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Samantha Fuller caminha por aí com o sobrenome paterno. Quem não é cinéfilo dificilmente o ligará à pessoa. Foi a filha de Samuel Fuller, um dos grandes diretores americanos, criador prolífico a partir dos anos 1940, quem apareceu das primeiras fileiras do cinema da Livraria Cultura, em São Paulo, após a sessão de A Fuller Life (2013). Durante a rápida conversa que teve com o público, a sala permaneceu inalterada, próxima à lotação. Muitos visivelmente desconheciam a obra do diretor, mas ficaram impressionados com a inspiração transmitida em tela.

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Samantha Fuller em São Paulo

Fiz o filme sobre um homem”, disse Samantha, “que foi meu pai e cineasta.” O documentário de 80 minutos acerta ao revelar o caráter do inquieto sujeito que se transformará no diretor de Pickup on South Street (1953) e White Dog (1981). A obra cinematográfica é o resultado do garoto que, com 16 anos, insistiu para ser repórter policial, profissão que considerava a mais interessante do mundo. Do terno impregnado de formol e das constantes visitas ao cemitério, alistar-se como solado para a 2ª Guerra Mundial foi um passo, uma sensação que ultrapassava a obrigação e acabava por ser a busca pelas histórias a serem contadas. Histórias que produziu sem parar até o final da vida.

Foi há pouco”, revelou a filha, “que encontramos em seu escritório vários roteiros não filmados e pedaços de filmes ainda não exibidos.” Inspirado na autobiografia A Third Face, o filme intercala a leitura de amigos e admiradores com imagens da produção de Sam. “A escolha dos nomes e dos trechos foi simples”, comentou a diretora, “todos os participantes” (entre eles Wim Wenders, William Friedkin e Monte Hellman) “são próximos da família e escolheram a passagem que mais os interessava.” A Fuller Life é um filme extremamente simples, quase artesanal. “Fiz pensando em minha filha, na neta que não conheceu o avô”, resume.

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Cena de A Fuller Life, de Samantha Fuller

Samantha subestimava o próprio sobrenome. Imaginava que o filme se restringiria a alguns amigos e não cogitava exibi-lo em festivais. A experiência, porém, despertou o gosto pelo ofício. “Penso em produzir mais”, afirma sorridente, mas sem adiantar se seguirá no documentário ou tentará a ficção. Para os fãs de Fuller, fica a torcida irrestrita para que a moça leve adiante os roteiros prontos do pai e divulgue a preciosidade do material até agora não lançado, impedido pelas distribuidoras.

(O Papo de Cinema é um veículo oficialmente credenciado na 37° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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