Diretor e roteirista, Philippe Barcinski nasceu no Rio de Janeiro em 1972. Formado em Cinema pela ECA-USP, começou a carreira como realizador aos 14 anos, e desde então tem transitado entre cinema, televisão e publicidade. Com os curtas-metragens A Escada (1997), Palíndromo (2001) e A Janela Aberta (2002) passou pelos festivais de Gramado, Brasília, Cannes e Berlim, entre outros, tendo conquistado mais de 40 prêmios no Brasil e no exterior. Em 2007 lançou seu primeiro longa, o drama Não Por Acaso, e neste ano voltou às telas com Entre Vales, exibido com sucesso no Festival do Rio. Durante o lançamento deste mais recente projeto o cineasta revelou com exclusividade ao Papo de Cinemas quais são os seus favoritos na tela grande. Confira!
Qual seu filme favorito?
De formação, como cineasta, como repertório, sempre fui muito ligado em Kubrick – acho que todo mundo é – seja pelo racionalismo extremo por um lado, e por outro pelas explosões emocionais, quase raivosas, em que os transtornos dos personagens estão ligados às linguagens dos filmes, com um forte rigor formal. É um farol, enormes em suas complexidades, que permite vê-los quantas vezes quiser e sempre encontrar alguma coisa nova. Polanski, principalmente os primeiros filmes, desde os curtas, também é outro que penso ter um bom cinema. O que me atrai vai além de contar histórias, tem que passar também uma sensação. Mais do que só narrar. Diria que Repulsa ao Sexo (1965) e O Inquilino (1976), da parte dele, e 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), pelo Kubrick, são os que mais me pegam. Recentemente fiquei muito mexido com os irmãos Dardenne, pela forma como fazem uso da dilatação do tempo, com os personagens respirando em cena, atuações não tão mecanizadas, eficientes e sem ser sintéticas. Acompanhar o andar dos personagens é muito importante. Vi todos, mas O Filho (2002) foi o que mais me marcou, acho. Walter Carvalho me introduziu ao Bela Tarr, cinema de imagens, fruição de cenas, sustentação do tempo cinematográfico, fiquei muito impressionado. Almodóvar e Tarantino são também obrigatórios.
Qual é o filme que você gostaria de ter feito?
Não sei, depende muito do que me pega e me interessa – compartilhando aqui uma reflexão. Vim dos curtas, e ali tem essa trajetória, já integrava a narrativa com o jogo de linguagem para passar a sensação dos personagens. No longa o jogo é muito mais complexo. No curta você narra, e o instigante é passar a sensação, e é suficiente. É possível segurar o interesse por 15 minutos tranquilamente. Agora, em 90 minutos, é outra história, tem que ter personagem. Uma hora e meia de atenção é a trajetória de uma pessoa e sua projeção nessa trama. Se quer seguir essa trilha e jogo de linguagem em primeiro plano, há os que acertam muito e também aqueles que erram feio. Aronofksy é um cara que admiro, assim como Michel Gondry, adoro Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), pois ali ele entrega para o espectador uma comédia romântica perfeita, mas também com um grau de experimentalismo total. Memória de uma pessoa está em jogo, e fazer a experimentação a partir disso é muito interessante. Na maioria dos filmes dele, no entanto, acabo gostando das imagens, mas não vejo como longa, talvez curta… é um videoclipe. Bons exemplos são seus últimos filmes, que possuem apenas um fiapo de roteiro, mas são visualmente interessantíssimos: Sonhando Acordado (2006) e A Espuma dos Dias (2013). Não tem um texto que sustente. Cada um com sua linguagem, fique bem claro, mas não procuro emular esse tipo de cinema. No entanto, compartilho desse desejo por uma jornada emocional que possibilite romper com o tradicional e propor uma nova narrativa. Tempo dilatado. Se filia nesse aspecto do cinema contemporâneo.
Qual filme recente você recomendaria?
Tenho visto muita série de tv, acho que os filmes americanos de super-herói estão dominando os cinemas, e muito do material dramático adulto migrou para a televisão. True Detective (2014), por exemplo – o que é a atuação dos dois protagonistas? Já vimos 200 duplas assim, e o que eles fazem com a complexidade dos personagem é incrível. Fiquei vidrado! House of Cards é outro, muito bom, combinando narrativa com atuação. E é do David Fincher, um cara que fez A Rede Social (2010), com tantos atores, tanto texto, e de forma impecável. Esse é um bom filme.
Se a sua vida fosse um filme, qual seria o título?
O que sinto hoje – vou tentar achar um título – dá muito trabalho. Acho que A Jornada Continua é bastante apropriado. Cinema é isso.
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