Nico Rossini é um dos idealizadores do Festival de Cinema Italiano no Brasil, evento que em 2024 chega à sua 19ª edição. Vale destacar que a programação irá até o dia 08 de novembro em diversas telonas localizadas Brasil afora e também via streaming no site https://festivalcinemaitaliano.com/ – todas as exibições, tanto as presenciais quanto as on-line, são totalmente gratuitas. Desde o começo do evento em 2005, Nico é um dos seus diretores, alguém que foi expandindo assuas conexões institucionais com o mundo do cinema.
Nico Rossini foi Diretor da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura, atuou como CEO em empresas italianas e norte americanas em países como Irlanda, Bélgica, Canadá, Itália e algumas nações africanas e do Oriente Médio. Atualmente é sócio diretor de uma editora e de uma empresa de feiras. Conversamos remotamente com Nico para saber um pouco mais da sua perspectiva a respeito de elementos importantes do evento. Entrevistado sorridente, receptivo e muito simpático, ele falou sobre desafios, passado e futuro. Confira!
Imagino que, mesmo com quase 20 anos de existência, um festival com esse tamanho é sempre desafiador. Quais são os principais desafios que persistem ano após ano?
Olha só os meus cabelos brancos (risos). Nem sei por onde começar, Marcelo (risos). Há um desafio que sempre me tira o sono, que é o da noite de abertura. E depois da pandemia ficou ainda mais. No auditório onde fazemos a abertura há espaço para 800 pessoas. Se der 801 já dá problema. É normal haver desistência, mesmo de pessoas que confirmamos. Mas também não podemos ter lugares vazios, ainda mais porque sempre há muita procura por ingressos.
E já teve alguma situação peculiar envolvendo a abertura?
Em 2019, o Murilo Rosa era o nosso mestre de cerimônias. Na manhã da abertura, o cônsul italiano da época foi ao programa televisivo Bom Dia São Paulo e falou do evento. Bom, à noite, para encurtar a história, ficaram entre 250 e 300 pessoas de fora. Nunca havia acontecido isso. Como diretor do festival fui me desculpar com quem não conseguiu entrar. Mas você não faz ideia de o quanto me xingaram (risos). Você não tem ideia, de verdade. Ainda tenho pesadelos com aquele dia (risos). Te contei isso, porque tudo em torno desse momento específico é desafiador em virtude das variáveis. Para ter 800 pessoas na sala preciso ter 1600 confirmações.
E acredito que a seleção, a viabilização dos filmes também seja sempre uma aventura…
Sim, com certeza. E aqui é preciso dizer que a Érica Bernardini, a nossa curadora, é maravilhosa. Ela obviamente está sempre em busca dos melhores filmes possíveis. Nem sempre é uma tarefa fácil, sobretudo agora que temos as versões presenciais e on-line. É uma equação difícil. É como equilibrar pratos numa apresentação de circo. E cada produtor com quem falamos tem anseios particulares. Há três anos temos um acordo com a Pandora Filmes para facilitar esse processo. E você sabia que é maior a dificuldade de negociação para a projeção nas salas do que para a exibição em streaming?
Sério? Sempre imaginei que a maior dificuldade era conseguir autorização para ser exibido gratuitamente no streaming…
Pois é. Nós também não entendíamos isso direito. Conversamos muito com o André Sturm, nosso parceiro da Pandora, para compreender essa situação. O distribuidor ganha dinheiro de acordo com os ingressos de cinema. Tenho a tese de que essa maior facilidade para autorizar a exibição no streaming é porque os distribuidores veem no streaming quase uma publicidade, a possibilidade de atingir um público que depois vai ajudar quando o filme chegar por aqui comercialmente.
O festival cumpre há quase 20 anos a tarefa de renovar o interesse do público do Brasil, país com mais de 30 milhões de descendentes de italianos, pelo cinema da Itália. O evento ajuda a fortalecer esse laço, não é?
Quando começamos, a ideia era mostrar o cinema italiano contemporâneo. Todo mundo conhece os grandes mestres do passado, mas pouca gente tinha contato com o cinema italiano feito naquele momento. Me dei conta disso e fizemos um acordo com o Ministério da Cultura da Itália para viabilizar o festival. Pensamos justamente em atingir os milhões de descendentes de italianos. Falava-se muito na época de turismo de raízes. E eu era presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura. Mais tarde, por conta da pandemia, recorremos ao streaming e com isso ampliamos o nosso público. No fim das contas, queríamos com as exibições on-line divulgar a cultura italiana por meio de um cinema reconhecido no mundo inteiro por sua criatividade e genialidade.
Quando você olha para trás e observa essa trajetória de quase 20 anos, enxerga um legado? A missão está cumprida?
Uma missão nunca está cumprida, há sempre coisa a fazer e pensar. É como começar a trabalhar uma terra. Você prepara o solo, planta as sementes e está continuamente trabalhando para ela dar frutos. O Brasil é grande, a cultura italiana é importantíssima. E temos de sempre falar também para além dos 32 milhões de descendentes italianos imediatamente ligados a essa cultura. Não é missão cumprida, pois sempre temos algo a fazer. Neste ano temos uma novidade no Rio de Janeiro, uma sessão com um filme especial. Então estamos sempre pensando. Estamos negociando com as entidades responsáveis pelo Festival de Cinema de Gramado para fazer uma semana de Festival Italiano dentro do Festival de Gramado. Há sempre coisas a fazer. Nunca me sinto satisfeito. Contente, sim. Satisfeito? Ainda não.