Com pouco mais de vinte anos de idade, Ansel Elgort já pode ser considerado um dos maiores astros de Hollywood da atualidade. E isso se deve, basicamente, a dois filmes: o drama romântico A Culpa é das Estrelas (2014) e a aventura distópica Divergente (2014). Com uma filmografia de mais de US$ 1,3 bilhão nas bilheterias de todo o mundo, o jovem galã encontrou mais uma vez o sucesso na comédia de ação Em Ritmo de Fuga (2017), do diretor inglês Edgar Wright. Pois foi acompanhado do cineasta que o ator veio ao Brasil – mais especificamente, a São Paulo – para o lançamento do novo filme por aqui. E entre premières surpresa junto aos fãs e entrevistas exclusivas, ele também concedeu uma coletiva especial para a imprensa nacional. E o Papo de Cinema foi um dos poucos veículos de outros estados convidados pela Sony Pictures do Brasil para acompanhar essa conversa, que a gente relata, agora, na íntegra. Confira!
Ansel, como foi realizar todas as manobras de Em Ritmo de Fuga? O quanto do que vemos foi você mesmo que fez? Você tinha um dublê?
Com certeza. O dublê era para as cenas mais perigosas. O estúdio nem me permitiria fazer algumas daquelas sequências. Mas treinei muito, pois adoro dirigir. Porém, por mais que tivesse tentado, não me deixaram fazer tudo o que queria. Acho que é porque não queriam que eu matasse, por acidente, o Jamie Foxx ou o Jon Hamm. Eles são grandes estrelas de cinema, você sabe.
Como foi sua relação com os dublês?
Estive muito próximo dos dublês, e muito do que eles fizeram eu participei do início ao fim. Afinal, tudo que era feito em cena, antes de mais nada, eu precisava aprender – ao menos na teoria. Mesmo se fosse outra pessoa dirigindo, pois eu tinha que ser convincente em minha atuação. Algumas vezes, nestes filmes de ação, você vê personagens fazendo coisas aleatórias no volante, que se prestar atenção irá perceber que não fazem o menor sentido. Aqui, não. Cada curva tinha que ser sincronizada com os meus movimentos dentro do carro, em perfeita sintonia. Era preciso ser autêntico, e quem gosta do universo dos carros irá notar esse cuidado que tivemos com os detalhes. Isso se espalhou por todo o filme, na verdade. Nós passamos um mês ensaiando, conhecendo nossos personagens. Muitos filmes não fazem isso, mas Edgar, nosso diretor, desde o início fez questão desta autenticidade, e embarcamos com ele neste propósito.
Você conhecia de antemão a trilha sonora do filme? Chegou a usar essas canções para viver o Baby?
Para você ter uma ideia, recebi a trilha sonora em 2013! Foi quando li o roteiro pela primeira vez e estava fazendo testes para ser o Baby na tela grande. Baixei as canções no meu iTunes, e cada vez que entrava no meu carro, querendo ou não, ele se conectava e começava a tocar. Isso foi super importante, pois a todo o momento, diariamente, ia ficando cada vez mais familiarizado com as canções de Em Ritmo de Fuga. E durante os testes para o papel, já tinha aquelas canções na minha cabeça. Mesmo dois anos antes de começarmos a filmar, o sentimento já era o mesmo, exatamente esse que vocês encontraram no filme.
Assistindo ao filme, percebemos que Baby tem um ritmo interno, ele dança e se move conforme a música com muita habilidade. Como você se preparou para esse tipo de exigência do personagem?
Pois então, o Baby tem uma coreografia própria, não é mesmo? Isso foi algo que providenciamos durante esse mês prévio de ensaios que tivemos, como comentei há pouco. Tive o prazer de trabalhar com um coreógrafo, o Ryan Heffington, que é muito conhecido pelos videoclipes da Sia, como o da música Chandelier, e ele é fantástico. As coreografias que cria dão a impressão que qualquer um pode fazer, de tão leves e orgânicas, como se você estivesse dançando em sua própria casa. Não é algo exagerado, ainda que, no final das contas, assim seja. Houve muito cuidado neste sentido. Edgar Wright e o Ryan trabalharam juntos comigo para que a gente criasse esses movimentos. Nem que fosse para algo rápido, como a cena do sanduíche, ou uma passagem mais elaborada, como a do café, logo no início do filme. Mas é importante dizer que comecei minha carreira no teatro musical, gosto muito de dançar, o que acabou se revelando natural para mim. Baby, também por este aspecto, sempre soou como um personagem que eu poderia fazer.
Você se inspirou em algum musical ou em algum dançarino em especial para compor o Baby?
Eu sempre fui grande fã e admirador do Gene Kelly. Ok, Baby não dança exatamente como o Gene Kelly, mas certamente foi uma referência. Afinal, Baby é um personagem que se movimento de um jeito muito especial, bem particular. Neste aspecto, acho que ninguém se move do jeito que Gene Kelly fazia, ela era realmente singular.
Em uma certa passagem de Em Ritmo de Fuga, mais próximo ao final, há uma clara citação ao clássico Blade Runner: O Caçador de Androides (1982). Essa foi uma brincadeira do diretor Edgar Wright ou você estava a par da homenagem?
Não tinha a menor ideia do que ele estava fazendo. Acho muito legal, é claro. Outro dia mesmo estávamos conversando sobre como esse filme, Blade Runner, é incrível, e como Harrison Ford está fantástico nele. Então, se algum dia o público gostar do Baby tanto quanto admira Blade, será fantástico! E tem mais uma coisa também: costumava, quando mais jovem, me apresentar como DJ, e o nome que usava nessas performances era An Solo (risos).
A música é quase uma religião para o Baby. Como você vê essa relação?
Definitivamente, a música é muito importante para Baby. Mas é interessante você falar isso, ainda mais se pensarmos que algumas das mais belas e emocionantes canções já criadas surgiram por motivos religiosos. Então, sim, é como se essa fosse a religião dele.
Teria algum momento curioso ou engraçado que aconteceu durante as filmagens que lhe marcou de algum modo especial?
Sim, claro. Citaria, principalmente, as cenas que tive que fazer junto com Jamie Foxx. Você sabe, ele passa a maior parte do tempo gritando comigo. Para mim, é o personagem mais assustador, mas também o mais engraçado do filme. E eu precisava ficar sério, quando tudo que queria era cair no riso – afinal, a maior parte dos diálogos dele eram puro improviso, e isso nos pega de surpresa, é muito engraçado. A solução que encontrei foi colocar, lentamente, a mão no bolso, e ir aumentando o volume do meu iPod, até o máximo. Assim, desse jeito, simplesmente não conseguia mais escutá-lo, exatamente como Baby faria.
Antes de Em Ritmo de Fuga, você participou de grandes sucessos, como o drama A Culpa é das Estrelas (2014) e a saga Divergente. Como você tem lidado com toda essa popularidade?
O que posso dizer? É incrível! (risos) Felizmente, minha namorada leva tudo isso na esportiva, então é tranquilo. Realmente amo os meus fãs, e tem sido um prazer enorme passar por tudo isso. Só esta vinda ao Brasil, por exemplo, já é algo fantástico. Por exemplo, nem deveria ter vindo junto para cá, sabia? Mas pedi aos meus seguidores no twitter que criassem um hashtag pedindo que eu viesse, e acabou funcionando! Estou muito feliz com tudo isso!
Como foi a transição de ser um ídolo romântico a um astro de filmes de ação?
Na real, é tudo a mesma coisa. Quando você é um ator, o que importa é o personagem, e não se ele está envolvido em uma história de amor ou em uma aventura. O que vejo de bom no Baby é que ele é uma figura com muitas facetas, e você não vê todas elas de imediato. É o tipo de personagem que é mais raro nos dias de hoje. Especialmente em filmes de ação. Ele é duro quando precisa ser, ou romântico quando necessário. Fiquei muito feliz de ter recebido essa oportunidade de trazer à tona as múltiplas facetas dele.
Nesse filme você atua ao lado de verdadeiras lendas, como Kevin Spacey e Jamie Foxx. Como foi essa experiência?
O melhor desses caras é que, ainda que sejam, mesmo, verdadeiros ícones, em nenhum momento cheguei a ficar nervoso por estar ao lado deles. E isso, obviamente, se deve ao jeito incrível que te tratam, sabe? São muito legais, companheiros de verdade. Lembro de chegar para os ensaios e já ficar hipnotizado pelo jeito do Jamie Foxx fazer as coisas. No final do dia, ele me convidou para ir à sua casa, queria ouvir a minha música, depois me chamou para um jogo de basquete… foi inacreditável. Já com o Kevin foi mais tranquilo, pois havíamos feito um outro filme juntos, o Billionaire Boys Club (2017), que foi filmado antes, mas ainda não estreou. E guardei ótimas lembranças a respeito de cada um deles. Mais do que a maioria dos outros atores com quem já trabalhei, para falar a verdade. Afinal, por maiores que sejam, é quase surreal perceber o quão generosos e atenciosos podem ser. Estávamos todos lado a lado, apenas nos ajudando para buscar o melhor de cada um. Eu amo esses caras, de verdade, e tenho muita sorte de poder chamá-los de meus amigos.
Pra finalizar: você tem alguma música favorita quando vai a um karaokê?
Com certeza: Easy, dos Commodores. Você pode imaginar a minha felicidade quando descobri que essa canção também estaria no filme. Se bem que, nos últimos tempos, tenho pensado em trocá-la por Never Gonna Give You Up, do Barry White. Você sabe, o ritmo é tudo! (risos)
(Coletiva realizada em julho de 2017 em São Paulo)
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