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Como não confiar em Mateus Solano?

Publicado por
Robledo Milani

mateus solano PAPO DE CINEMA

Nascido em Brasília, Distrito Federal, no dia 20 de março de 1981, Mateus Solano Schenker Carneiro da Cunha – ou apenas Mateus Solano, como ficou nacionalmente conhecido – se tornou antes popular na televisão, para depois, aos poucos, ir conquistando o cinema. Seu primeiro trabalho de destaque foi como Ronaldo Bôscoli na minissérie Maysa: Quando Fala o Coração (2009). Antes, no entanto, vinha chamando atenção de um público específico em programas especiais, minisséries e, principalmente, na websérie Mateus, O Balconista (2008), que circulou pela Oi TV, Canal Brasil, Play TV, Mix TV e Super Mix, além de ter gerado o filme Vida de Balconista (2009). Seu primeiro passo importante na tela grande, no entanto, foi sob o comando de Walter Salles em Linha de Passe (2008), drama premiado no Festival de Cannes. Depois vieram A Novela das 8 (2011), em que interpretava um personagem homossexual – ainda antes do Félix, que defendeu na novela Amor à Vida (2013) e fez história por protagonizar o primeiro beijo gay em horário nobre da televisão brasileira – e agora está de volta em cartaz com o suspense Confia em Mim (2014), ao lado de Fernanda Machado. Foi durante o lançamento deste último trabalho que o ator conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!

 

Você poderia falar um pouco sobre o Caio, seu personagem em Confia em Mim?
O Caio tem problemas, isso é certo. Eu não sou médico, portanto não posso definir exatamente qual seria o diagnóstico dele. Mas é um sociopata, um psicopata, alguém muito problemático, com certeza. Falta nele aquela parte de se importar com o outro, de pensar no próximo. Não é um vilão convencional, daquele que busca o mal do outro, que quer derrotar um inimigo. Ele busca, mais do que tudo, o próprio bem, quer ter suas vantagens, e não se importa em como consegui-las. Essa ausência de culpa o tira de uma postura maquiavélica, pois na verdade o que faz é um sintoma, faz parte de uma doença maior. É um cara sem sentimentos de culpa, que se aproveita das inseguranças que percebe nas mulheres, da falta de autoestima que identifica nessas vítimas. É um cara observador, esperto, mas que se acha mais inteligente do que é na verdade.

Mateus Solano em cena de Confia em Mim

O seu personagem passa por dois momentos distintos em Confia em Mim. Como foi compor estes dois lados da personalidade do Caio?
Isso é engraçado, porque ele, enquanto personagem, não muda. É a percepção que as pessoas tem a respeito dele é que é alterada, quando ele finalmente se revela. Ele não muda de opinião… o que quero dizer é que desde o início suas intenções – ao menos para ele – são claras. Não mostra uma outra cara, portanto. É que dependendo da mulher com quem começa a se relacionar, que ele escolhe para aplicar seu golpe, sua característica fica mais evidente ou não. Mas não usa disfarces, está ali de cara limpa, e o dinheiro destas mulheres que aproveita ele ganha através da confiança que vai conquistando. Não é um roubo assumido, é somente uma mentira. Ele não tem medo de ser preso. E o filme trabalha justamente nessas lacunas, que vão sendo preenchidas pelo espectador.

 

Confia em Mim foi filmado antes da novela Amor à Vida. Nos dois trabalhos você fez parceria com a atriz Fernanda Machado. Como é trabalhar com ela?
Foi um grande barato. A Fernanda é uma amiga muito querida, alguém que gosto e admiro muito. É uma atriz muito dedicada, que já conhecida do cinema, de vê-la em Tropa de Elite (2007). Foi maravilhoso poder conhecê-la pessoalmente. Nosso primeiro trabalho juntos foi justamente o Confia em Mim, foi durante estas filmagens que fomos nos entrosando, nos conhecendo de verdade. Quando veio a novela, então, foi só alegria. É bom quando podemos desenvolver um jogo de cena com quem confiamos, e além disso tudo havia também o Michel Tikhomiroff, o diretor, que sabia muito bem o que queria com os personagens. A orientação dele foi fundamental.

Mateus Solano e Fernanda Machado em Confia em Mim

Sua estreia no cinema foi em Linha de Passe, do Walter Salles, e logo depois veio o A Novela das 8, que são seus trabalhos mais conhecidos na tela grande até então…
Até agora, né? (risos) Muitos outros virão, com certeza. Sou apaixonado pelo cinema, o bichinho me mordeu. Linha de Passe foi o meu primeiro contato com o cinema, era muito novo – ainda sou, na verdade. Tenho muito o que aprender. Cada vez que assisto a um dos meus filmes sigo estudando, observando o que posso melhorar, analisando postura, entonação de voz. Enfim, tudo. E é preciso ter esse tipo de olhar na construção do ator de cinema, que é um intérprete diferente do teatro ou da televisão, por exemplo. É um meio muito específico. São sutilezas próprias, exigências particulares. O meu ofício é atuar, não importa onde ou quando, mas é preciso estar preparado. O que me encanta são os novos desafios, o diferente.

 

Além do Confia em Mim, você está também em O Menino do Espelho, que passou há pouco no Cine PE. O que pode adiantar sobre esse trabalho inédito nos cinemas?
É um filme que tenho um carinho enorme. Estava muito ansioso para assistir, e a recepção em Recife foi ótima, o pessoal realmente entendeu nossa proposta. Fiz esse filme há mais de um ano e ainda não tinha visto, acredita? É uma história infanto-juvenil, adaptada de um livro do Fernando Sabino. O li umas duas, três vezes. É muito bom. Eu interpreto o pai – apesar de sempre ter me imaginado como o menino (risos). A mãe é a Regiane Alves, que também foi uma ótima parceira. Fiquei bem feliz de participar desse projeto. Sabemos que, às vezes, o resultado e o processo são duas coisas completamente diferentes, então temos que ver ainda como o público irá reagir, mas as expectativas são as melhores. A previsão é que estreie no dia 04 de julho, ainda neste ano, então vamos ver.

O que você acredita que o público irá encontrar em Confia em Mim?
O espectador que for ao cinema e assistir ao Confia em Mim irá encontrar, antes de mais nada, uma história envolvente que irá lhe prender a atenção. É uma obra de entretenimento, o filme está redondo, o diretor sabia exatamente o que queria. Você fica preso aos acontecimentos, não há barriga no roteiro. É uma boa diversão. E, para os mais sensíveis – ou mais abertos – há uma enredo que não se costuma encontrar toda hora. É interessante porque esse cara que faz o mal, também provoca o bem, pois é através dele que a protagonista fica mais viva e esperta. Há uma lição aí. É uma mensagem de não se deixar levar somente pelas aparências, acredito. São algumas reflexões interessantes, um filme que diverte e entretém.

(Entrevista feita por telefone direto do Rio de Janeiro em 8 de abril de 2014)

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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