Um dos mais aclamados cineastas do sul do Brasil, Jorge Furtado tem seu nome consolidado também no exterior. Um dos seus primeiros trabalhos de destaque, o curta Ilha das Flores (1989), ganhou o Urso de Prata de melhor filme neste formato no Festival de Berlim, brincando justamente com os limites entre a ficção e o documentário. Desde então se passaram mais de duas décadas, outros tantos curtas e longas, muitos deles premiados nos mais diversos festivais. Mas sempre é tempo de se aventurar por novas searas e, ainda assim, promover uma retomada às origens. É o que Furtado faz em seu mais recente projeto, o longa O Mercado de Notícias (2014), um projeto documental sobre o exercício do jornalismo nos dias de hoje, tendo como ponto de partida uma peça de teatro ficcional escrita séculos atrás. E foi durante o lançamento deste filme que o cineasta conversou com o Papo de Cinema e revelou com exclusividade os seus favoritos na tela grande. Confira!
Qual seu filme favorito?
Sempre que faço essa lista penso direto em Nós Que Nos Amávamos Tanto (1974), do Ettore Scola. Este filme é do meu gênero favorito, as comédias tristes, aqueles que fazem você rir e se emocionar ao mesmo tempo. Fellini, Wilder, Scola… esses caras eram mestres neste estilo. Este, em particular, conta paralelamente a história de uma grande paixão, de três homens pela mesma mulher, e também acompanha as mudanças pelas quais a Itália passa por cerca de 25 anos. Ainda assim, abre espaço para contar uma história muito particular, destes personagens e também do próprio país, abordando aspectos sociais e políticos, com toques engraçados e românticos. E faz isso de uma maneira extremamente inventiva, é um filme cheio de propostas narrativas muito interessantes, que começam várias vezes… enfim, são muitas ideias! Anos atrás me convidaram para ir dar uma palestra na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e lá me pediram três filmes para fazer uma mostra com títulos que me influenciaram de alguma forma, e escolhi esse, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), do Woody Allen, e Meu Tio da América (1980), do Alain Resnais.
Qual seu filme favorito sobre jornalismo?
Há muitos filmes bons sobre esse assunto, e vários deles serviram de fonte de consulta enquanto fazia O Mercado de Notícias. Só o Billy Wilder tem dois, A Montanha dos Sete Abutres (1951) e A Primeira Página (1974)! Mas há vários outros, claro. Os anos 1970 foram particularmente interessantes, com o Todos os Homens do Presidente (1976) e o Rede de Intrigas (1976), por exemplo, que são ambos muito bons. Tem um outro filme, um pouco mais recente e que pouca gente conhece, com o Michael Keaton, que também é bem interessante. Se chama O Jornal (1994), e vale à pena ir atrás. Enfim, há vários bons filmes nesse gênero!
Dos últimos filmes a que você assistiu, qual recomendaria?
Vi e gostei bastante do O Grande Hotel Budapeste (2014). O que mais me surpreendeu foi ser um filme do Wes Anderson, que é um cineasta que sempre tive um pouco de implicância. O achava um pouco maneirista com o filmes, mas esse gostei de verdade! Fiquei ligado em tudo que acontecia, os personagens são ótimos e o resultado é muito estimulante.
Se a sua vida fosse um filme, qual seria o título?
Esse filme já fiz, e se chama Esta não é a sua vida (1991)!
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