O Curta Taquary é um evento que acontece anualmente na cidade de Taquaritinga do Norte, no Agreste de Pernambuco, e que estende a sua já tradicional atuação a outros municípios da região. A ideia é expandir a valorização de temas como a educação e a preservação ambiental por meio de processos audiovisuais e pedagógicos. Em 2023, o festival chega à sua 16ª edição, a ser realizada de 16 a 22 de março, reafirmando os compromissos comunitários dos quais não abre mão como fundamento de sua existência. Certamente, fazer acontecer uma programação como essa, que prevê a exibição 80 filmes, provenientes de 19 estados brasileiros, oito obras internacionais, além de atividades paralelas (algumas de formação), não é tarefa fácil. Trata-se de um trabalho em equipe coordenado por Alexandre Soares e Devyd Santos, incansáveis entusiastas do cinema e das causas que se tornaram os eixos temáticos do Curta Taquary. Para saber um pouco mais como se deu o processo da 16ª edição, que está prestes a começar, conversamos remotamente com Devyd Santos. O resultado você confere logo abaixo.
Quais foram os principais desafios prévios para fazer a 16ª edição do Curta Taquary?
Essa é a primeira edição totalmente presencial que fazemos pós-pandemia. Antes, tivemos duas completamente online e uma híbrida, a do ano passado. Não estávamos com ideia de fazer nada online neste ano, mas acabou que firmamos uma parceria com uma empresa especializada em Metaverso. Então, os dois filmes que abrirão o festival serão levados para uma ação no Metaverso. A principal bronca para fazer o evento neste ano foi a falta de repasse da verba estatal (nota da redação: o evento é contemplado em leis de incentivo). Estávamos com o evento bem desenhado, inclusive tínhamos a ideia de diminuir um pouco o recorte dos filmes para contemplar presencialmente o máximo possível de realizadores e realizadoras, mas a mudança de governo travou o repasse das verbas. Estamos fazendo o evento sem receber os recursos. Para você ter uma ideia, há duas semanas chegamos a ponderar se conseguiríamos fazer o evento. A sorte é que temos uma equipe massa que abraça a causa. Essa está sendo a principal bronca. Estamos há 24 horas do começo do evento, mas as atividades paralelas já começaram. Infelizmente, estamos atualmente trabalhando com cerca de 30% da verba necessária.
O Curta Taquary tem uma série de ações que ampliam o impacto da sua existência para além da sua promoção. Gostaria que você falasse um pouco desse compromisso de vocês.
Tentamos manter as parcerias do ano passado e agregar novas. Voltamos à Normandia, assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) em Caruaru, com mais de 100 mudas para plantio. Também mantivemos parceria com vários outros assentamentos da região, nos quais distribuímos e/ou plantamos cerca de 1000 mudas em parceria com a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento). São ações que garantem a existência do Curta Taquary durante o ano todo. Neste fim de semana, fomos a um sítio de um parceiro que recebeu mudas nossas no ano passado, bem como técnicos que auxiliaram com informações de cultivo. Quando chegamos lá nos deparamos com um jardim belíssimo, com árvores grandes e cuidadas, algo que nos emocionou bastante.
“Estávamos com o evento bem desenhado, inclusive tínhamos a ideia de diminuir um pouco o recorte dos filmes para contemplar presencialmente o máximo possível de realizadores e realizadoras, mas a mudança de governo travou o repasse das verbas. Estamos fazendo o evento sem receber os recursos”.
E como foi o processo de curadoria dessa 16ª edição do Curta Taquary? Algum assunto se impôs particularmente durante a seleção dos filmes para o festival?
Nos deparamos com muitos filmes bons, foram cerca de 700 inscritos neste ano. É um número grande, o que faz da tarefa de selecionar “apenas” 80 uma atividade árdua. A temática da preservação do meio ambiente, um dos eixos temáticos do evento, é sempre um foco que a gente tem ao selecionar os filmes. Também nos preocupamos em ter filmes que dialoguem com e/ou que sejam da região. Acredito que mais de 50% dos filmes do festival são do Nordeste. É uma forma de as pessoas se verem de modo público e movimentar a região. Como não tínhamos recursos para arcar com passagens, hospedagens e alimentação de tantos convidados externos, foi duplamente fundamental pensar nessa produção circunvizinha. Obviamente a qualidade é uma régua também. A seleção de filmes exibidos em grandes festivais mundo afora e que cuja exibição gostaríamos de proporcionar à nossa região.
Levando em consideração a visibilidade que o Curta Taquary teve com o âmbito online, vocês já estão prevendo reclamações pelo fato de o evento deste ano não ter uma versão online?
Muito, especialmente a falta que as pessoas vão sentir das conversas online. Remotamente, tivemos muitas interações legais com realizadores e realizadoras, que debateram nesses três anos os seus filmes e processos. Na nossa cabeça teríamos condições de receber essas pessoas presencialmente, mas a realidade não pôde ser assim. Já estamos recebendo manifestações de gente que, antes mesmo de o evento começar, sente saudade da versão online.
E se você tivesse de indicar apenas dois filmes, dos mais de 80 do Curta Taquary, quais seriam?
Não faz isso comigo, não (risos). Temos muito filme bom, não consigo responder a essa pergunta (risos).
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