unicap, Armazém Coral, NayMovie e Mistika. Para saber um pouco mais do que esperar do evento que começa nesta segunda-feira, 14, e conta com versão on-line, tivemos um Papo com Leo Tabosa. O resultado desses dois dedinhos de prosa você confere abaixo.

Cine Jardim

Mais um ano, mais um Cine Jardim. Sabemos que é sempre uma luta realizar um evento com tal abrangência e tamanho. Mas, quais foram os principais desafios para essa oitava edição?
O Cine Jardim é um festival de formação de público no agreste pernambucano. Estamos falando de uma cidade de 80 mil habitantes que não tem cinema. O nosso desafio é estimular crianças, jovens e adultos a participarem das sessões. Por isso é muito importante o alinhamento com a Secretaria de Educação para levar os alunos para o cinema e trabalhar o conteúdo dos filmes em sala de aluna. Essa parceria permite que o aprendizado aconteça além dos muros da escola.

Outro desafio significativo é a realização do festival em um contexto de limitações financeiras. Trabalhar dentro dessas restrições exige criatividade e inovação na busca de recursos e na implementação de estratégias que garantam a continuidade e a qualidade do evento. Apesar dessas dificuldades, nosso compromisso em democratizar o acesso à cultura e promover a formação de um público crítico e engajado permanece em nossa essência.

O festival sempre teve uma preocupação com o aspecto de formação. Quais foram os critérios para a escolha dos temas das oficinas que o evento vai realizar neste ano?
As oficinas proporcionam um espaço de aprendizado prático e teórico, permitindo que os participantes desenvolvam habilidades técnicas e criativas. Isso não apenas fomenta novos talentos, mas também estimula o pensamento crítico sobre o papel do cinema na sociedade, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes. As oficinas de crítica de cinema, documentário e interpretação foram pensadas para atender tanto iniciantes quanto aqueles que já possuem alguma experiência, promovendo um ambiente de formação criativa e ao mesmo tempo que estimulem o pensamento crítico.

Cine Jardim 2024

Com relação aos curtas, trata-se de um universo bem maior. Foram quase 900 filmes inscritos, o que impõe inúmeros desafios à curadoria. Como se deu esse processo de seleção e posterior distribuição nas suas respectivas mostras?
O Cine Jardim busca exibir filmes que estimulam a reflexão crítica, a vivência de experiências e o compromisso com questões sociais, humanísticas e identitárias da nossa sociedade. Os filmes selecionados abordam temas como desigualdade social, diversidade cultural, meio ambiente e direitos humanos.

As mostras convidam os jovens a se engajarem em diálogos importantes sobre a realidade que os cerca. Filmes que retratam histórias de superação, lutas sociais e a complexidade das relações humanas oferecem aos estudantes a oportunidade de enxergar o mundo sob novas perspectivas. Essa abordagem encoraja o público a se posicionar e agir em suas comunidades como agentes multiplicadores.

Aliás, na seleção dos curtas da mostra competitiva chama a atenção a esmagadora maioria de filmes brasileiros. Na sua opinião, isso é reflexo de um momento efervescente em nossa produção? Como você enxerga essa predominância?Sim, a predominância de filmes brasileiros na mostra competitiva reflete um momento vibrante na produção cinematográfica do país. Essa efervescência é impulsionada por uma nova geração de cineastas que se dedica a abordar pautas sociais relevantes, oferecendo um olhar crítico e profundo sobre questões contemporâneas. Esses realizadores trazem à tona narrativas que não apenas entretem, mas também provocam reflexão, contribuindo para um cinema que dialoga com a realidade brasileira e suas complexidades.

Na sua opinião, qual a importância de manter o caráter competitivo de um festival de cinema como o Cine Jardim?
O caráter competitivo é fundamental para reconhecer e estimular a produção cinematográfica brasileira. As premiações proporcionam visibilidade aos filmes, ajudando os realizadores a expandirem seu público e atraírem recursos para futuras produções e a serem reconhecidos no cenário cinematográfico.

Cine Jardim 2024

Uma das coisas mais interessantes de eventos como o Cine Jardim é a capacidade de levar cinema a recantos em que há carência de oferta. Você consegue perceber na prática como as oito edições do Cine Jardim ajudaram a mudar o panorama do agreste pernambucano nesse sentido?
As oito edições do Cine Jardim têm exercido um papel transformador na democratização do acesso à cultura na região do agreste pernambucano, especialmente em Belo Jardim. Ao levar o cinema a localidades onde não há cinema, o festival não apenas proporciona entretenimento, mas também atua como um agente educacional, promovendo reflexão crítica e engajamento comunitário.

Temos observado um aumento significativo no interesse por cinema entre os jovens, além de uma valorização crescente das produções locais. O legado mais importante do Cine Jardim é a construção de um público mais crítico e consciente, além de incentivar a produção local de cinema, criando oportunidades para novos realizadores que começaram a explorar sua arte nas oficinas oferecidas nas edições anteriores do festival.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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