Grande homenageada da vigésima terceira edição do Cine PE – Festival do Audiovisual de Pernambuco, a atriz Drica Moraes conversou com a imprensa presente aqui em Recife no sábado pela manhã, horas antes de receber o Troféu Calunga Especial no palco do Cine São Luiz, na capital pernambucana. Ela confessa que achou a escolha um pouco precipitada – afinal, está com apenas 50 anos – mas o reconhecimento chega em ótima hora. Somente no ano passado estrelou dois longas-metragens de grande sucesso – O Banquete, de Daniela Thomas, e Rasga Coração, de Jorge Furtado – e no momento se prepara para protagonizar Pérola, segunda incursão de Murilo Benício por trás das câmeras. Ela ainda está indicada ao 24o Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro como Melhor Atriz Coadjuvante por seu desempenho como Nena em Rasga Coração, além de aparecer também na telinha na terceira temporada de Sob Pressão, série da Rede Globo. Ou seja, há muito a ser comemorado. Aproveitando a oportunidade, o Papo de Cinema conversou com exclusividade com Drica Moraes. Confira!
Olá, Drica. Como você recebeu esse convite para ser homenageada aqui no Cine PE?
Ah, fiquei completamente apaixonada. Honrada de verdade. Achei até que era muito nova para receber esse tipo de homenagem. “Poxa, 50 anos e já sendo homenageada no Cine PE?” Legal demais. Veio, ao mesmo tempo, uma cachoeira de memórias e de personagens, de trajetórias, de histórias que ficaram pela minha cabeça. São muitos agradecimentos. Enfim, está sendo uma grande honra.
Você é muito presente na televisão e no teatro, mas como vê a relação com o cinema?
Pra mim é um presente que veio tardiamente, preciso confessar. Sou louca por cinema, mas comecei a fazer e ser convidada muito tarde. Acho que os meus melhores personagens no cinema surgiram de uns oito anos pra cá. Mas graças a Deus que vieram, não é mesmo? (risos) Acho que, desde que fiquei doente e voltei, foi quando comecei a ter personagens mais complexos e densos. Tive essa sorte de ganhar esses presentes. E espero que tenham mais, que continuem vindo até mim. A dramaturgia, para uma mulher de 50 anos, pode ser muito rica. Há um mundo a ser explorado, para depurar. Que bom que consegui fazer, ainda nessa encarnação, coisas tão boas e que são motivos de orgulho.
No ano passado você teve dois personagens muito fortes em filmes de destaque, O Banquete e o Rasga Coração. O que eles representaram?
São dois filmes bem distintos. Um fala sobre política, entre amigos, com muita disputa de poder, ojeriza e manipulação sexual, tudo ligado a esse debate político. Era um filme pesado. Talvez por tudo isso, acho que o público acabou não descobrindo ele. Foi pouco visto. O Banquete ficou pouco em cartaz, não teve tanta discussão, e merecia mais atenção. Acredito que uma hora ele irá ressuscitar. Felizmente os filmes, ao contrário das peças de teatro ou mesmo das novelas, eles ficam. As pessoas os veem em épocas diferentes. Já o Rasga Coração chegou com força junto ao público. Fala dessa passagem geracional, de valores, de identidade entre pai e filho, filhos que crescem, saída de casa, rompimento das relações entre pais, mães e filhos. Era um filme, penso eu, com mais atrativos ao grande público. Tinha um diálogo forte com o espectador. Tanto é que segurou bem em cartaz. E teve ainda muita projeção nas plataformas de streaming, na televisão, foi reprisado, sempre com muita audiência. Isso tudo nos deixou muito satisfeitos.
O Banquete chegou a ser selecionado para o Festival de Gramado, mas cancelou sua participação na última hora. Já o Rasga Coração foi lançado diretamente nos cinemas, sem nenhum movimento neste sentido. No entanto, você está sendo homenageada aqui no Cine PE. Qual a importância dos festivais nos dias de hoje?
Acho que, num país como o nosso, onde a cultura é atacada diariamente, com tentativas constantes do governo de destruir esse setor, as artes em geral, e o cinema, então, nem se fala, o peso de um festival é muito grande. São janelas e ambientes onde os filmes podem circular, existir e serem vistos. Podem ser discutidos, debatidos e avaliados. Os festivais, hoje, cumprem uma função política muito importante dentro do panorama cultural brasileiro.
E próximos projetos? O que pode nos adiantar?
Bom, além do Pérola, vou começar a filmar um outro trabalho com o José Eduardo Belmonte, em outubro, na Bahia. É um filme que parece que vai ficar bem legal, o roteiro é muito interessante. Vai ser um drama, mais para suspense, na verdade. Faço uma mãe, e o filme irá mostrar quatro versões de um mesmo acontecimento. A minha personagem é um dos vetores dessas histórias.
Você começou a carreira como atriz fazendo comédia, mas cada vez mais tem se direcionado para o drama. É uma decisão consciente ou mera coincidência?
Acho que é um pouco reflexo desse Brasil que estamos vivendo, disso tudo que está rolando ao nosso redor. O que está acontecendo na dramaturgia é também resultado de tudo que está se passando não só com o nosso país, mas no mundo todo. As temáticas estão mais violentas, e está havendo mais demanda e mais propostas, enfim, mais produções ligadas ao drama. Tá difícil fazer rir, não é mesmo?
(Entrevista feita ao vivo em Recife em agosto de 2019)
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