Rafael Tombini é gaúcho de Porto Alegre, mas seus trabalhos no cinema estão começando a conquistar o mundo. Após pequenos papéis em alguns longas de Carlos Gerbase e em uma série de curtas-metragens, em 2012 ele viu dois filmes seus ganharem as telas quase que simultaneamente: Contos Gauchescos, de Henrique de Freitas Lima, e Porto dos Mortos, de Davi de Oliveira Pinheiro. Esse último principalmente, chega às telas após percorrer vários festivais ao redor do mundo e ter recebido entusiasmados elogios de fãs e críticos. Foi sobre estes dois projetos, sobre como é ser ator no Rio Grande do Sul e sobre seus próximos personagens que conversamos nessa entrevista inédita e exclusiva para o Papo de Cinema. Confira!
Como foi a sua estreia no cinema?
Aconteceu em 2002, quando estudava teatro com o Zé Adão Barbosa no TEPA – Teatro Escola de Porto Alegre. Lá fui convidado para atuar em um curta de um colega que estudava na Famecos – Faculdade dos Meios de Comunicação, na PUCRS. O filme foi rodado em 16mm se chamava Joca. Foi uma experiência inesquecível, um sonho que se realizou. Logo em seguida o Fabiano de Souza, que dava aula de roteiro, me chamou para um teste e acabei sendo aprovado para participar do curta Cinco Naipes (2004), que no ano seguinte veio a ganhar 4 kikitos no Festival de Gramado.
Como tem se desenvolvido o trabalho de ator de cinema no Rio Grande do Sul?
No Rio Grande do Sul temos excelentes atores e atrizes. Acredito que ano a ano o mercado tem se desenvolvido. Hoje temos boas escolas de teatro, tem a RBS TV, com seu Núcleo de Especiais, que abriu um importante mercado para novos talentos. Basta ver a quantidade de gaúchos que hoje trabalham a nível nacional! Isso é reflexo de um mercado aquecido, e aponta para um futuro ainda mais promissor.
Não é toda hora que um ator gaúcho consegue lançar dois filmes nos cinemas no mesmo dia, como aconteceu contigo com as estreias de Porto dos Mortos e Contos Gauchescos. O que esse bom momento significa para a tua carreira?
Estou muito feliz com esse momento! Nossa, dois longas estreando no mesmo dia e um curta no projeto Histórias Curtas, na RBS TV, no mesmo mês, isso é muito gratificante para um artista! Mas o mais bacana mesmo foi receber uma ligação dos meus pais, cheios de elogios e se dizendo orgulhosos por terem me assistido na tela grande!
Você já trabalhou com diretores consagrados e também com novos talentos. E estes dois trabalhos que chegam agora aos cinemas são bons exemplos disso. O que os olhares de cineastas experientes, como Henrique de Freitas Lima, e de outros mais jovens, como Davi de Oliveira Pinheiro, podem representar para o desenvolvimento da sua técnica de atuação?
Cada diretor tem seu estilo peculiar de dirigir. Uns realizadores preferem ir até o fundo do roteiro com o ator, te passando referências. Alguns gostam de conversar, mas não ensaiam muito antes de rodar, por exemplo. Outros parecem que entram em cena contigo nos ensaios e nas filmagens. Para o ator é muito vantajoso poder absorver e ter a habilidade de filtrar tanta informação, convertendo em experiência e tranquilidade para aprimorar nossa técnica.
Em Porto dos Mortos você viveu seu primeiro protagonista num longa-metragem. Como foi lidar com essa responsabilidade?
Quando o Davi me ligou para dizer que me queria como protagonista do primeiro longa dele, não existia ainda um roteiro e nem menos um título! Existia um argumento de dois anos antes das filmagens, apenas. Confesso que fiquei um pouco assustado com tamanha responsabilidade, mas estávamos sempre em contato trocando informações, referências que o diretor curtia e outras dicas. Acredito que além dos livros que ele me emprestou devo ter assistido a uns 20 filmes preferidos dele, e em cada um havia determinada cena que ele acabava pedindo para que eu prestasse mais atenção. Bueno, havíamos nos preparado, mas quando o roteiro ficou finalmente pronto, lá pelo quinto ou sexto tratamento, e a data das filmagens começou a se aproximar, fiquei um pouco apreensivo. No primeiro dia no set de filmagem senti que a montanha russa estava partindo! Daí respirei fundo e pensei: vamos brincar! Foi uma experiência única.
Você acredita que o público brasileiro está preparado para olhar para o próprio passado em filmes mais tradicionalistas, como Contos Gauchescos e O Guri?
Tenho minhas dúvidas. Assim como acho que o gaúcho não está preparado para filmes culturalmente opostos da nossa vivência, o brasileiro em geral também não está. Claro que existe aquela pequena parcela de pessoas que se interessam, mas ainda assim é muito pouco ainda para o que o tema merece.
Quais seus próximos projetos na tela grande?
Estou finalizando um documentário que eu mesmo produzi. Será chamado Cine Brasília – A Resistência do Cinema de Calçada, sobre um dos últimos cinemas de rua ainda ativos no Brasil e que fica na minha cidade, Carazinho, interior do Rio Grande do Sul. Este foi um local onde passei meus domingos de infância e onde me apaixonei pelo cinema. Infelizmente, o cinema fechou suas portas justamente na última diária de gravações. Vai ser um filme lindo e emocionante, com inúmeros depoimentos de pessoas que fizeram parte dos mais de 50 anos de atividade daquela sala. No ano que vem estarei bem ocupado, também. Além da estreia de O Tempo e o Vento, longa do Jayme Monjardim no qual faço o personagem Pedro Terra, estarei no curta Eco de Longa Distância, do Pedro Zimmermann. Tenho mais um projeto de um documentário à nível internacional que ainda esta engatinhando, mas como tudo no cinema é paciência e perseverança, lá vamos nós!
(Entrevista feita em Porto Alegre no dia 07 de novembro de 2012)
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