Muita gente associa prontamente Maria Paula ao Casseta & Planeta. Também pudera. Foi exatamente na trupe, com Bussunda e companhia, que essa brasiliense de nascimento surgiu para o Brasil como uma figura carismática, além de muito bela. No cinema, sua filmografia é ainda relativamente curta. Estrelou Casseta e Planeta: A Taça do Mundo é Nossa (2003), Casseta e Planeta: Seus Problemas Acabaram (2006), De Pernas pro Ar (2010) e De Pernas pro Ar 2 (2012), antes de encarar o seu maior desafio nas telonas: Doidas e Santas (2015). No filme dirigido por Paulo Thiago, baseado no best-seller homônimo de Martha Medeiros, ela encarna a sua primeira protagonista, uma mulher de cenho franzido, com severas dificuldades para abrir-se às possibilidades fora de seu círculo vicioso. Conversamos com ela logo após a sessão para imprensa do filme que chega no próximo dia 24 aos cinemas. Maria Paula esbanjou simpatia e externou suas preocupações quanto a acolhida do público. Confira.
Você é reconhecidamente uma pessoa bem humorada. Como interpretar Beatriz, essa mulher sisuda, contida?
Foi o maior desafio da minha vida. A Beatriz tem nada a ver comigo. Não poderia haver uma personagem mais diferente da Maria Paula. Mas isso também é uma alegria. A essa altura, com mais de 25 anos de carreira, sentir frio na barriga por ter um desafio desse tamanho é privilégio para poucos. Então, realmente foi muito bom. Melhor ainda porque a Beatriz é tão distante de mim. Posso me reinventar, assim como ela se reinventa na carreira, na relação com a família, no trabalho. Tive essa chance no filme. E eu estava muito bem acompanhada. Nicette Bruno? Fala sério. O que é Georgiana Góes em cena?
Vocês possuem uma química…
Rolou uma química, mesmo, uma parceria verdadeira. Isso, sem dúvida alguma, me ajudou horrores, porque o desafio ali foi grande.
Deu um friozinho na barriga por interpretar a sua primeira protagonista no cinema?
Estou é grudada no teto, nem digo mais que é só frio na barriga (risos). Estou apavorada. Que nervosismo. Estou praticamente histérica, à beira de um ataque de nervos (risos).
A Beatriz tem alguma coisa a ver com a Maria Paula por conta da proatividade, de ser multitarefas?
Ah, nesse sentido temos tudo a ver. Acredito que a mulher brasileira, em geral, por exemplo, assume a criação dos filhos, sem negligenciar o lado profissional. Ainda tem isso de querer se reinventar, estar bonita, se relacionar, ter amigos, alegrias e diversão. É muita coisa para fazer, mas a gente dá um jeito e acaba conseguindo. Realmente, Beatriz e eu estamos no mesmo barco.
Já que a Beatriz passa por intensas transformações, você se preocupou com a gradação emocional da personagem?
Um desafio gigante do cinema é filmar fora de ordem. No primeiro dia, filmamos a cena da iguana, já no segundo um episódio triste. A fim de construir um arco dramático verdadeiro, para mostrar as intenções e, no final, aquilo se tornar verdadeiro ao público, é uma complicação. O processo exige muita concentração do ator, do diretor, da equipe toda. É uma das magias do cinema. Quem está assistindo não imagina a trabalheira, toda a preparação para realmente imprimir verdade, para tornar críveis as aventuras que você está vivendo.
Nesse processo do cinema, alguma coisa é chata?
O mais chato é ter um período muito curto para filmar. No caso de Doidas e Santas foi um mês e pouco. Outra coisa, o trabalho começa às 5 da manhã, não pode estar de olheira, e termina 10 horas da noite e tem uma folga por semana só (risos).
Parece vida de jornalista.
É uma exaustão, bem como vida de jornalista, mesmo (risos). Quando termina o processo, você precisa ir direto para um spa, ficar quietinha um pouco. Outra coisa chata é que os filhos ficam realmente carentes. Não há o que fazer, porque é preciso foco, não há tempo nem para ver eles. É imprescindível contar com apoio da família. Graças a Deus tenho uma irmã, a Cinira, que me ajuda demais quando estou nessas incursões cinematográficas. O coração fica partido, porque a gente não consegue dar atenção.
Doidas e Santas está finalizado desde 2015. Como foi essa espera?
Nossa, foi contando os minutos para chegar logo o dia de estrear. Mas, claro, com paciência, porque isso é uma coisa da produção. Confiamos muito, eles sabem quando lançar. Nós passamos por um período de incertezas no país muito forte, então não fazia sentido ficar com pressa, sendo que não sabíamos como o mercado reagiria a todas essas mudanças. Acredito que foi prudente ter aguardado e agora, se Deus quiser, vai ser a hora certa.
O grande público te conhece do Casseta & Planeta. Como lidar com essa expectativa por conta da sua mudança de rumos?
É apavorante (risos). Estou desesperada. As pessoas estão acostumadas a me ver na caricatura. Beatriz é séria, contida até para abraçar. Será que as pessoas vão acreditar na Maria Paula numa situação tão diferente? Então, dá medo, muito frio na barriga. Mas há a alegria de poder se reinventar, de ser principiante de novo. Poxa, um papel dramático desses? Sou novata nesse universo. É um privilégio isso de, nesse momento, pensar: será que eu consigo? Será que vai dar certo? Será que eles vão acreditar em mim? É difícil, não vou mentir, estou apavorada, mas também emocionada de ter essa oportunidade.
E o bichinho do cinema te picou? Deixou a Maria Paula viciada em fazer cinema?
Total! Fiquei viciadinha. Se Deus quiser, vou ser chamada para vários filmes. É um encanto, uma magia. Estou absolutamente apaixonada pelo cinema.
(Entrevista concedida ao vivo no Rio de Janeiro em agosto de 2017)