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Mesmo que possua perto de 15 filmes em seu currículo, Arlete Salles é pouco aproveitada nas telonas, isso se tido no horizonte o seu talento maiúsculo. Por exemplo, ela ficou de 1975 a 2006 sem aparecer nos cinemas, desenvolvendo sua carreira como atriz nos teatros e nas telinhas. Figurinha carimbada de programas de sucesso, atriz recorrente nos palcos de grandes bilheterias, Arlete é uma artista ímpar que durante a pré-estreia de Crô em Família (2018) demonstrava expectativa, afinal de contas ainda não tinha conferido o resultado de seu trabalho. No filme, ela interpreta Marinalva, trambiqueira de marca maior, líder da família que tenta aplicar um golpe em Crodoaldo Valério. E ela dá conta do recado, encarnando alguém que vai às últimas consequências para colocar o seu plano maléfico em curso. Conversamos rapidamente com Arlete em meio à muvuca de gente que intentava cumprimenta-la antes da luz da sala se apagar e do filme ser projetado na telona. Confira mais este Papo de Cinema, no qual a veterana fala das armadilhas da comédia e de sua participação em Crô em Família.

 

Arlete, como foi entrar para essa família?
O convite veio do Marcelo Serrado, na noite da festa de aniversário do Daniel Filho. Ele chamou, dizendo que minha personagem seria maravilhosa. Claro que na hora já adorei ser convidada. Passou um tempo e finalmente chegou o dia. E, realmente, a personagem é maravilhosa. Aliás, acredito que seja a minha melhor no cinema. Tive muita alegria por causa dela. E outra coisa: tinha Tonico Pereira em cena como parceiro, fazendo o meu marido. Contracenar com o Marcelo também é um privilégio, porque ele tem uma composição maravilhosa, irretocável. Ele faz um Crô delicioso. Eu ficava encantada quando estava em cena com ele, porque seu personagem já está tão introjetado que aquilo sai como perfume. Ficava eu, de um lado, fazendo um esforço danado para levar a minha Marinalva, para tocar ela em frente, e, do outro, o Marcelo fazendo o Crô como se fosse uma seda. Vendo de fora, ficava a impressão de ser tão fácil. Mas claro que não é. Interpretar nunca é fácil.

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O que mais te chamou atenção no roteiro?
Me apaixonei pelo roteiro. Não conhecia o Leandro Soares. Ao ler, pensei imediatamente que estava diante de um grande comediógrafo. Tenho certo conhecimento de comédia, estou bem acostumada ali com o Miguel Falabella, com quem trabalhei muito. Portanto, aprendi a reconhecer o que é um bom texto de comédia. Fiquei encantada com Leandro. Cinema é um trabalho artesanal, é árduo, sem dúvida. Não pode ser mais do que 45 dias, dois meses, no máximo, porque realmente é muita pedreira (risos). Mas, é uma arte bonita. Hoje vou me ver pela primeira vez nesse filme. Claro, estou ansiosa e nervosa. Não sei como o roteiro ficou impresso na telona, mas, sem dúvida, estou muito feliz com a minha personagem.

 

A sua opção por esse trabalho tem a ver com uma vontade de se comunicar com um público amplo?
O desejo de qualquer artista é se comunicar com o maior número de pessoas possível, seja na música, na dança, no teatro, no cinema e, acredito, até nas artes plásticas. Mas, minha escolha não é conscientemente guiada por isso. Claro, o primeiro encanto do ator é o personagem. Marinalva é uma que qualquer atriz, ao ler o roteiro, ficaria encantada. É maluca, barraqueira, uma mulher sem a menor linha ou compostura. O fato dela querer dar um golpe no Crô gera situações bem interessantes. Vamos ver qual será a aceitação do público, e da crítica também (risos).

 

E a Marinalva vai dar um golpe no Crô, personagem querido, mas ela também é carismática…
A comédia é o grande álibi, ela justifica tudo. Por mais terrível que seja a personagem, se ela consegue divertir, as pessoas aceitam. Há o encantamento. A comédia é irresistível.

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E a sua parceria em cena com o Tonico Pereira?
Não sei se em novela, alguma vez, a gente já se encontrou, mas acho que não. Acredito que essa seja a primeira vez contracenando com o Tonico. Ele é um ator maravilhoso, comediante indiscutível, um colega gostoso, agradável de a gente conviver. Fiquei com saudade quando terminou o filme. Ele é um parceiro decente em cena. Comédia é um pouco perigoso (risos). Se você não tiver uma pessoa muito legal, isso até pode tirar alegria do seu trabalho.

 

(Entrevista concedida ao vivo, no Rio de Janeiro, em agosto de 2018)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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