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Dani (Débora Falabella) sofre com crises de ansiedade desde a infância. Apesar do talento evidente desta jovem escritora, ela enfrenta dificuldades para produzir seus textos e manter relacionamentos amorosos. O tema poderia dar origem a um melodrama, no entanto, Depois a Louca Sou Eu (2019) prefere abordar as questões com bom humor.

No livro de origem, Tati Bernardi detalha sua própria experiência com a baixa autoestima e a sensação de angústia, detalhando os inúmeros tratamentos e medicamentos que testou ao longo da vida. Entre os efeitos adversos de um remédio e as sessões bizarras de terapias alternativas, foi encontrando um lugar na sociedade e aprendendo a conviver com os sintomas.

Depois a Louca Sou Eu é dirigido por Júlia Rezende, uma especialista das comédias dramáticas depois de Ponte Aérea (2015), Um Namorado para Minha Mulher (2016) e a série Coisa Mais Linda (2019 – 2020). No entanto, Débora Falabella não enxerga o projeto enquanto comédia. A atriz nos explica o porquê nesta entrevista exclusiva:

 

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Débora Falabella em Depois a Louca Sou Eu

 

Foi você quem tomou a iniciativa de interpretar a personagem. O que te interessou na Dani?
Quando eu li, eu me identifiquei na hora, porque ela é uma personagem muito contemporânea. Isso vem como herança do livro da Tati e da maneira dela de ser: existe um despudor de falar de si mesma, de suas angústias e seus medos. Isso ainda é pouco praticado dias de hoje. Ultimamente a gente tem quebrado alguns padrões e tabus sobre o tema, e me interessou interpretar essa mulher. Quando eu falei para a Tati que estava interessada, foi de forma muito despretensiosa. Achei as situações do livro maravilhosas, e pensei que dariam um bom filme, porque são passagens deliciosas de ler. Mas nunca imaginava que o filme fosse acontecer realmente. Quando eu sugeri, era só uma ideia.

 

Você chegou a fazer pesquisas com psicólogos para compreender estes distúrbios?
A gente tinha um roteiro que já demonstrava muito bem a construção da personagem. O texto tinha essa personagem bem escrita, que vinha de um livro onde ela já era muito forte. Mesmo assim, quanto a gente começou a preparação, fomos sim conversar com psicólogos para entender o efeito desses remédios e essas terapias. Eu não conhecia alguns dos tratamentos, como a Constelação Familiar, por exemplo. Fui a uma sessão para conhecer, e também procurei ter contato com diversas terapias, enquanto pesquisei as reações aos remédios. Fora isso, esta personagem é bastante atual, então podemos nos identificar com várias pessoas ao nosso redor, que usei como inspiração.

 

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Tinha algum receio de abordar o tema por meio do humor?
Não. Isso vem do próprio tom do livro. Afinal, a escritora tem autoridade para falar a respeito porque passou por todas aquelas situações. A maneira como a Tati vive isso demonstra grande distanciamento, que permite a ela escrever dessa maneira. Eu não tenho a natureza da comédia tão forte em mim, por isso, não sei compor personagens de outra maneira, sem ser pensar no material como não sendo uma comédia. São as situações absurdas que trazem o riso: a comédia vem do contexto, não da personagem. A gente não queria fazer graça daquilo. No roteiro, as situações eram engraçadas por si mesmas, e enquanto atriz, eu nunca quis fazer graça.

 

Como acredita que o filme se relaciona com outras comédias populares?
É engraçado você descrever assim, porque eu não acredito que seja uma comédia. Eu vejo como uma dramédia, ou algum gênero híbrido – o filme se encontra num lugar diferente. Talvez ele seja pop e bem-humorado, numa linguagem que permite chegar a um número maior de pessoas nas pessoas. Mesmo assim, não consigo vê-lo no lugar da comédia, porque ele não é feito para despertar o riso o tempo inteiro, e sim para despertar a identificação com o espectador. Por isso, tem a diferença das comédias assumidas como tais.

 

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O período da pandemia tornou a ansiedade muito mais próxima de nós.
Agora, acontece maior identificação com este tema. Percebi uma forte identificação com a história da Dani: as pessoas estão mais ansiosas neste momento, e atravessam essa fase há um ano pelo menos. Quem não está angustiado deve ser negacionista, porque não dá para ficar tranquilo. O filme ocupa esse espaço de acolhimento, quando as pessoas estão mais abertas para falar sobre o tema. A Dani tinha indícios destas questões na mania por limpeza, por exemplo, na falta de traquejo pessoal em situações públicas. Vivemos isso agora, ficando fechados, enclausurados em casa. O filme conversa diretamente com a nossa vida.

 

Tem recebido respostas de pessoas que sofrem destes problemas, desde a exibição na Mostra de São Paulo?
Como não estamos lançando o filme no cinema, eu não consigo acompanhar muito bem a reação do público. Mesmo assim, recebi na coletiva de imprensa a resposta de muitas mulheres jornalistas, porque este filme é bem feminino. A gente tem recebido uma resposta muito boa em termos de identificação. Fiz entrevistas individuais com muitas mulheres jornalistas que conseguiram se enxergar na história. Elas diziam que se viam em tal cena, que aquela história contava um pouco delas mesmas. O lugar da identificação é lindo para o ator, porque é quando as pessoas se sentem acolhidas. Pelo pouco que o filme foi exibido, tanto o público jovem quanto adulto o acolheu muito bem.

 

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Como enxerga o lançamento no atual momento?
Esse filme precisava ser lançado. Não é o momento ideal: é claro que a gente gostaria de lançar quando as salas estivessem cheias, mas estamos nos adaptando. É complicado lançar um filme neste momento, quando é difícil mobilizar as pessoas e gerar curiosidade. As pessoas que estão indo às salas de cinema e respeitando os protocolos podem ficar tranquilas, mas para os demais, o filme logo vai estar no streaming. Precisamos nos preocupar em manter as salas de cinema e o sistema de produção dos filmes, porque o sistema já está muito abalado. De qualquer modo, hoje a trajetória de um filme é muito mais rápida entre as salas de cinema e o streaming. O importante é falar sobre o filme, para que as pessoas o descubram e o vejam.

 

Você gosta de se ver em tela? Alguns atores têm receio de assistir à versão final.
Depende do caso. Neste filme, eu tinha tranquilidade no set, eu tinha liberdade com a direção e com os outros atores. Eu estudei muito a personagem, trabalhei bastante, e isso me despertou segurança. Na hora de assistir ao filme, posso dizer que ganhei com esses 20 anos de cinema a maturidade suficiente para não me criticar tanto. Aquilo é um registro, já foi feito, não dá para ser modificado. Confiei muito na Júlia. Além disso, este é um filme de montagem: o ritmo é fundamental. Consegui assistir enquanto espectadora, sem julgamentos. É claro que nem sempre os trabalhos são acertados, a gente não pode conviver achando que vamos ficar feliz com tudo o que fazermos. Os fracassos também são importantes. Mas tenho ficado tranquila com o que tenho visto ultimamente.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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