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A italiana Carolina Raspanti tem Síndrome de Down, mas isso não a impediu de se tornar uma escritora renomada, uma voz importante, inclusive, pela insurgência natural contra os preconceitos e o obscurantismo. No seu primeiro papel nos cinemas, em Dafne (2019), ela tem um desempenho luminoso, se colocando nesse lugar de resistência diante dos chavões pejorativos referentes à sua condição. No Papo de Cinema que você confere a seguir, ela falou conosco acerca da experiência de estrelar o seu primeiro filme, das barreiras a serem quebradas quando o assunto são os portadores de Síndrome de Down e da dinâmica cinematográfica que lhe era uma completa novidade. Dafne chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 19, pela Pagu Pictures, depois de passar pela Mostra :: 8 ½ Festa do Cinema Italiano 2019, com o recurso de audiodescrição que o torna acessível a pessoas com problemas de visão ou dificuldades para ler legendas. Confira a nossa entrevista exclusiva com Carolina Raspanti.

 

Carolina, primeiramente, parabéns por seu trabalho. O que mais lhe atraiu na oportunidade de interpretar a Dafne?
Antes de tudo, quando o diretor Federico Bondi me propôs fazer o filme, fiquei bastante intrigada, especialmente com o que acontece por trás das câmeras. Depois, decidi fazer porque acreditei nesse projeto imediatamente. O Federico me inspirou confiança desde o primeiro momento. Até por isso me joguei de cabeça no projeto.

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Sua relação com o Antonio, seu parceiro em boa parte das cenas, é muito bonita. Trabalhar com esse ator tão experiente facilitou o processo da sua estreia no cinema?
Bem, certamente. Conheci o Antonio antes mesmo de interpretar a personagem. Apesar de eu não ser uma atriz, trabalhar com Antonio foi muito bom, principalmente porque ele me estimulou a fazer o meu melhor. Foi uma honra contracenar com ele.

 

O quanto de Carolina há em Dafne? Houve algo que você achou importante levar de si mesma para a personagem?
É uma mistura. Dafne é Carolina, Carolina é Dafne. A personagem é bastante parecida comigo na realidade, na verdade é bem igual em muitos aspectos. Certamente, esse processo me enriqueceu tanto, me fez amadurecer muito pessoalmente. Isso é o que trago comigo.

 

Você escreveu livros autobiográficos e agora debuta numa nova forma de expressão artística. Como te pareceu o processo do cinema?
Bem, certamente é complicado, mas para mim foi uma experiência maravilhosa, maravilhosa mesmo. Me diverti muito. Me senti como uma diva, uma genuína estrela de cinema naqueles momentos. Foi uma jornada que não esquecerei pelo resto da minha vida.

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A representação de pessoas com Síndrome de Down nos cinemas ainda é pequena e muitas vezes estereotipada. Que contribuição você acredita que a Dafne dá para quebrar isso?
A mensagem que a Dafne passa é a de não cair, nunca desistir. É necessário quebrar todos esses estereótipos e preconceitos. E o mundo de hoje infelizmente está cheio deles. Não devemos ser tão influenciados pelas coisas que as pessoas nos dizem.

 

A experiência com Dafne fez você desejar fazer novos filmes, permanecer utilizando o cinema para se expressar e contar histórias?
Obviamente, mas por enquanto não quero ter outras experiências como essa (no cinema), mesmo gostando muito. Tenho outros projetos em mente, como o de terminar de escrever meu terceiro livro que fala, justamente, sobre a experiência do filme, vista de fora, como Carolina.

 

(Entrevista feita por e-mail em setembro de 2019)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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