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Roberto de Oliveira era empresário da cantora Elis Regina em 1974. Portanto, na época ele agenciava a carreira de uma das mais importantes figuras da música brasileira. Percebendo que estava diante de um evento histórico ao testemunhar a gravação do icônico disco Elis & Tom, Roberto montou uma pequena equipe cinematográfica para registrar os bastidores da parceria entre a Pimentinha e Tom Jobim, então um dos compositores mais renomados do mundo. Depois de décadas guardando essas imagens preciosas, decidiu tirá-las do baú e fazer Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você (2023), documentário que entrelaça os registros remasterizados do passado com depoimentos atuais de testemunhas oculares dessa história – além de falas de herdeiros dos dois gigantes da música. O Papo de Cinema conversou com Roberto de Oliveira remotamente e o resultado dessa entrevista você confere agora.


Qual era o seu propósito inicial com as gravações feitas em 1974?
Fui lá para fazer o disco, pois era o empresário da Elis na época. Mas, também mexia com televisão e produzia shows. Logo imaginei uma maneira de registrar aquilo, pois sabia que a gravação do disco seria histórica. Sabia que seria difícil de fazer as tomadas, mas não tinha a menor dúvida de que estaria diante de algo histórico: a maior cantora brasileira da época e o maior compositor brasileiro, sucesso no mundo todo. Montei uma equipe nos Estados Unidos, dei a sorte de ter nela um fotógrafo brasileiro muito bom, o recentemente falecido Fernando Duarte, e também dei a sorte de ter meu grande amigo Jom Tob Azulay, que estudava cinema na UCLA e era vice-cônsul do Brasil em Los Angeles. Ele foi muito importante, inclusive fazendo o som direto, por isso assina como co-diretor.

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Como foi a dinâmica com a câmera nesse espaço reduzido de um estúdio de gravação, um ambiente criativo que não poderia ser perturbado?
A câmera estava quase clandestina por ali. Estávamos num espaço de música que exigia silêncio quase absoluto. Não havia margem de manobra para movimentação cinematográfica. Ao contrário do Let it Be (1970), dos Beatles, feito dentro da previsão de uma dinâmica tipicamente de cinema, o nosso caso previa que a câmera seria praticamente uma intrusa. O operador tinha de ficar num cantinho, se movimentando e respirando pouco (risos). Então, precisávamos passar despercebidos. O resultado é charmoso, pois as pessoas se esquecem de que estão sendo filmadas. Prefiro assim do que se estivéssemos com um enorme aparato que prejudicaria a espontaneidade.

E como se deu esse processo arqueológico de voltar às imagens e criar um discurso a partir delas?
Minha relação com essas imagens é estranha, às vezes até neurótica. Sou um acumulador de registros, ao ponto de sofrer quando percebo que o momento mágico de um show não está sendo gravado. Para mim não foi difícil guardar esse material e todo mundo pergunta o motivo de eu demorar tanto para utilizar as imagens. A verdade é que eu sentia que a história precisava amadurecer. Consegui agora enxergar tudo com distanciamento, me permitindo compreender as coisas de modo bem mais claro. Tom e Elis continuam por aí de maneiras muito fortes. O disco fez história, talvez seja o maior da música brasileira, e além disso é reconhecido no mundo inteiro. Achei que esse era o momento oportuno e senti um alívio enorme ao contar isso. Sinto-me muito mais leve agora.

Se você divulgasse essas imagens na época, talvez elas fossem meros apêndices do lançamento do disco. Vistas hoje, elas são outra coisa, né?
Essas imagens são muito fortes e as pessoas têm saído com sensações diversas do filme. Uma entre as mais comuns é a emoção. E é difícil emocionar num documentário. Então, é interessante perceber que o poder emocional dessas imagens não foi esgotado pelo decorrer do tempo. As pessoas lembram de uma época muito boa da música. Gosto da música atual, não quero aqui ficar criticando a de agora, mas ela é bem mais utilitária do que voltada ao aspecto artístico, ela é mais encarregada de cumprir missões. Naquela época as canções almejavam ser obras de arte.

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E como se deu a curadoria dos depoimentos, a escolha das testemunhas vivas e às vezes até mesmo oculares dessa história?
Produzimos muito material que até nem coube no filme. Uma das possibilidades é fazer um spin off em série, vamos ver como as coisa andam. Temos pessoas fundamentais entre os depoentes, de executivos emblemáticos da indústria fonográfica ao engenheiro de som norte-americano que então estava estreando e agora é um dos principais do mundo, um cara que trabalho com Madonna e Michael Jackson. Falamos também com familiares, filhos do Tom e da Elis, com os estrangeiros para ter o olhar externo. O que pretendia é que essa história fosse contada com fidelidade, sem esconder ou acrescentar coisas. Acredito que cumpri o objetivo de entregar um filme fiel aos acontecimentos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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