Ela começou no cinema já fazendo barulho: foi protagonista de Olga (2004), longa baseado na obra de Fernando Morais que lhe rendeu uma indicação como Melhor Atriz no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – o Oscar da produção nacional – e foi selecionado para representar o Brasil no Oscar daquele ano. Mas Camila Morgado já tinha mostrado sua força, primeiro como uma das moradoras da Casa das Sete Mulheres (2003), minissérie da Rede Globo, e vivendo a mítica Cacilda Becker em Um Só Coração (2004), outra produção da emissora. Depois vieram outras novelas, especiais de televisão e seriados. A volta à tela grande só se deu quase uma década depois, com o campeão de bilheterias Até que a Sorte nos Separe 2 (2013), quando foi chamada para substituir às pressas Danielle Winits no papel de Jane, a esposa do protagonista vivido por Leandro Hassum. De lá pra cá, mais comédias – Até que a Sorte nos Separe 3 (2015), fechando a trilogia, e Bem Casados (2015), ao lado de Alexandre Borges. A ousadia só voltou a aparecer em 2017, com nada menos do que três filmes confirmados – e outros dois engatilhados. O primeiro foi o drama Vergel, exibido na mostra competitiva do 45º Festival de Gramado. E ainda tem o thriller O Animal Cordial, que será exibido no Festival do Rio, além do drama Albatroz e de Domingo, novo longa de Fellipe Barbosa. No meio disso tudo, teve Divórcio, comédia de humor negro que chegou há pouco aos cinemas. E foi sobre esse trabalho que tivemos uma conversa inédita e exclusiva com a atriz. Confira!
Divórcio é um filme que chegou às telas com grandes expectativas. Ele, inclusive, tinha uma data de estreia anterior, que acabou sendo alterada. O que aconteceu?
Na verdade, a gente ia lançar em junho, e parece que gostaram muito do resultado e optaram por fazer um lançamento maior. A distribuidora quis sair com mais cópias, e por isso foi adiado para setembro. O que achei ótimo, particularmente. É um filme tão bem feito, uma comédia tão legal, muito divertida, que merece esse cuidado.
É uma comédia, mas de humor negro. Me lembrou muito do A Guerra dos Roses (1989)…
E é bem por aí, mesmo. É um filme de comédia, mas tem muita perseguição de carros, ação e tal. E tem uma cereja do bolo, ao meu ver, que formos tê-lo filmado em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Nós falamos com aquele sotaque do povo de lá, que surgiu naturalmente, não tá forçado. É bem carregado porque é assim mesmo que se fala naquela região. A gente fala daquele jeito mesmo. Foi uma delícia fazer. E Ribeirão é um cenário muito lindo, aproveitamos os canaviais… realmente usamos bastante da cidade.
Como foi essa logística?
A gente se mudou pra lá, ora. Ficamos morando lá, durante todo o tempo das filmagens. Não tem muito filme sendo feito naquela região, né? Então falamos, vamos realmente aproveitar tudo isso que está ao nosso dispor. O filme é todo de locação, quase nada foi feito em estúdio. A boate, por exemplo, que eles vão, é uma de lá mesmo, da cidade. Quando entramos na casa noturna, nos demos conta que não precisava de cenografia, não tinha que trazer nada: ela já estava pronta! Essa coisa de termos feito tudo em Ribeirão ajudou muito na composição dos personagens.
E quem são esses dois, a Noeli e o Julio?
É um casal que se conheceu lá mesmo. Os dois enriqueceram com uma receita que fizeram em casa. Ela é a rainha do molho de tomate, olha que delícia! (risos) A fábrica é ali perto de Ribeirão Preto, também, a gente foi filmar nela mesmo. Isso foi muito legal.
Como surgiu essa parceria com o Murilo Benício? Pois além desse filme, vocês estão juntos também n’O Animal Cordial, que é ainda inédito.
O Murilo é incrível. Ficamos amigos, é claro. Já tinha muita admiração por ele, é um puta ator. Ele é maravilhoso, um dos melhores que a gente tem. Inteligente cenicamente, divertido, engraçado, tem uma vibe muito boa de interagir.
E é um artista nada acomodado. Se você olhar para a filmografia dele, perceberá uma vontade grande de estar sempre alternando entre o drama e a comédia…
Sim, com certeza. Ele é bem eclético. Mais do que isso, é bem excêntrico, também. Quando diz que gostou da história, é “vamos” sem olhar para trás. Ele faz qualquer coisa. O que você pedir, o Murilo faz. O que é maravilhoso. Foi ótimo trabalhar com ele, que venham muitos outros filmes para dividirmos.
E essa proposta de um humor mais ousado do Divórcio? Vocês não ficaram em nenhum momento receosos? Do tipo “será que não estamos pegando forte demais, será que o público vai entender”?
Isso é bem coisa do Pedro, o diretor. Ele que nos dizia: “pode ir, vá mesmo”. Ele gosta muito dos irmãos Joel e Ethan Coen, foram uma referência muito forte. Tínhamos essa vibração em mente, era o caminho a ser seguido. Até por que a gente não tem muitos filmes nesse estilo. Então, era só ir por aí que iria dar certo. E a gente acreditou, fomos mesmo, e ficou muito legal. Tudo que vi, gostei muito!
E o que você pode adiantar de próximos projetos?
Acabei de filmar o Albatroz. Esse acho que é um drama, escrito pelo Braulio Mantovani, com o Daniel Augusto dirigindo. E digo “acho” porque é bem diferente de tudo que já fiz. O Daniel dirigiu antes o Não Pare na Pista (2014), a cinebiografia do Paulo Coelho, e esse é o segundo trabalho dele. É um filme que vai deixar o espectador com vários finais possíveis, cada um poderá escolher o seu. Você não vai identificar “ah, então era isso”. Cada um escolherá o seu fim. O que acho muito interessante. É bem diferente. Você não sabe se o personagem fez parte realmente, se foi cobaia de um experimento neurocientífico, ou se é um personagem de ficção criado por outro. Isso é muito interessante. E vou filmar, em novembro, o Domingo, que é o próximo do Fellipe Barbosa, o mesmo do Casa Grande (2014), com roteiro do Lucas Paraizo. Então estou vivendo esse momento, que de uma hora para outra comecei a fazer um monte de filmes, e tá sendo muito bom.
(Entrevista feita ao vivo em Gramado em Agosto de 2017)
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