Ian McKellen nasceu e cresceu no norte da Inglaterra e já foi homenageado com mais de 50 prêmios de atuação internacional durante mais de meio século de trabalho no palco e na tela. O ator é amado por fãs do mundo inteiro, em função de papéis como Magneto nos filmes da franquia X-Men e como Gandalf nas trilogias de O Senhor dos Anéis e O Hobbit. McKellen voltou no papel de Magneto em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014), que após ter arrecadado mais de US$ 740 milhões nas bilheterias de todo o mundo – consagrando-se como o mais bem sucedido de toda a franquia – está sendo lançado agora em home vídeo, em versão em DVD e blu-ray. E aproveitando a ocasião o Papo de Cinema revela essa entrevista inédita com o ator. Confira!
Você gostou de colocar o capacete do Magneto novamente depois de oito anos sem interpretar o personagem?
Sei que você está utilizando isso como uma metáfora, mas sendo literal, não usei um capacete nesse filme. Magneto usa um capacete para proteger seus pensamentos de Charles (Patrick Stewart). Ele pode ler mentes, mas não consegue ler o arquirrival justamente por causa do capacete. Neste filme Magneto não usa um capacete porque ele está trabalhando em parceria com os X-Men, então não tive que colocá-lo. Nem tive que usar o traje antigo, porque era um novo! Enfim, foi como voltar atrás, em um bom caminho, para velhos amigos – Halle Berry, Hugh Jackman, Bryan Singer, que também estava retornando à série… isso tudo foi muito bom, e sei que não acontece com muita frequência. Algo similar só mesmo em O Senhor dos Anéis. Tenho muita sorte. Não penso neles como franquias. Penso como uma história contínua.
Voltar a fazer X-Men é como fazer um longo filme?
Como nos quadrinhos, cada filme conta a mesma história – que é o argumento entre Professor X e Magneto sobre o que fazer quando se é um mutante. Você é um mutante por causa de seus poderes e você é um mutante aos olhos da sociedade por causa da visão dessas pessoas. O que você faz sobre isso? Você pode combatê-lo de forma agressiva, o que seria a ideia de Magneto, ou procurar o entendimento, que é o que defende o Professor X. Mas essa é a menor parte da história neste novo filme, porque eles estão trabalhando juntos. É interessante, pois os dois se juntam e você percebe que ambos são interdependentes.
A história envolve viagens no tempo. Se você pudesse voltar no tempo, mudaria algo em sua vida?
Na minha carreira, não. Nada aconteceu de acordo com o planejado, embora eu tivesse uma espécie de plano. Mas não esperava que fosse tão agradável e gratificante. Entre 250 trabalhos, fiz apenas dois que não gostei. Sou um ator muito feliz. Pessoalmente, quando jovem, gostaria de ter percebido o quanto eu era atraente. Quais vantagens poderia ter tido com isso, quem sabe? Eu não era tão extrovertido quanto poderia ter sido. Acho que todos os meus arrependimentos nessa área são principalmente a ver com ser gay e ser a época em que era ilegal ser gay. Isso é ridículo, mas foi constrangedor e difícil. Não queria me roubar a alegria de sair e ser honesto e desfrutar da companhia de outras pessoas que estavam em suas próprias jornadas. E por ter passado por isso, por mais difícil e cruel que tenha sido, hoje é maravilhoso. Sinto que, embora rejeitado pela sociedade, tenho ajudado a mudar isso.
Já houve um momento em sua vida que foi tão comemorativo a ponto de você ser obrigado a abrir um champanhe?
Bom, na verdade, não gosto de champanhe, portanto essa não seria a primeira coisa que faria! Mas muitas vezes, quando chega o dia e o casamento gay está nos livros de leis e você vê as fotos no jornal e vê que seus amigos estão se casando, quando isso acontece, é quase anticlímax. É um momento emocionante. Lembro-me do contrário a isso, de quando estávamos tentando mudar as coisas [sobre o casamento gay] no Parlamento. Você está na Câmara dos Comuns, assistindo o voto e sua vida vai mudar para melhor se pessoas suficientes passarem por aquela entrada. Isso é de parar o coração e o desespero quando isso não acontece é enorme. É preciso ter muita esperança para que isso aconteça. É como se você estivesse pronto para receber um Oscar, tem que acreditar que vai ganhá-lo para que possa fazer um discurso decente. Então, quando não recebe, o que normalmente acontece, você fabricou uma situação que, então, tem que desmontar. E isso é muito difícil. Eu apenas estou tentando pensar em uma emoção absoluta na minha vida. Suponho que, se você ficou de joelhos e disse: “Quer casar comigo?“, E eles disseram, ‘Sim’, então abriria o champanhe.
Como foi se reunir com Bryan Singer como diretor nesse filme?
Sou um grande admirador e fã do Bryan, e do fato de ter feito mais filmes com ele do que qualquer outro ator – o meu primeiro foi O Aprendiz (1998). Então fizemos dois X-Men, fiz uma pequena contribuição para Jack: O Caçador de Gigantes (2013), e acabei de fazer mais um. Ele amadureceu muito bem, mas é eternamente jovem por dentro e sempre entusiasmado, interessado, opinativo, além de ser uma ótima companhia, muito generoso e um grande anfitrião. Ele me levou a um jantar em Washington. O presidente deixou um pouco da formalidade de lado e fez um discurso engraçado. Foi maravilhoso. Você está sentado na sala com vários jornalistas, e logo ali atrás de uma corda vermelha está o presidente dos Estados Unidos. Não tem como não nos maravilharmos. Quando me viu, disse: “grande ator”. Eu praticamente fiz uma reverência!
Deve ser muito raro você ser tiete, não?
Você não pode estar interessado em política e não estar interessado em Barack Obama, não é? Fui à sua tomada de posse e fiquei muito feliz em fazer isso. Não acho possível se acostumar a conhecer uma pessoa famosa que você admira. Quando as pessoas estão esperando fora do palco para me ver, nos dias de hoje querem uma ‘selfie’, você coloca o seu braço em volta deles e descobre que estão tremendo. Você não deve tomar isso como algo pessoal, porque pode ter uma ideia errada sobre si mesmo, mas é um grande momento para as pessoas quando veem que se fez carne uma imagem que estão familiarizados e que gostam. Bem, sou assim mesmo. Seria exatamente o mesmo, se fosse encontrar Brad Pitt ou qualquer pessoa. George Clooney eu adoraria conhecer e estou certo de que seria como um tiete.
Você se identifica com o personagem Magneto?
Você tenta se relacionar com cada personagem que interpreta. Como se relaciona com alguém que pode controlar metal? Bem, usa a imaginação de quando era uma criança, que ainda está lá em algum lugar e então joga o jogo. A urgência de suas emoções – que podem se relacionar por pensar que é injustamente condenado ao ostracismo. Com a história de Magneto no primeiro filme você vê um exemplo de discriminação que muitas pessoas possam se relacionar, porque ele está em Auschwitz. Você o vê separado de seus pais e essa é a primeira vez em que ele lida com o metal, quando, dobram-se os portões. Esse tipo de coisa é o que faz com que essas histórias se tornem fantasias maravilhosas; Magneto descobre seus poderes quando está angustiado com os maus tratos que seus pais sofrem pela autoridade. Isso é o que os leva [os poderes] para fora dele. Bryan sempre foi claro sobre isso quando me pediu para fazer os primeiros X-Men. É uma metáfora gay. Não é apenas uma história de fantasia, e não apenas colocando em trajes extravagantes. Trata-se de algo maior.
Você parece estar abraçando as mídias sociais atualmente…
Estava contanto ao pessoal da Fox que quando colocam algo no site deles e eu coloco no meu, mais pessoas leem no meu site, pois tenho dois milhões e meio de seguidores no momento!
Você realmente gosta de mídias sociais?
Eu me interesso por publicidade, o por quê das pessoas irem ver a um filme, uma peça de teatro, por quê leem determinado livro ou assistem a um programa de TV. Você pode alterar isso? Pode fazer com que as pessoas façam algo que, caso contrário, não fariam? A única coisa que faz vender um livro, uma peça de teatro ou um filme é o boca a boca. Com as mídias sociais é isso que você está fazendo. Isso é boca a boca, e não estritamente uma publicidade. Posso falar com quem e quando quiser. Isso me parece fazer mais sentido. É um pouco mais honesto. Não gera confusão. Falo algo pra alguém e esse alguém ouve; são as palavras diretamente da fonte. Mas, como pessoa, não sou muito das mídias sociais. Levei meu celular para a América, onde tenho ido fazer algumas peças de teatro na Broadway durante meses, e meu telefone não tocou uma vez. Não fiz uma chamada nele. Sou um dinossauro.
Então você não é muito bom com tecnologias?
Existe alguma nostalgia positiva sobre um momento em que você queria ligar a televisão, foi em direção a ela, a ligou e a imagem apareceu. E então, você se pega em uma situação em que a TV não é sua. Não sei o que pressionar! Esses dias atrás, quando voltei para a minha casa, minha assistente há sete anos estava lá e eu disse: “Pouco antes de você ir, Ruby, você pode me mostrar como liga a televisão?” E ela pegou o controle remoto e ligou.
(Entrevista cedida com exclusividade para o Papo de Cinema pela Fox-Sony Pictures Home Entertainment)
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