Ainda que seja uma coprodução brasileira, Diamantino (2018) é inteiramente ambientado em Portugal e tem entre seus diretores o norte-americano Daniel Schmidt. O filme, que já está em cartaz nos cinemas brasileiros, é estrelado pelo astro português Carlotto Cotta e cria uma aventura fictícia – e bastante crítica – para o maior jogador de futebol do mundo, um Diamantino pensado bem aos moldes do craque Cristiano Ronaldo. Premiado no Festival de Cannes, na França, no Cine Ceará, aqui no Brasil, e no Festival da Filadélfia, nos Estados Unidos, o longa é o mais recente produto da parceria de Schmidt com Gabriel Abrantes, o segundo nesse formato, que teve início com a estreia dos dois em Palácios de Pena (2011). Em passagem pelo Brasil para divulgar o novo trabalho, o cineasta conversou com exclusividade com o Papo de Cinema, e revelou detalhes sobre o projeto. Confira!
Você e o Gabriel Abrantes trabalham juntos há um bom tempo. Essa é uma parceria antiga. Como se dá o trabalho entre vocês?
Não pensamos demais. Somos bons amigos. Começamos oito anos atrás, e sempre nos pareceu natural o trabalho entre nós. Já colaboramos com outras pessoas, mas conosco é muito tranquilo. Nos encorajamos. Termos a oportunidade fazermos filmes é um privilegio, mas também muito difícil. Funciona para nós, no entanto, pois é o que nos ajuda a manter o espírito vivo. Um está sempre motivando o outro. Fazemos tudo juntos, direção, roteiro, tudo. Não dividimos as tarefas. Gabriel é muito bom em efeitos especiais, eu sou um pouco melhor em revisar diálogos, por exemplo, mas são questões específicas. Na maior parte do tempo, é tudo muito dividido.
Diamantino teve sua primeira exibição no Brasil durante o Cine Ceará, e na ocasião o produtor brasileiro afirmou não era intenção de vocês fazerem uma analogia a pessoa do Cristiano Ronaldo. No entanto, há muitas similaridades entre o protagonista do filme e o astro da seleção portuguesa.
É mais ou menos isso. Diamantino foi baseado em diversas celebridades. De Madonna a Michael Jordan. E , claro, entre eles, o Cristiano Ronaldo. Queríamos que o personagem se parecesse com um jogador bonito que posasse para capas de revistas, e não há muitos assim. David Beckham era uma ideia, mais como um predecessor. Atualmente, seria o Cristiano Ronaldo. E a questão da nacionalidade, por ser ele português, e o maior jogador do mundo hoje em dia, a analogia se faz pressente, é claro. Mas há muitas outras referências, também. A personalidade do personagem, por exemplo, não foi inspirada no jogador real. Não somos familiares dele, nunca o encontramos, não sabemos como ele é ou como se comporta. O que temos pegamos de revistas, entrevistas. O Diamantino é muito mais ingênuo, infantil, digamos.
A ideia original, aliás, era bem diferente, não? Como surgiu Diamantino?
Houve muitas versões anteriores. Em algum ponto, deveria se passar no Brasil, e o protagonista seria um herdeiro, um socialite que adotaria alguém do Haiti, logo após o terremoto. Mas isso foi oito anos atrás, mais ou menos. Durante esse processo, muitas coisas foram mudando. Outros exemplos, como um cantor, ou um Kardashian, nos EUA. A questão do jogador de futebol, em Portugal, acabou nos parecendo interessante. Foi algo criativo, um aspecto que nos permitiria explorar sobre outros aspectos. Foi só por isso.
Diamantino foi premiado no Festival de Cannes. Como foi a passagem por lá?
Foi ótimo. Estávamos muito nervosos, Não nos demos conta que teria esse tipo de recepção. O publico riu o filme todo. Nunca tinha nos acontecido algo assim. Uma reação tão vívida. Foi uma experiência única. E o festival é tão prestigioso. Foi um filme tão difícil de fazer, e foi muito intenso isso tudo. Ter essa oportunidade de mostrá-lo, e ainda ser premiado. Nos ajudou muito. Ficamos muito confiantes.
E em Portugal, o filme já foi exibido? Como tem sido a recepção dos portugueses?
Ainda não, ocorreram apenas algumas sessões especiais. Passou em alguns festivais, muitos de temática LGBT. Comercialmente, somente em 2019. Não estive lá, então o que sei chegou até mim por outras pessoas, mas o retorno tem sido ótimo. No Queer Lisboa, por exemplo, foi incrível. Teve sessões extras, com lotação esgotada. Tem nos deixou muito feliz perceber essa conexão.
O protagonista Carloto Cotta teve alguma preparação especial para esse papel? Como foi o trabalho de vocês com ele?
Ele é muito talentoso, empenhado, dedicado, uma figura especial. Ele se preparou por conta própria. Desenvolveu o personagem, muitos cuidados com o corpo, o físico. Tivemos um personal trainer com ele, até para a depilação. Ele fez tudo sozinho, e quando apareceu no set, foi incrível. Não apenas para o filme, mas também para elevar a moral de todos. Ele é muito engraçado. Foi ótimo trabalho com ele.
Futebol é um tema bastante caro aos brasileiros. Como vocês esperam que o público daqui receba Diamantino?
Não sei. Espero que seja ótimo. Nas exibições em Fortaleza, em São Paulo ou no Rio de Janeiro, tem sido muito bom. Acredito que atingir um público muito maior pode ser curioso. Futebol, Ronaldo… será que vai funcionar? Afinal, não é exatamente sobre Ronaldo, e nem mesmo sobre futebol. Quem for assistir somente por isso, pode ficar desapontado. Mas também pode ser uma boa surpresa. Descobrir algo novo. Se funcionar também no Brasil, vai ser muito bom. Independente do país, é claro.
(Entrevista feita na conexão Porto Alegre / São Paulo em dezembro de 2018)