Segundo o próprio, em sua página oficial, “Rafael Cortez é ator, palhaço, músico e jornalista”. E, a partir de agora, também dublador. Afinal, é dele uma das principais vozes da versão nacional da nova produção dos Estúdios Disney, a animação Detona Ralph. O longa, que já faturou quase US$ 300 milhões nas bilheterias de todo o mundo e foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Animação, narra as aventuras do personagem de videogame Ralph, o vilão do jogo Conserta Felix, que busca ser reconhecido por suas qualidades. Cortez dá vida ao personagem-título do jogo, Felix, que vê sua própria existência em risco com a rebeldia do colega e se vê obrigado a ajudá-lo nesta jornada de autoconhecimento. No final de 2012 o Papo de Cinema conversou com Rafael Cortez sobre as dificuldades desse trabalho inédito em sua carreira, sobre suas expectativas com essa nova atividade e sobre o que mais lhe atraiu no universo dos desenhos animados. Confira!
Olá, Rafael, tudo bem? Vamos começar falando sobre o desafio de recriar um personagem, através da dublagem, que já veio dos Estados Unidos pronto. Como foi essa busca por uma identidade que falasse com o público nacional?
Foi um processo muito legal e divertido. Estou num momento extasiado, de grande alegria. É delicioso chegar ao final do ano, após cinco anos do CQC – Custe o Que Custar, com toda essa energia e boas vibrações! Mesmo dentro da minha não-rotina, faço sempre as mesmas coisas, mas isso foi algo completamente diferente. Trabalhar com a Disney, que é uma empresa muito grande e exigente, exigiu de mim uma postura e um comprometimento completamente diferente de tudo o que eu havia feito até então. O nível de profissionalismo foi imenso. Teve momentos em que achei demais, foi doído, difícil, muito complicado. Teve situações em que quase cheguei a desistir, simplesmente por achar que não conseguiria. O registro esperado era muito mais alto do que a minha voz alcançaria. Mas no final tudo compensa. Hoje vi o filme pela primeira vez, e foi quando finalmente percebi no que eu estava metido. É algo que ficará para sempre. O cinema te imortaliza. Estou emocionado!
E tendo finalmente visto o filme pela primeira vez, o que achou dele?
Adorei, achei divertidíssimo, tem uma pitada de humor muito bacana. A Disney está se atualizando, e isso é super importante. É uma história que consegue se comunicar com os mais diversos públicos. Rich Moore, o diretor, trabalhou por anos com Os Simpsons, isso já é demais. E, modéstia à parte, fiquei muito orgulhoso com o meu trabalho. Foi legal e importante sair da minha zona de conforto. Ficou diferente, divertido, envolvente. Não tem tecnologia, manipulação, efeitos de pós-produção – é só a minha voz, e pronto! Quase não tenho atuado devido ao meu envolvimento com o programa de televisão, então foi muito bom retomar essa paixão. E agora está lá no meu currículo de ator, com muito orgulho. Fiquei mais crítico, to mais dentro do processo, e o saldo foi muito positivo.
Você é conhecido nacionalmente pela participação no CQC, que é um programa sempre envolvido em polêmicas. E agora está num produto bem familiar da Disney. Como foi essa mudança?
Foi maravilhoso, um passo que há muito tempo esperava dar. Não faz parte de um fato isolado. Há cerca de uns dois anos venho adaptando meu trabalho no CQC e nos palcos, onde tenho meu show de humor, para chegar a um lugar mais confortável, mais democrático. Não que busque a unanimidade, mas ainda assim mais tranquilo. Quero ser um contraponto aos meus colegas da tevê. Quero ficar 30 anos, e não apenas cinco, em cena. Isso acabou refletindo na Disney, que é uma empresa super agregadora. Significa que este meu esforço está funcionando. Gosto do humor, mas daquele tipo no qual todo mundo pode rir junto. Tá longe de ser algo simples e banal. Vou seguir sendo politicamente incorreto, mas o diferencial é a inteligência, e não a agressão. Não sei quais foram os critérios dos produtores para terem me chamado, mas penso que eu este personagem somos parecidos, e por isso que funcionou. Me identifiquei bastante com o Conserta Felix!
Você, além de repórter e apresentador, é também ator. Mas essa sua faceta é pouco conhecida do grande público. Como lidar com todas estas paixões?
Sempre fui um cara inquieto, ansioso, daqueles que não consegue ficar parado por muito tempo. Sou partidário da politica de fazer muitas experiências, pois todas elas te oferecem algo. Daí a gente vai somando. Nunca fui só jornalista, ou só ator. Sempre fui um pouco de cada. Já fiz de tudo para poder sobreviver. Hoje a situação está um pouco melhor, felizmente (risos). Mas isso também está assim porque há um bom tempo eu sou só trabalho. Não gosto de dirigir, não tenho tempo para namorar, não tenho filhos… só trabalho, gosto de somar referências com o meu trabalho. Mas, em comum, é que todas estas atividades são expressões de palco, de arte, de produção cultural e criativa. Não consigo me ver, por exemplo, trabalhando num escritório, em contabilidade, ter que bater cartão-ponto, todo dia a mesma coisa. Na aula inaugural do curso de jornalismo tive a sorte de contar com o Serginho Groisman como palestrante, e lá naquela ocasião ele já falava sobre isso. Somos afortunados de estarmos numa profissão em que é possível ser bem sucedido sem gostar de acordar cedo, em que é possível fazer o que quiser. O que busco é estar envolvido com um trabalho que me dê qualidade de vida. Não quero ser convencional. Por isso que participar de um longa de animação como Detona Ralph pra mim é ar, um respiro.
Como foi o processo de dublagem na versão brasileira de Detona Ralph?
A equipe da Disney no Brasil, seguindo um padrão internacional, é muito exigente. Os diretores sempre me deixaram muito claro o que deveria ser feito. Não havia muita criação da minha parte, era uma tarefa sem improvisação. Era uma ditadura, onde o meu toque pessoal só seria possível com muito esforço, e dentro de uma mesma métrica, numa única composição. Tem que ter o registro, é fundamental sincronizar do modo correto cada fala com o gesticular do personagem. Minha zona de conforto era uma voz mais grave, que é a minha. Mas o Felix é mais histérico, então tive que me guiar por aí. O diretor estava o tempo todo, foi um grande apoio e conseguimos desenvolver uma parceria que foi fundamental para o resultado ter sido tão bom. Muito profissional.
O seu personagem é tipo o vilão da história. Foi mais fácil ser o bandido ou foi preciso ter alguns cuidados?
Tudo é uma questão de ponto de vista, não é mesmo? No jogo do Conserta Felix, eu sou o Felix! Ou seja, sou o mocinho, o Ralph é que o vilão! E o Felix é todo feliz, bem arrumado, bonito, simpático, carismático. Por isso que me escolheram (risos)! E o Tiago (Abravanel, que dubla o protagonista Ralph) é gordo, tem a cara feia! Então eles combinam! Mas sem brincadeiras, a história de Detona Ralph transmite uma mensagem muito importante sobre aceitação, sobre respeitar as diferenças. E não há mocinhos ou vilões, eles são personagens condicionados a fazer sempre as mesmas coisas que percebem que é preciso mudar. E por mais complicado que o Felix ache isso no começo, lá pelas tantas ele decide ir atrás do Ralph e ajudá-lo, pois percebe que estão todos juntos neste processo. É muito bonito, e fiquei muito feliz em fazer parte disso.
Outros nomes conhecidos do elenco de vozes nacionais de Detona Ralph são o Tiago Abravanel e a Marimoon. Vocês chegaram a gravar juntos, houve algum tipo de preparação em conjunto?
Não, o trabalho é todo individual. A gente se encontrou agora, para as fotos de divulgação e para assistirmos ao filme juntos. E é impressionante perceber como tudo fica perfeito, as vozes todas casadinhas com os personagens. A dublagem brasileira é uma das melhores do mundo, a própria Disney reconhece isso. Por isso a nossa responsabilidade era tão alta, assim como nosso comprometimento.
Detona Ralph estreia no Brasil agora no começo de janeiro, mas o que você pode adiantar para os fãs e curiosos?
É uma mega produção da Disney, muito caprichada, com um humor negro muito inteligente que eu, particularmente, gosto bastante. Foi tudo muito bem feito. Creio que as crianças – e também os adultos, é claro – irão gostar demais de Detona Ralph. Não é porque fiz parte, mas levaria meus sobrinhos para assistir sem nenhum receio. O resultado final tá muito legal e acho que vai ser um sucesso. To muito feliz de estar imortalizado num DVD da Disney!
(Entrevista feita por telefone direto de São Paulo em 27 de novembro de 2012)